Em novo álbum, Lupe de Lupe elege quatro formas para falar de amor

18/07/2025

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação/Tiago Baccarin

18/07/2025

Não espere o óbvio da Lupe de Lupe. Após lançar Um Tijolo com seu Nome (2023), álbum com 24 tijoladas musicais com menos de 3 minutos, o trabalho seguinte dos mineiros, Amor, vai na contramão desse conceito. Lançado pela Balaclava Records e Geração Perdida de Minas Gerais, o novo disco tem apenas quatro músicas que beiram os 10 minutos, como uma visão de cada um dos integrantes — Vitor Brauer, Jonathan Tadeu, Renan Benini e Gustavo Scholz — sobre o sentimento universal. Cada canção é marcada por solos oníricos de guitarra com camadas de arranjos de cordas.

Cada um ficou responsável por enviar sua demo, que seria posteriormente trabalhada por Vitor Brauer na produção. Inicialmente, o conceito já estava formado: a ideia era ter músicas longas que falassem de amor, ou da memória em torno do sentimento e das relações. Jonathan Tadeu — em “Vermelho (Seus Olhos Brilhando Violentamente Sob os Meus”) — e Renan Benini — em “Redenção (Três Gatos e um Cachorro)” — têm letras mais melancólicas, compensadas por camadas de guitarra que trouxeram peso às canções. A faixa mais ruidosa ficou a cargo de Vitor Brauer, que fala de amor de um jeito imagético, com metáforas sobre o corpo e o gozo, muito inspirado pelo cinema. “No final das contas, o amor é um troço mais brutal mesmo — quando você ama e perde, quando você ama tanto que dói no peito, até quando a pessoa está do seu lado ali, é um prazer e uma dor físicos”, explica, sobre “Se Nosso Nome Fosse Um Verbo (Canibalismo Como Forma de Amor)”.

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As referências da banda são múltiplas, o que reflete na sonoridade do álbum como um todo, um rock/noise que carrega muito de Brasil: o título da faixa de Renan — “três gatos e um cachorro” — acena para o hit de Luan Santana (“Eu, você, dois filhos e um cachorro”, de “Cê Topa?”). Só que, diferente do ídolo pop-sertanejo, que traça planos com quem ama, o narrador de Renan rememora um amor que passou. Já a música de Jonathan Tadeu, que abre o disco, faz referência tanto a Purple Mountains quanto à “Mágica”, hit do Calcinha Preta. Gustavo Scholz emula uma mistura de Nove Luas (1996), dos Paralamas do Sucesso e das baladas dos Beatles.

“Graças a deus, a gente consegue descer dos nossos cavalinhos do bom gosto, da alta literatura acadêmica e crítica, e aceitar que, sim, o amor verdadeiro muitas vezes é brega, sim, e foda-se. Exige uma maturidade emocional e uma maturidade musical também pra aceitar essas coisas. Agora, com o resultado bonitinho e entregue, é fácil ver que é uma música muito boa. Mas eu queria ver quem são os alternativos que iam pegar uma balada com referência a Luan Santana de 10 minutos e fazer um hitzinho do underground. Isso sim, que é amor”, finaliza Vitor Brauer.

Para criar Amor, a Lupe de Lupe contou com a colaboração de Estevan Cípri, Ricardo de Carli e Filipe Monteiro na bateria, Felipe Pacheco no violino e Gabriel Elias no trompete.

O trabalho também ganhou uma versão visual, dirigida por Gabriel Honzik. Assista abaixo:

Leia e ouça Amor (2025) faixa a faixa, comentados por Vitor e pelos integrantes que assinam cada uma das composições.

