Antonio Neves seleciona cinco álbuns onde o arranjo é o foco; veja discoteca

25/06/2025

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Por: Peu Araújo

Fotos: Divulgação/Lucas Martins

25/06/2025

Há 20 anos na caminhada, no início como baterista e, posteriormente, como trombonista e arranjador, Antonio Neves já tocou com Teresa Cristina, Hamilton de Holanda, Leo Gandelman, Moreno Veloso, Kassin e Planet Hemp.

Fez arranjos para Alaíde Costa, Marisa Monte, Jards Macalé, Nando Reis, Ana Frango Elétrico e muito mais gente. Sua discografia solo conta ainda com PA7 (2017), A Pegada Agora é Essa (2021) e Deixa Com a Gente (2024).

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Recentemente lançou seu quarto álbum: De Las Nieves (2025), no início de maio. O show de lançamento acontecerá na próxima quinta-feira, 3 de julho, no Porta, em São Paulo.

O multi-instrumentista e arranjador, que compôs com Céu e Ladybug Mecca a faixa “Raiou”, foi buscar nas gavetas da memória afetiva cinco discos em que o arranjo — algo tão pouco discutido e valorizado no Brasil — faz toda a diferença.

Construção (1971) de Chico Buarque

“Meu avô, Paulo Villela, era artista plástico e ouvia muita ópera, muita música brasileira, chorinho, e ele tinha vários vinis do Chico Buarque, sempre gostou muito. Ele botava a gente para desenhar, deixava tocando uns álbuns e eu me lembro de estar ouvindo “Construção”.

Começa com o violão, entra a percussão e depois vai numa crescente, principalmente nessa faixa, com arranjo fenomenal do Rogério Duprat. Como um arranjo pode transformar uma música? A música é incrível, tem uma letra incrível, as proparoxítonas, mas quando o arranjo vem chegando, ele toma conta geral.

Deixa o ouvinte abismado, fissurado. Eu me lembro de estar com os meus primos desenhando na casa do meu avô e esse disco dar uma tomada de conta. Eu ouvi a música, dancei, botei para repetir várias vezes. E tem essa memória afetiva também”.

Allegresse (2000) de Maria Schneider

“Meu pai, Eduardo Neves, é músico, arranjador, flautista, saxofonista. Tocou com Zeca Pagodinho, Hermeto Pascoal, Paulinho da Viola, Maria Bethânia, Luiz Melodia e mais uma porrada de gente muito fera da música. Eu me lembro que a gente ouvia muita música no carro, quando ele levava a gente para escola, e ele apareceu com um disco da Maria Schneider chamado Allegresse (2000).

Foi um disco que eu também fiquei ouvindo em loop, botava pra tocar bateria junto, as músicas tinham uns compassos malucos e tal. É muito interessante a maneira como ela conduz a orquestra, não é todo mundo tocando o tempo inteiro e a música não tem um negócio de parte A, parte B, parte C, parte D, a música vai indo sem muito voltar pra trás, as pontes de improvisos, elas não são em cima de onde foi o tema como normalmente é.

Eu percebi que ela tinha umas pontes de improviso que eram umas outras harmonias, e isso abriu a minha cabeça de que não precisa sempre seguir aquela forma, aquele formato. Ela já tocou no Brasil, no Ibirapuera, meu pai até fez parte da banda brasileira”.

The individualism of Gil Evans (1964) de Gil Evans

“Meu pai apareceu uma vez, no carro também, com um disco do Gil Evans, que era o Out of the Cool (1960), e eu já fiquei maluco. Só que depois eu fui dar uma pesquisada nele e descobri esse disco. Ele traz isso também de não soar como uma big band americana clássica e tem muita coisa interessante.

Por exemplo, quem toca bateria é o Elvin Jones, que era baterista do John Coltrane, e você não imagina muito ele nesse contexto. Eu sou baterista também e pirava no Coltrane e no jeito do Elvin Jones tocar, nunca tinha imaginado ele fora de um quarteto de jazz.

Wayne Shorter toca nesse disco, tem várias estrelas do jazz ali. E tem as composições muito incríveis, tem umas texturas muito loucas. O Gil Evans foi um dos únicos arranjadores que o Miles Davis chamou para fazer as paradas dele. Ele fez os arranjos do Sketches of Spain (1960), Birth of the Cool (1957) e mais uns outros. Era um cara casca grossíssima”.

Western Suite (1960) de Jimmy Giuffre

“Esse cara é um clarinetista e saxofonista da Califórnia, e esse disco é de trio, com o Jim Hall, na guitarra, e o Bob Brookmeyer. Quando a gente pensa em arranjo, geralmente pensa em big band: quatro trombones, cinco saxofones, quatro trompetes, base com baixo, bateria, piano, guitarra e percussão, ou então orquestra de cordas com violino, viola segundo violino e contrabaixo violoncelo… E não, arranjo às vezes é feito para uma formação de três pessoas mesmo. Então, acho maneiro também esse disco. É uma parada super imagética, e quem me apresentou foi um amigo, o Cadu, que é viciado em vinil”.

Meu Balanço (1975) de Waltel Branco

“Eu queria ressaltar um disco do guitarrista carioca Waltel Branco, que faleceu em 2018. Esse disco me foi apresentado pelo baixista Bruno Di Lullo. É um trabalho bem rico, bem eclético, tem umas músicas funkeadas. Era anos 1970 a parada, então tem baixo elétrico, umas guitarras com fuzz, naipe de metais cheio de reverbs e uma estética muito interessante.

Tem faixa que é trompete com orquestra de violinos, bem romântica, e abre com uma versão de “Luar do Sertão”, é muito foda. Tem orquestra de cordas meio funk, várias lendas da música brasileira na ficha técnica. É um álbum que não é tão falado assim, acho que vale a pena ressaltar”.

*Esta matéria foi publicada originalmente na revista Noize 87 que acompanha o disco Novela, da Céu, lançado pelo Noize Record Club.

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25/06/2025

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Peu Araújo