Phylipe Nunes Araújo estreia com álbum homônimo. Lançado em outubro, Phylipe Nunes Araújo (2025) chega via selo inglês Far Out Recordings e com produção assinada por Bruno Berle e Batata Boy.
A estreia, que leva o nome do artista, é um passeio completo pelos ritmos nordestinos — como baião, forró, maracatu e coco — com um toque de modernidade. A tradição é homenageada, mas repaginada com muita personalidade, apresentando Phylipe para a nova MPB.
“É um apanhado de tudo de melhor que fiz nos últimos dez anos. É minha apresentação enquanto artista, por isso, é um homônimo. É como se fosse um perfil, o que está acontecendo agora é fruto do nosso empenho em fazer algo novo e bonito”, diz o cantor.
Nisto, vale destaque para “Santa Cruz”, uma homenagem à cidade pernambucana em que cresceu; a beleza do cotidiano em “Temperim” e o coração partido em “Asa”. Antes do álbum, Phylipe lançou os EP’s Nunes (2015) e Lajeiro (2024) e compôs três faixas nos últimos discos de Berle — No Reino Dos Afetos (vol. 1 e 2).
Phylipe Nunes Araújo faixa a faixa:
“Muito dengo”: canção que escrevi com a minha parceira, Raísa Feitosa, que fala justamente sobre as coisinhas do dia a dia vivendo com outra pessoa e sobre as certezas que construímos no convívio. Essa faixa foi gravada num iPhone 6s velho em 2023, uma ou duas semanas antes de viajar pra gravar o disco em São Paulo. Gosto muito do disco começar com essa música, nessa gravação e acabando desse jeito, meio de repente.
“Bixin”: esse é, provavelmente, o primeiro forró que fiz. Ficou guardada por um tempo até que um dia entreguei nas mãos de Ivana Fontes, que terminou a letra. É uma canção que me soa como um filme, a letra é bastante gráfica nesse sentido. Das lentes da minha amiga cineasta Virgínia Guimarães saíram, além das fotos do disco, um clipe que ilustra de uma forma super delicada essa canção.
“Ziz”: uma coisa engraçada sobre essa música: a harmonia e a melodia dessa canção estavam num gravador de voz antigo em que eu e Marvin, co-autor dessa, gravamos algumas ideias. Anos depois encontrei a gravação num arquivo que sucedia a primeira demo de “Sereno”, gravada por Bruno Berle. Com a ideia já pronta, mas ainda sem letra, acordei num dia após sonhar que estava num passeio de bicicleta num pomar bem bonito.
“Temperim”: é uma canção bem íntima, também em parceria com Raísa. O que conduz a canção é uma receita de salada de grão-de-bico que nós dois sempre fazemos e é famosa entre os amigos mais próximos. A letra fala das cumplicidades cotidianas, como preparar uma boa refeição para alguém querido ou ficar de boa em silêncio depois de um dia meio ruim. Já fechando a produção, Bruno e Batata mostraram algumas canções para alici e ela quis cantar “Temperim”. As aberturas de voz dela nessa faixa me emocionam muito. Deu um tempero.
“Ainda é verão”: alguns anos atrás, Denise Oliveira Dendê me mandou um áudio cantarolando a letra dessa canção inteira. Fiquei meio em choque. Tive que gravar no mesmo dia, num laptop que eu tinha, e essa é a gravação do disco. Depois de um toque na harmonia, eu e Dendê finalizamos a melodia juntos. É uma canção de amor com o poder de emocionar até os mais cascudos. A impressão é que sempre será verão e que o amor, de fato, nunca vai morrer.
“Santa Cruz”: é uma canção de amor pela minha cidade. Nasci em Caruaru, mas foi em Santa Cruz que eu cresci e me descobri artista. Nessa faixa, exploro um pouco os ritmos tradicionais do Nordeste enquanto canto alguns recortes imagéticos da história do meu lugar, fazendo uma viagem que passa pelas capelas antigas de Santa Cruz do Capibaribe até sua indústria têxtil, tomando café na mesa de casa e observando a procissão passar.
“Asa”: é a canção mais triste do álbum. Hoje, relendo, parece uma conversa por cartas onde ninguém respondeu a ninguém, só foram feitas confissões. É uma canção sobre distância e rompimento.
“Vim do Norte”: eu nunca lembrei de fato quando eu fiz essa música. Um dia eu parei pra ouvir algumas gravações antigas – hábito meu – e simplesmente encontrei isso. Desde então sempre toco, às vezes abro shows com essa canção, que é instrumental, mas tem vocalizações constantes, e sempre me leva pra um lugar tranquilo. É uma música meio familiar, parece com um tanto de coisa. Nostalgia pura pra mim.
“Valise”: é a canção mais antiga do álbum. Fiz quando tinha 15 anos. Eu tinha uma vergonha danada dessa música até que um dia, num show que fiz com Bruno lá em casa, alguém pediu que eu tocasse. Desde então, dificilmente essa música sai do repertório. A letra é de uma inocência que só sendo adolescente mesmo. Essa canção fala sobre amar os nossos amigos. É uma felicidade grande poder ter gravado ela com um grande amigo.
“Subindo a ladeira”: essa é da mesma leva de “Muito dengo”. Comecei a pensar nessa harmonia e melodia uns dias antes de viajar pra gravar o disco e, lembrando de um dia na minha casa lá em Santa Cruz, fiz essa letra que parece ter uma tensão, mas que não tem nada disso. A canção tem um quê de mistério, você não sabe o que vem por aí e ela segue meio truncada até que tudo se resolve. O sol abre, sentimos o cheiro de flor e o dia enfim começa.