Crédito foto: Victor Sá
Peri Pane é um cara de muitas facetas. Como jornalista, atende por Marcos D`Ávila. Para os colegas da PUC-SP, Lennon. Para os amigos de infância, Periquito. Pra gente é o performer e ativista Homem-Refluxo, cantor da banda Odegrau e um dos mais inquietos compositores desta geração. Vem cá descobrir porque.
O Fantasma da Light é o primeiro álbum da banda em 10 anos, não? Porque tanto tempo para gravar?
Peri Pane: Então, a gente brinca às vezes que é o best off, as melhores canções d’Odegrau. Têm músicas que até foram gravadas em rolo. Não que não existisse suportes digitais na época, mas era bem mais difícil. Aí, nesse meio tempo, várias músicas novas entraram e acabou virando um disco com 19 músicas. Só que com várias fases da banda.
E esse nome Fantasma da Light?
PP: O Fantasma da Light é assim: quando eu era pequeno, minha prima tinha um pianista vizinho que tocava de madrugada. E às vezes, a gente ouvia o som do piano nas madrugadas. Paralelamente, nossas mães falavam da Light, a companhia de luz na época. A gente não sabia o que era Light, era uma coisa abstrata. E rolou uma associação: existia um fantasma que se chamava Light, que morava dentro da parede e tocava piano. Tudo isso é uma lembrança muito antiga, meio fantasiosa. Quando eu lembrei dessa história do fantasma da Light, gostei muito deste nome. Além da história, existe a relação da própria luz elétrica. Desde que existe a luz elétrica e desde que o homem começou a perder a noção, nas grandes cidades, do dia e da noite, não existe mais uma divisão formal do que é dia e do que é noite. Hoje em dia você emenda, trabalha à noite. E se quiser, pode ficar a noite inteira acordado, que sempre vai ter coisas para fazer. E esse disco é muito noturno, onde o homem acaba virando um fantasma à noite, saca? Porque quando a gente dorme, a gente sempre morre um pouquinho, a cada dia. Vai fazendo um estágio da morte, no sono. Então, nós viramos essa coisa fantasmagórica. E o disco eu acho que tem essa pegada que fala da noite, se relacionando com essa história.
Você falou que tem faixas bem antigas e outras mais atuais. Como foi conciliar tudo isso dentro de uma única obra?
PP: As músicas mais antigas estão no baú fantasma, e são as músicas que de certa forma são diferentes. Foi muito difícil juntar tudo no disco. Então, nós juntamos essas músicas nesse baú fantasma, que funciona assim: tem um silêncio grande e aí, depois tem mais cinco músicas meio que escondidas. Um disco dentro do disco, na verdade.
E o videoclipe de “Vermelho”, como foi feito?
PP: A direção é do Philip Spoto, que é um diretor amigo nosso. Ele já queria fazer um clipe com a gente, mas nunca rolava de produzir. Aí, nesse meio tempo, meu irmão digitalizou todos os super-8 que eu tenho da minha família. E um dia, assistindo esse material, eu falei, “meu, tem muita coisa legal!”. É muito rico, porque não tinha só imagens da família. Tinha imagens de parque de diversão, tinha imagens desse carnaval que é de 1962, no Rio de Janeiro. Quando eu vi esse carnaval eu falei “mano, isso dá um clipe para o “Vermelho”, por conta do samba e tal. Mas não tinha a idéia ainda de como fazer pra montar essa coisa. Aí eu sentei com o Philip e decupamos todas as imagens e começamos a criar um roteiro na nossa cabeça. Tinha umas imagens em que eu e meu primo, bem crianças, ficávamos falando com microfone, e deu para colocar as minhas falas da música com o Tatá (Aeroplano).E como meu primo é mais branquinho, tem o cabelo castanho, é parecido com o Tatá. Ficou como se fosse o Tatá criança (rs). E depois tinha esse carnaval que combinava muito com a música! Essa história de ter várias pessoas, em várias situações, se relaciona com a história do clipe, que fala que todo homem é vermelho por dentro. Então, eu acho que a gente conseguiu amarrar bem.
Os shows de vocês tem sempre participações especiais, né?
PP: Então, a gente está em um momento de transição da banda. Dessas 19 músicas do disco a gente toca poucas agora no show. A gente diminuiu, porque colocamos músicas novas. A gente está se preparando pra gravar um próximo disco. Eu fiquei meio traumatizado porque esse primeiro demorou demais. Então, nesse segundo, eu quero que seja uma coisa bem mais simples, bem mais crua, menos produzida; quase que gravado ao vivo, saca? Estamos juntando esse material. Tem essa música do arrudA, que é “Distraída”,o “Desmando”, que é uma parceria do arrudA com a Alzira. Nós vamos tocar agora dia dois de setembro, no Teatro Coletivo e a Alzira vai cantar com a gente.Estamos bem felizes e orgulhosos com isso. E agora é Peri Pane e Odegrau, mudou o nome (antes era apenas Odergau). Resolvemos unir esse nome, porque o nome Peri Pane está na mídia, por conta do Homem-Refluxo e do programa na Cultura. (Peri apresentou o programa Ecoprático na TV Cultura). Foi para facilitar as coisas, mas na verdade, não vai mudar nada. Continua a mesma banda, as letras já eram minhas, mesmo. Inclusive, queria te pedir pra colocar o nome de todos da banda na matéria.
Pode deixar: Odegrau é Peri Pane (voz e violão), João Zilio (bateria), Daniel Xingu (baixo), Rafael Martinez (guitarra) e Lucas Vargas (teclado e acordeom)