Imagine conhecer a história de uma cidade usando somente encartes de discos: ir de capa em capa, desvendando as décadas, subculturas, gêneros musicais. Essa foi a ideia central de 100 Discos para Conhecer Aguardela, livro do ilustrador Raphael Salimena e do editor Daniel Lopes, lançado pela editora Pipoca e Nanquim.
“Tive essa ideia de usar o formato de discografia para contar a história de um lugar e levei pro único editor que poderia encarar uma publicação dessas: o Daniel”, conta Salimena, sobre o processo de criação de seu novo livro, lançado no fim do ano passado. Segundo o ilustrador, a ideia nasceu de seu reencontro com a mídia musical física.
100 Discos para Conhecer Aguardela conta a história da cidade fictícia de mesmo nome. Ao longo das capas de discos, o leitor desvenda narrativas de personagens específicos, região e os acontecimentos históricos que formaram a localidade apresentada no livro. Para o ilustrador, funciona da mesma maneira que os textos presentes em encartes de discos de vinil.
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Durante um ano e meio de reuniões semanais, os dois foram traçando a história de Aguardela e decidindo a música que embala sua população, enquanto Raphael ia ilustrando as capas. “Nosso processo de trabalho foi delicioso. Reuniões semanais para conversar sobre música, referências e a condução da história”, conta Daniel Lopes, acrescentando: “Aguardela foi, aos poucos, tomando forma e ganhando vida própria: os personagens frequentemente se escreviam sozinhos, sem brincadeira”.
Além da história cultural deste ambiente fictício, as ilustrações de Raphael Salimena são pontos centrais do livro, trazendo muita personalidade e originalidade para o projeto. Afirmando que há, sim, “uma referência mais óbvia aqui e ali”, em relação à artistas reais, eles ficaram focados em como as capas representariam cada personagem.
“É importante salientar que o livro não é um exercício de referências. Claro que ele ecoa alguns artistas e capas reais que fazem parte do nosso repertório estético e criativo, mas não é necessário ter qualquer conhecimento sobre música para aproveitar Aguardela. Tudo o que você precisa saber para montar essa história está no próprio livro”, afirma Salimena.
Segundo Salimena e Lopes, o atrativo central de Aguardela está em sua tese: mostrar como a música conta a história desse local, da mesma maneira que ela conta a história do mundo em que vivemos. É como diz o ilustrador: “A arte que nos atrai é aquela que recompensa profundamente quem se dedica a ela, quem investe tempo e atenção para receber tudo que está ali. E gostamos de pensar que Aguardela é desse tipo: se quiser conhecer a cidade, é melhor tirar mais que alguns dias”.
“Salimena e eu planejamos muito a ordem de cada um desses álbuns e dos acontecimentos envolvendo os personagens para ser uma história coesa. Depois, inserimos paulatinamente as chaves de leitura para a compreensão e imersão de quem está lendo”, explica Daniel Lopes.
Ao longo das 100 capas, Raphael Salimena e Daniel Lopes constroem esse mockumentary de Aguardela, trazendo inspirações que vão de Roque Santeiro a Twin Peaks, passando pelas diversas referências musicais que os dois carregam. Com elas, o leitor consegue traçar esse quebra-cabeça, indo de peça em peça e conhecendo melhor cada pedaço dessa cidade.