A escalada do rap argentino: de “El Quinto Escalón” à viralização

16/10/2025

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Por: Amanda Cavalcanti

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16/10/2025

Até o fim dos anos 2010, Ca7riel & Paco Amoroso eram membros de uma banda de funk e rock, tocando guitarra e bateria, respectivamente. Mas, com a entrada da nova década, eles viram uma nova onda tomar conta dos Estados Unidos, da América do Sul num geral e da Argentina em particular: o trap. Esse foi o começo da trajetória da dupla no gênero, que eventualmente culminou no EP “PAPOTA”, trabalho mais recente do grupo, que foi lançado pelo NRC+. O disco azul translúcido, acompanhado por encarte e adesivos, está em pré-venda no site.

O hip hop chegou à Argentina nos anos 1980, numa história que se assemelha à do Brasil: na cidade mais urbana do país, Buenos Aires, começaram a se formar, primeiro, coletivos de breakdance. Conforme a redemocratização chegava ao país, de 1984 a 1990, a cidade viu aparecerem grafiteiros, DJs e MCs, muito influenciados pelos imigrantes negros americanos que moravam na capital argentina.

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Segundo o jornalista e pesquisador Martin A. Biaggini, que publicou em 2023 o artigo “A Concise History of Hip Hop in Argentina”, um grande ponto de virada para a popularização do rap argentino foi a coletânea “Nación Hip Hop”, lançada em 1997 e produzida pelo músico Zeta Bosio, famoso por tocar baixo no clássico grupo de rock argentino Soda Stereo. O interesse das gravadoras cresceu, e os artistas começaram a se profissionalizar. Em 2001, o rap argentino ganhou seu primeiro Grammy Latino, no segundo ano da premiação. O grupo Sindicato Argentino de Hip Hop levou o prêmio de Melhor Álbum de Rap/Hip-Hop por “Un Paso A La Eternidad”.

Outros importantes grupos surgiram ao longo dos anos 2000, como Iluminate e La Conexión Real. Em 2003, a chegada do filme “8 Mile”, protagonizado pelo Eminem, “lançou um movimento de batalhas de freestyle em cada cidade e em cada bairro”, escreve Biaggini. A Red Bull organizou a primeira batalha internacional de rap em espanhol em Porto Rico em 2005, denominada “La Batalla de los Gallos”. Ela foi vencida pelo rapper argentino Frescolate. 

A batalha local mais importante da história do rap argentino é El Quinto Escalón, que acontecia nas escadarias do Parque Rivadavia, em Buenos Aires. Herdeira das batalhas menores Halabalusa e Las Vegas Freestyle, o Quinto começou em 2012, mas foi em 2014 que começaram a surgir os rappers que se tornariam responsáveis pela viralização do torneio, como Wos e Acru. Em 2015, as batalhas, realizadas semanalmente e transmitidas no YouTube, já passavam de 100 mil visualizações. 

“Essa popularidade repentina do El Quinto Escalón provocou uma inesperada gentrificação do rap na Argentina, que deixou de ser uma subcultura eternamente ignorada para conquistar as capas dos grandes meios de comunicação de massa. Basicamente, o que aconteceu naquele momento foi que os filhos e sobrinhos dos editores dos jornais mais importantes da Argentina de repente se tornaram fanáticos pelas batalhas, empurrando seus parentes mais velhos a escrever sobre esse fenômeno juvenil do qual haviam ficado de fora”, escreveu o jornalista Juan Ortelli na matéria “Súper Sangre Joven: La historia de El Quinto Escalón”, publicada na VICE em 2018.

Um dos personagens mais importantes a surgir do El Quinto Escalón foi o DJ e produtor Bizarrap, que publicava remixes virais de momentos famosos das batalhas. Na esteira desses sucessos em seu canal do YouTube, o artista passou a gravar e publicar sessões com rappers argentinos – os primeiros, nomes famosos do Quinto. A terceira sessão que ele gravou foi em abril de 2019, com um jovem rapper chamado Paco Amoroso. 


“Biza”, como é chamado pelos companheiros, foi uma peça chave na popularização internacional do rap argentino. Começou gravando com talentos locais, mas logo passou a expandir seus horizontes e lançar canções com nomes enormes da música latina como Eladio Carrión, Nicky Jam, Peso Pluma e, sim, Shakira. Seu nome, então, passou a carregar um peso: quem passava por aquele estúdio já podia contar com mais atenção internacional do que os rappers argentinos haviam tido até então. 

Foi o que aconteceu com o rapper Duki, também um dos maiores do El Quinto Escalón. De campeão de batalhas locais, o artista começou a trabalhar com nomes como Myke Towers e Bad Bunny. Nos anos seguintes, principalmente pós-pandemia, outros artistas argentinos seguiram caminhos parecidos: Nathy Peluso trabalhou com Christina Aguilera e C. Tangana, Nicki Nicole gravou com Rauw Alejandro, Trueno contou com uma participação do rapper americano J.I.D em seu disco “Bien O Mal”, de 2022. 

Trueno, inclusive, abriu os caminhos para os argentinos no Tiny Desk com sua própria sessão, publicada também em 2022. Suas mais modestas 13 milhões de visualizações não chegaram perto das 40 milhões de Ca7riel e Paco, mas mostram que a força internacional do rap argentino já estava em construção muito antes da dupla viralizar – e vai continuar crescendo nos próximos anos.

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16/10/2025

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Amanda Cavalcanti