“Vermelho (Seus Olhos Brilhando Violentamente Sob os Meus)”

Jonathan Tadeu: Lembro que o Brauer me falou apenas para tentar escrever da forma mais sincera possível, sem travas. E apesar da maioria das minhas músicas serem inspiradas na vida pessoal, eu costumo escrever sempre com um pé no freio. Dessa vez, resolvi deixar a mente ir pra lugares que você só costuma frequentar na terapia. Abri um bloco de notas no celular e, durante uns dois meses, fui escrevendo num fluxo de consciência. Na época, estava ouvindo bastante o disco do Purple Mountains, talvez o disco mais autobiográfico que eu já ouvi na vida. O Tempestade do Legião Urbana também foi um ótimo companheiro nos momentos em que eu sentia indo longe demais na vulnerabilidade. Foram mais ou menos umas 10 páginas de falação desenfreada até eu sentir que já havia despejado tudo o que precisava sobre o tema. Depois foi só sair montando o “Frankenstein”. A parte melódica foi razoavelmente tranquila. Enviei uma melodia de sintetizador, bateria e minha voz para o resto da banda. E então eles foram adicionando o resto. Vitor conseguiu adicionar mais sessões pra que a música ficasse maior tb, fora o solo referenciando “Mágica” do Calcinha Preta, que ele gravou sem me avisar. Quando ouvi foi uma facada e um abraço no coração ao mesmo tempo.

Vitor Brauer: Pra começar, cada um manda a sua música meio que num formato de demo, voz e violão muitas vezes, e eu já tenho de visualizar mais ou menos como todas as músicas vão ficar e montar o disco. Já é um trabalho mental complicado, mas que eu gosto. Quando decidimos a ordem mais ou menos, apesar de ser apenas quatro músicas é sempre um debate, e aceitamos que a do Jonathan iria ser a primeira. Então, era necessário fazer de um jeito que segurasse a nossa atenção. A parte do meio da música, do solo e do silêncio, me vieram em mente porque a versão do Jonathan meio que acabava e voltava pras notas do início. Sei lá, eu acho que pensei num corte cinematográfico seco, as músicas tão longas tinham de parecer filmes. Como ele citava a “Mágica” no final da primeira parte, eu tive a ideia de fazer essa bateria bagunçada e o solo da música meio que de memória, eu não sei se está certo, mas o conceito é que o Jonathan e todos nós estamos meio que lidando com isso da memória de um relacionamento, e por causa disso tudo soa meio bonito meio bagunçado ainda, eu pelo menos acho que essa foi a ideia inicial. O corte seria um corte pra realidade mesmo, coloquei alguns sons íntimos e reais no meio pra dar essa impressão. Na primeira parte o arranjo é como um sonho, na segunda é como se fosse a memória e a terceira a chamada “bruta realidade” que o Gustavo aponta na terceira música do disco. Acho que o crescendo pro final representa essa aceitação, mesmo que dramática, de que o amor ele cresce, explode, para finalmente se dissipar e ir para só deus sabe onde.

Se Nosso Nome Fosse Um Verbo (Canibalismo Como Forma de Amor)

Vitor Brauer: Lá atrás, quando começamos a pensar no conceito do disco e decidimos que iam ser apenas músicas longas de amor, a ideia inicial era de que ia ser um disco sem bateria. Um disco singelo e delicado. No entanto, com a minha demo, que foi a primeira que foi apresentada, concordamos que não tinha como fazer essas músicas atingirem o potencial máximo delas sem o “rock”. É curioso dizer isso porque o Mateus Aleluia meio que lançou esse nosso sonho inicial no disco dele mais recente (e de um jeito muito mais belo do que a gente jamais poderia fazer diga-se de passagem). Então, foi bom a gente ter permanecido na barulheira mesmo. Aceitar que é isso que a gente sabe fazer melhor, mesmo que a gente goste de experimentar sempre. Aí eu entendia, conhecendo os caras, que Jonathan e Renan iriam escrever músicas pessoais e melancólicas, talvez o Gustavo escreveria algo mais positivo e abstrato, então o peso da “brutalidade”, do “rock”, possivelmente cairia pra mim, para balancear o disco e não ser apenas “coisas belas e tristes”.

