5 destaques do Festival Internacional Salvador Cidade da Música

30/10/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação/Luan Teles

30/10/2025

Em 2021, o histórico casarão dos azulejos, que se destaca na paisagem do bairro do Comércio, em Salvador, virou sede do Museu Cidade da Música da Bahia. O local não é apenas um oásis para amantes de música, mas simboliza a importância dessa arte para a cidade: afinal, por onde se anda pela capital baiana, ouve-se música — do batuque da percussão entre as ladeiras do Pelourinho, ao ritmo que sai das caixas de som dos carrinhos de café, ou os shows em lugares icônicos como a Concha Acústica. E, no último domingo (26/10), ecoavam pelas ruas do Comércio os mais diversos ritmos que saíam dos palcos do Festival Internacional Salvador Cidade da Música.

O evento aconteceu entre os dias 25 e 27 de outubro. Entre as atrações musicais, destaque para as pratas da casa, como Orquestra Afrosinfônica, Carlinhos Brown, Ilê Aiyê e Mariene de Castro, e atrações das cidades de Recife (Lucas dos Prazeres), Valparaíso, no Chile (Mora Lucay), e Kingston, na Jamaica (Oku Onuora), celebrando o intercâmbio cultural entre as capitais culturais reconhecidas pela Unesco.

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Além das atrações musicais, a programação incluía painéis educativos, workshops e exibição de projetos audiovisuais. Todo o evento foi gratuito, celebrando os 10 anos do título de Salvador como a Cidade Criativa da Música, concedido pela Unesco.

“Esse festival é mais que uma celebração, é um processo de internacionalização, um intercâmbio de Salvador com as outras cidades criativas da Unesco, que fazem parte dessa grande rede que reúne 70 cidades ao redor do mundo”, conta Felipe Dias, Diretor de Economia Criativa da Secult de Salvador. Gabriela Rocha, Gerente de Linguagens Artísticas da mesma instituição, completa: “A ideia foi criar um verdadeiro intercâmbio musical: habilitar que artistas soteropolitanos possam ir a esses outros territórios, conectando a nossa música com música latino-americana”, finaliza.

A vice-prefeita da cidade, Ana Paula Matos, ressaltou a importância de mostrar à sociedade que música e outras manifestações culturais são ativos de empregabilidade e renda. “As capitais representadas pela Unesco estão aqui em Salvador dizendo para o mundo que a Bahia é cultura e arte. Por isso, pensamos em um show que refletisse a riqueza da nossa musicalidade”, conta.

A programação se concentrou no bairro do Comércio, na Doca 1, Agência Califórnia e no próprio Museu Cidade da Música, onde aconteceram os workshops e painéis. Confira abaixo 5 highlights do evento:

Curadoria diversa 

A curadoria musical do festival se deu em parceria com representantes das outras capitais criativas da Unesco. Cada território escolheu uma atração, que se apresentou no domingo: de Recife, Lucas dos Prazeres abriu os trabalhos levando o clima carnaval pernambucano ao palco principal. Em seguida, de Valparaíso, Mora Lucay e sua banda apresentaram seu indie-pop folk durante a tarde. “Eu vim de uma cidade que celebra o mar e a música, assim como Salvador”, disse a cantora, que procurou se comunicar em português como público que se aproximava da Doca 1. 

Já no cair da noite, Oku Onuora celebrou a Jamaica como o país do reggae tocando com o Minestereo Público, primeiro soudsystem da Bahia, formado por DJ Raiz, DJ Pureza Dubmaster Regivan Santa Bárbara. A apresentação, que misturava o dubstep ao reggae, botou todo mundo pra dançar quando o sol já se punha em Salvador.

Celebração da cultura local 

Um palco alternativo montado no outro canto da avenida ficou responsável por apresentar os talentos locais. Udi e Samba de Roda de Tubarão foram os talentos selecionados pelo programa Boca de Brasa, da Fundação Gregório de Mattos

Destaque também para os super coloridos e sonoros carrinhos de café, um dos símbolos da cultura soteropolitana, posicionados de frente ao palco principal, que ajudaram a embelezar ainda mais o evento.

Intercambio África-Salvador

O mesmo palco também promoveu o encontro de vozes de diferentes nacionalidades. O projeto Global Artivism apresentou o ALTBLK >> Africa — coletivo de artistas independentes vindos de países africanos. A bela apresentação do coletivo ainda teve como pano de fundo o pôr do sol da Bahia sob os prédios históricos da região. De tirar o fôlego.

Painéis de aprendizado 

O Museu Cidade da Música recebeu painéis de profissionais do mercado musical nos dias 25 e 27 de agosto. Destaque para o painel que comentava o processo de internacionalização dos festivais e suas respectivas curadorias, com Priscila Santana (SummerStage), Agatha Ferreira (Afropunk Brasil) e Vince Athayde (Festival Zona Mundi). Agatha contou que o Afropunk Brasil, com sede em Salvador, é uma marca forte dentro do próprio ecossistema internacional do festival, sendo o único braço do evento com página própria nas redes sociais: “Costumo dizer que o Afropunk nasceu em Nova York, mas renasceu em Salvador”, disse.

A linha do tempo da música brasileira que corre por Salvador

Encerrando a programação musical, a Orquestra Afrosinfônica da Bahia, sob batuta do maestro Ubiratan Marques, traçou uma linha do tempo da música baiana — que é, também, uma boa amostra da música brasileira. A apresentação celebrou as origens do samba com Tia Ciata, passando pela bossa nova do baiano João Gilberto, além de Dorival Caymmi, o trio de Dodô e Osmar, o rock’n’roll de Raul Seixas e Novos Baianos e o carnaval ancestral de Ilê Aiyê — numa emocionante apresentação celebrando as belezas e as cores da Bahia.

O show também contou com participação da cantora Sued Nunes. “Eu fico muito feliz pelo acolhimento que o Salvador tem me dado. Eu sou artista do Recôncavo e as águas do Rio Paraguaçu desaguam aqui na Baía de Todos os Santos. Salvador também fala do Recôncavo, o Recôncavo também fala em Salvador. É muito gratificante me ver com parte desse percurso da música. E é um percurso infinito, ele não vai parar nunca”, diz.

Nos bastidores, o maestro Ubiratan Marques adiantou à Noize como foi a escolha do repertório de uma apresentação tão grandiosa: “Como o repertório é grande, escolhemos uma música de cada fase, sempre em diálogo com a proposta da Orquestra. Foi um apanhado mesmo, e posso dizer que demos sorte. Fiquei muito feliz com o resultado. Espero que todo mundo sinta o mesmo. Foi um grande aprendizado pra mim, e acredito que será pra quem ouvir também”, disse.

“O espetáculo funciona como um recorte — ou melhor, um registro da história da música da Bahia. Mas eu diria que são fundamentos, porque partimos dos espaços sagrados, dos terreiros, que são os verdadeiros guardiões da música brasileira. O tripé que sustenta essa música vem desses lugares: dos povos originários, de toda essa mistura que nos forma”.

Carlinhos Brown finaliza relembrando a celebração que motivou todo o evento: “Estamos comemorando 10 anos do levante da nossa Casa da Música e a importância de Salvador para a nossa arte”, nos conta Carlinhos Brown. “A orquestra liderada pelo Ubiratan Marques deixa claro como somos ricos e potentes em repertório. É sempre possível revisitar e celebrar a música do Brasil e da Bahia com alegria e respeito às nossas memórias. Afinal, o que é forte e clássico permanece no inconsciente coletivo. É como um vinil: gostoso de se ouvir.”

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30/10/2025

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Damy Coelho