Você conhece ela dos vídeos virais do Instagram. As colagens musicais de Amanda Magalhães rodam a internet há algum tempo e exploram memes variados: das frases de Luana Piovani ao sotaque carioquíssimo da atriz Christiane Torloni até alfinetadas políticas, como o famoso vídeo da ex-deputada Joice Hasselmann falando “toc, toc, toc… Polícia Federal”. Todos eles ganharam versões musicadas idealizadas, gravadas e produzidas pela própria Amanda.
Mas a artista vai além do meme. Ela também é atriz — foi a Natália da série 3%, da Netflix —, produtora musical — no programa Quem Não Pode Se Sacode, da GNT — e tem uma sólida carreira autoral, com dois álbuns lançados.
O debut, Fragma (2020) tem participações de ninguém menos que Liniker e Seu Jorge, explorando influências de pop e R&B. Já no segundo álbum, Maré de Cheiro (2023), foi além, decidindo explorar ritmos brasileiros a fundo.
Bebendo das mesmas referências tipicamente brasileiras, lança agora o single “Amores vêm e vão”, um pagodão-pop feito pra cantar junto. Nele, ela celebra a liberdade, ao mesmo tempo em que se despede da temática mais romântica que guiava suas canções.
A inspiração para essa nova fase, segundo ela, veio de uma inquietude típica de nossos tempos. “Até aqui, falei muito sobre amor e experiências pessoais, mas hoje me vejo olhando para o futuro com certa ansiedade e desesperança, em meio a tensões políticas e à forma como o digital atravessa nossas relações”, conta, em entrevista à Noize.
Mas não espere um som baixo astral, pelo contrário: “Amores vêm e vão” é solar e tem a cara do verão. Ouça abaixo enquanto lê o nosso bate-papo:
Pra começar, conta pra gente: como tem início sua carreira?
Quando decido compor minhas próprias canções, entre 2016 e 2017, culminando em 2018 com o lançamento do meu primeiro single “Vai Ouvir”. Isso aconteceu graças a uma provocação que recebi durante um processo de montagem. Eu era estudante de teatro na época, e foi minha diretora, Isabel Setti, que me incentivou a cantar mais depois de um número musical em uma peça que fizemos. A repercussão foi tão positiva que me fez acreditar mais na minha voz — e assim comecei a produzir minhas próprias músicas.
De onde veio a ideia de fazer vídeos com mash-ups pra internet?
Tudo nasceu como uma piada interna entre amigos. A gente sempre trocava memes e curtia a cultura das redes. Um dia, circulou no nosso grupo um vídeo da Christiane Torloni dizendo “somos amigas, somos irmãs, somos mulheres” com um sotaque bem marcante. Eu, como boa carioca que gosta de chiar no ouvido dos outros [risos], achei que aquela fala tinha musicalidade e resolvi colocar um beat por trás, estendendo a brincadeira.
O que era só para o nosso grupo acabou viralizando quando postei no meu perfil. Acho que o diferencial foi fazer isso de forma performática, o que ajudou as pessoas a se conectarem mais. Também me inspirei em criadores estrangeiros que já musicalizavam memes, algo que eu sempre gostei de consumir.

Como você cria esses vídeos e os beats?
O processo é bem livre. Muitas vezes a própria fala já traz uma melodia escondida, e eu só realço isso. Em outros casos, trabalho mais a voz até encaixar numa melodia. Às vezes, uso um beat em que já estava trabalhando e sinto que pode dialogar com a cena. Mas em todos os casos, a regra é me divertir. Quando estou rindo durante o processo, sei que o remix está funcionando.
Qual foi o vídeo que mais viralizou e como foi sua reação a isso?
Sem dúvida, foi o do “Trump, defende meu pai”. Antes dele, o que mais tinha rodado era o do [William] Bonner, mas o do Trump extrapolou bolhas que eu jamais imaginava. Minha reação foi de surpresa — mesmo quando a gente espera que algo alcance bastante gente, nunca dá para prever quando viraliza de verdade. Fiquei muito feliz que as pessoas curtiram o som a ponto de a gente até subir nas plataformas. O contexto político tenso também fez a música cair como uma luva, e acredito que isso ajudou no impacto.
Como veio o desejo de focar na sua carreira autoral, com faixas mais confessionais?
Não foi planejado, meio que aconteceu. Eu acredito que o artista fala de si para se conectar com o mundo, na esperança de que outras pessoas se identifiquem. E a gente sempre tende a falar sobre o que conhece. Então, comecei cantando sobre minhas experiências afetivas, meus sentimentos. Esse foi meu ponto de partida. Agora estou em processo de transformação, ressignificando isso diante de novas inquietações artísticas. Mas até aqui, cantar sobre o afeto foi a base do meu trabalho, e espero que isso tenha acessado um lugar legal dentro de quem me escuta.
Pra fechar, o que sua nova música, “Amores Vêm e Vão”, representa no seu atual momento da carreira?
Esse lançamento marca uma transição. Até aqui, falei muito sobre amor e experiências pessoais, mas hoje me vejo olhando para o futuro com certa ansiedade e desesperança, em meio a tensões políticas e à forma como o digital atravessa nossas relações. “Amores Vêm e Vão” funciona como uma carta de despedida desse ciclo: uma declaração de amor à minha própria liberdade. Foi a melhor forma de encerrar essa era e abrir caminho para outra, mais voltada a temas sociais e coletivos. Quero retratar nosso tempo, falar menos do individual e mais do todo. Isso tem sido importante para mim, não só como artista, mas como pessoa.