Até porque, no final das contas, o amor é um troço muito brutal mesmo – quando você ama e perde, quando você ama tanto que dói no peito, até quando a pessoa está do seu lado ali, é um prazer e uma dor que são físicos. Resolvi falar disso e explorar essa ideia dos corpos, do sexo, talvez me distanciar um pouco das ideias mais românticas e aceitar que amor é uma coisa principalmente física. A Lupe de Lupe, apesar de tudo, não é uma banda que tem muitas canções de amor, o Renan até tem várias, mas eu, Gustavo e os outros membros cantamos bem pouco sobre amor. Então ainda tinha isso, essa pressão que eu coloquei sobre mim. Vamo falar de amor então. Nós somos corpos feitos de matéria e memórias, explorar isso é íntimo, é doloroso, mas é a maneira mais eficaz de realmente expelir o sentimento, o amor, ou o que algumas pessoas poderiam chamar de gozo. Eu pessoalmente sou uma pessoa muito prática também, muito do mundo físico, do toque, da violência, sempre explorei essas coisas nas minhas músicas então não foi muito difícil escrever a letra, é como se eu já tivesse escrito ela quinhentas vezes. Mais difícil foi arranjar a música de forma estrutural, o arranjo, fazer a jornada inteira. Minha principal inspiração foi a trilha sonora de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, principalmente a faixa final, que passa pelos últimos 20 minutos do filme eu acho, que é um trem que eu sempre sonhei em fazer parecido. Uma música com um tema marcante, que fosse essa grande obra misteriosa, longa, linda e triste, que destrói o coração, que passa por vários lugares e que no final quando a gente volta ao tema principal é como se sentíssimos uma explosão de vida. E o amor, pra mim, é muito isso, essa coisa que toma controle, te leva numa jornada desenfreada, dura, prazerosa e fluída, mas que finalmente te traz de volta para si mesmo, te faz conhecedor maior de si mesmo, faz você se entender, faz você se perder e se encontrar. Me lembro quando assisti “Contatos Imediatos”, chorando igual um bebê com essa música e pensei “deus, como existe alguma coisa tão bela assim em acordes e música, será que as outras pessoas sentem isso que eu sinto?”. Fiquei muito feliz com o resultado e fiquei mais feliz ainda que as pessoas sentiram a mesma coisa que senti quando assisti o filme – só que, agora, com um maluco uivando e gritando “se nosso nome fosse um verbo seria amar”. Que vida louca é essa que a gente vive, né? Os amores que vivemos. É doloroso, mas é bonito demais. É a coisa mais bonita da vida.

Uma Bruta Realidade (O Nosso Jatobá)

Gustavo Scholz: A minha música foi composta originalmente um folk desses rapidinhos, meio Johnny Cash, nessa parte inicial que acabou virando essa coisa densa e devagar. Tinha uma letra enorme contando como se fossem duas histórias diferentes mas acabou por contar essa história de amor de vida inteira. As várias partes da música sempre estiveram ali e foi meu jeito de esticar a música. A primeira parte fala sobre um ponto de vista atual, depois esse ponto é rebatido pelo tempo da velhice e finalmente deságua na hora da morte. O legal de fazer essas músicas é que a gente tá desde sempre cantando sobre o passado, sobre o presente de quando a música foi gravada e sobre um futuro que a gente só imagina. E de repente a gente começa a trombar nesse futuro. Então aquela história de “voltar a ser menino e não cansar de conversar” [de “Enquanto Pensa no Futuro”, do álbum Sal Grosso, de 2011] de repente tromba com “esse dia pesado e só querer te abraçar”.

Era tudo verdade! Pra retratar essa velhice, acabei dando ares mais dramáticos, onde tudo desmorona ao redor: os filhos constroem as próprias vidas, a casa passa a ser pouco frequentada e, daquele sonho de família, sobra só o fato de um ter o outro. Gosto muito da parte sobre saudade e a ideia de que saudade seja uma espécie déjà vu ao contrário (isso provavelmente não faz o menor sentido). A gente vai tendo pequenas doses ao longo da vida e, no fim das contas, ela é o sentimento derradeiro. E a gente vai embora afogado numa overdose. Saudade é o sentimento indecifrável. Um lance importante na amarração disso tudo é a música tocada, digamos assim. Os cenários que foram criados pra cada parte da música. Mostrando a longevidade da vida, o chamado repentino meio religioso, a partida meio urgente. E por último mas não menos importante: eu amo cada segundo da bateria tocada pelo Filipe.

