Dance no Meu Quarto (2025) é a estreia de Fellini, projeto solo da artista paulistana Andressa Fellini. Apesar de ter o homônimo da banda de pós-punk brasileira, a cantora evoca outros sons, que envolvem um pop soturno e dançante. Lançado em setembro, o EP nasceu de experimentações e gravações em seu home studio, com co-produção comandada por Carlos Bezerra.
“A metodologia do home studio, desde as primeiras ideias até a finalização, criou as condições ideais para construir uma relação de intimidade e escuta. Foi nesse espaço que conseguimos desenhar o caminho que o EP precisava seguir”, contextualiza Fellini.
Fellini não tem medo de abrir o coração, dos vícios (“Não Dá”) ao sexo (“Perco o Ar”) e a busca por liberdade (“Baila”). No universo sonoro, as inspirações são múltiplas, mas a atmosfera oitentista reina, era de ouro do synthpop, evocando referências como Madonna e Marina Lima.
Dance no Meu Quarto faixa a faixa:
“Perco o Ar“: primeira composição do EP, nasceu em 2021 como uma gravação rápida no celular. Escrevi tentando me transportar para uma atmosfera específica de desejo e de vibes carnais. A letra fala sobre sexo de forma leve, onírica e envolvente, como um corpo que se confunde com o ar. O arranjo explora camadas de synths e guitarras etéreas, em estética shoegaze, junto a uma percussão delicada inspirada em Rhye, que conduz a faixa para essa sensação aérea e suspensa. O refrão repete o próprio nome da música como um pensamento obsessivo, fixo, de quem não esquece. É a porta de entrada para o universo íntimo de dance no meu quarto, onde a intimidade se apresenta através do prazer.
“Não Dá”: a época em que escrevi, ainda fumava um cigarro atrás do outro. A letra fala sobre desejo e insistência, sobre o poder que a gente entrega na mão do outro. O vício e o desejo são velhos conhecidos: ambos insistem, ambos sequestram nossos corpos. Do cigarro, eu larguei, mas do desejo, não dá. Musicalmente, a faixa é levada por uma bateria tripletada e um baixo bem groovado, que dão a sensação de ansiedade e urgência, evocando a psicodelia contemporânea. Na gravação, lembro do Bezerra se arriscando ao se inspirar tanto na tripletação quanto nas linhas de baixo de Tame Impala. É sempre um desafio se aproximar de quem já faz isso tão bem, mas o resultado trouxe frescor e força ao arranjo. Dentro do EP, é o ponto de maior vulnerabilidade, onde a confissão se transforma em catarse.
“Baila“: me inspirei, no alto da minha arrogância, em Liana Padilha do Noporn, ao cantar dizendo palavras. Repito “dance” em tom imperativo, mas aqui o comando é também um chamamento, uma permissão para que os corpos se expressem. Eu nunca soube dançar muito bem, mas sempre admirei quem se entrega de verdade ao próprio corpo. A música, o ambiente, as companhias: tudo isso pode se tornar espaço de liberdade, onde nada é contido e nada é julgado. Tudo é permitido quando há espaço para a presença e a expressão. Inspirada em como o Jungle celebra a dança de forma elegante, a faixa traz arranjo dançante, baixo rítmico e guitarras oitentistas que sustentam essa atmosfera de celebração.
“Coisas Aleatórias“: faixa mais vibrante e expansiva do EP, tem forte estética pop dos anos 80. A letra fala do frescor do começo de um romance, quando até conversas banais parecem infinitas. Coisas aleatórias, atos falhos e lampejos do inconsciente são os pequenos absurdos que se tornam o fio condutor da construção da intimidade. Na sonoridade, a faixa traz uma vibe Radio Ga Ga, com synths cintilantes, sequenciadores e uma bateria que remete à estética híbrida de drum machine dos anos 80 gravadas em fita magnética analógica. Curiosamente, na época em que compus a música, eu ouvia muito Norman Fucking Rockwell da Lana Del Rey, e foi justamente na faixa-título que me inspirei para a melodia de Coisas Aleatórias. O resultado final, pop e dançante, foi a maneira escolhida para encerrar o EP.