Vitor Brauer: A música do Gustavo foi a mais complicada sem sombra de dúvidas de arranjar, montar e gravar. Como eu já disse, sempre tenho meio que visualizar não só o disco todo, mas também a nossa carreira, as músicas que já lançamos. O início foi mudado de um folk para uma coisa mais arrastada, muito porque o final da minha música é potente demais e a música do Gustavo não podia começar com algo “tranquilo demais”, por assim dizer. Muitas vezes a gente gosta dessa quebra, muitos discos nossos tem isso, mas como são apenas quatro músicas nesse, a gente tem de levar a pessoa pela mão mesmo, os movimentos tem de ser mais lentos. Mas aí a gente resolve um problema pra criar outro. A parte do meio, especificamente, completamente sem bateria e quase nenhum instrumento, foi o que “resolveu” a música, na minha opinião. Eu já tinha essa ideia de deixar aquilo ali com nada, mas a inspiração do Gustavo foi o que aperfeiçoou de verdade (inspiração que que veio de uma mistura de Beatles, Beach Boys, a música “Busca Vida” do Paralamas do Sucesso, Bon Iver, sei lá). Foi a primeira demo que enviei pros bateristas convidados no disco. O Filipe teve um bom tempo pra criar a bateria dele e quando ele me mandou ela, também já era meio que outra música. Tive de adaptar várias partes da música por causa de uma coisa louca que o Filipe tinha feito. Então a linha de tempo foi: Gustavo me manda uma demo que é meio que um folk; eu tenho de transformar a música meio que numa coisa de várias partes diferentes; Filipe ouve e interpreta de uma forma diferente do que eu disse e do que o Gustavo disse e me manda; eu tenho de remontar a música toda adaptando alguns arranjos com algumas coisas que o Filipe fez; o Gustavo recebe e tem de readaptar a música toda também, que já tava completamente diferente do que ele tinha mandado inicialmente. Agora, meus amigos, o resultado disso tudo foi uma das coisas mais lindas que eu já vi. Como que a gente fez essa música? “Uma Bruta Realidade” é um respiro de beleza no meio dessa bagunça que seria o disco. Quando tínhamos resolvido tudo e ouvimos “hoje o dia foi pesado, eu só queria te abraçar”, tudo tinha uma outra conotação, a parte do meio que (com muita luta) conseguimos que soasse o mais angelical possível, o final “foi tão doce a vida a dois, a pior parte em partir, é só sentir saudade e a gente sente a vida inteira”, tudo emocionava a gente. Nos finalmentes, dei ideia de colocar o coro da gente cantando e o Gabriel Elias, nosso grande amigo, gravou uns trompetes. Enfim, as limitações, a doideira, a experimentação, tudo está nessa música e acho que, não à toa, ela é o coração do disco.

Redenção (Três Gatos e um Cachorro)

Renan Benini: Redenção nasceu meio que por acaso. A gente ia fazer o disco, já tínhamos a concepção que cada um faria uma faixa, músicas longas contrastando às faixas curtas do Tijolo. Eu não tava me sentindo muito inspirado a algum tempo, tinha chegado naquele lugar comum que a gente parece travar e não sair nada muito criativo. Tentava uns “riffs”, umas linhas de acorde e não vinha nada muito bom. Foi só quando eu abracei o término de noivado que passei no ano anterior, que ela veio. Primeiro o tema, o dedilhado com delay meio datado do fim dos anos 80; depois, os versos foram se construindo a partir da frase “Eu gosto do teu jeito”. Foi natural, em um ou dois dias, a letra estava pronta. Isso muito aconteceu porque eu simplesmente transcrevi emoções e situações que estava passando. É curioso, mas as letras que mais tenho “facilidade” em escrever vêm de momentos assim. Não sei julgar qual o caráter dessa sentença, mas parece que aquele frase de Tolstói cabe aqui: “Todas as famílias felizes são iguais; cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. Parece que a tristeza e a melancolia são vetores de movimento que quebram a inércia de qualquer sistema desacelerado, o que, de certa forma, pareceria contraintuitivo. A questão do “três gatos e um cachorro” é, na verdade, literal; havia esse plano para o futuro do casal, mas como as pessoas costumam ser reducionistas (não generalizo, mas existem exemplos demais), mais fácil falar que eu quis usar ou parodiar o Luan Santana. “Redenção” tem a ver com recomeço ou, pelo menos, aceitação que o recomeço é necessário, além de ser o parque que íamos, quase todos fins de semana, passear. É uma música sobre bons sentimentos, na verdade, lembranças de uma história que teve valor demais e sempre terá.

Vitor Brauer: A música do Renan foi a que mais me pegou de surpresa. Explico: o Renan é um grande músico e viciado em música clássica, conhece tudo: Bach, Vagner, Mozart. Então, quando começamos a pensar nas referências para o novo disco, pensei “o Renan vai chegar com uma obra épica de vários movimentos e complexidades”. Eis que o maldito me chega com uma balada de 9 minutos. Como acontece na maioria dos “hits” do Renan, a gente já sabia que ia ser hit né. Por quê? Porque tinha aquela lírica característica dele, que conseguimos ver em “Gaúcha”, “Cabo Frio”, “A Escrava Isaura”, etc.

Uma lírica que é, sim, meio “brega”. Algo muito próximo da música popular, do sertanejo, do forró. Essas coisas que adoramos e que muitas vezes ficamos receosos de incluir nas influências das nossas músicas, por achar que somos sérios demais para sentir o que os sertanejos sentem. Mas a verdade é que, no fundo, brasileiro é tudo um bando de sertanejo de terceiro mundo, sim. Então, meu trabalho era só tentar o máximo com que essa música do Renan fosse um hit sertanejo, ou algo parecido aos nossos moldes. Ouvindo a música, pensei logo que o jeito de “resolver” ela, seria na bateria que eu mesmo ia gravar. Tinha de ser algo quase eletrônico, algo de ser ouvir na balada, porque um ritmo bom consegue contagiar e segurar os bêbados e os drogados por dez minutos. O ritmo tirei então de uma adaptação de “Killing Moon”, do Echo and the Bunnymen, e uma levada meio funk Miami bass, coisa que já tinha adaptado na minha outra banda (a Desgraça). Ali, já tínhamos visto que ia funcionar e que o refrão e a melodia eram tão pegajosos que daria pra aguentar 10 minutos de loucura nossa. Por fim, pedi pro Felipe Pacheco Ventura colocar uns violinos pra dar mais drama e mais beleza. Eu lembro que pedi ele uns violinos meio “Cry For Love”, do Iggy Pop (que também é uma música de balada anos 80 assim), mas ele achou meio zueira e acabou entregando uma outra coisa.

Fazer música na Lupe de Lupe é muito isso, se resume a isso. São várias forças criativas e narrativas pessoais que a gente tem de abraçar e respeitar, muitas coisas inicialmente não são consideradas boas ou palatáveis até pela gente, mas esse desafio de transformar elas, de cada um dar o seu “input” criativo e depois juntar tudo, que cria essas obras tão únicas. Me fez lembrar de quando o Renan tinha apresentado “Gaúcha” numa versão rapidinha e espertinha e eu tive de trazer ela pra trás e arrastá-la. Me fez lembrar de quando o Gustavo apresentou “Terra” pra gente e eu pensei “não, essa música tem de ter um solo de 4 minutos no final, tá louco?”. Quando “Redenção” foi apresentada pra gente, não foi o que a gente queria, nem o que a gente esperava, mas a gente conseguir ver o potencial nela, a gente confiar no nosso amigo Renan que tava sentindo todas essas coisas, a necessidade dele de ter de falar essas coisas e a gente falar “tudo bem, vamos trabalhar nisso e transformar essa música no melhor que ela pode ser”. É isso que faz a Lupe de Lupe ser o que é. E veja só: é a música mais amada e ouvida do disco. Qualquer outra banda alternativa da nossa cena teria ouvido um refrão que acaba com “eu, você, três gatos e um cachorroooooo” e teria dito “não, calma lá, que coisa brega”. Graças a deus, a gente consegue descer dos nossos cavalinhos do bom gosto, da alta literatura acadêmica e crítica, e aceitar que, sim, o amor verdadeiro muitas vezes é brega, sim, e foda-se. Exige uma maturidade emocional e uma maturidade musical também pra aceitar essas coisas. Agora, com o resultado bonitinho e entregue, é fácil ver que é uma música muito boa. Mas eu queria ver quem são os alternativos que iam pegar uma balada com referência a Luan Santana de 10 minutos e fazer um hitzinho do underground. Isso sim é que é amor. Vão tudo se foder. Tchau.

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