Atalhos revisita pop rock oitentista e pegada dream pop em novo disco; leia faixa a faixa

08/08/2025

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação/Felipe Martins

08/08/2025

Os paulistas da Atalhos fazem uma mistura interessante que, a todo momento, transita entre o alternativo e o popular, o dream pop onírico e um som mais radiofônico. Esse mix se mostra ainda mais potente em A Força das Coisas, quinto disco da banda. O lançamento, em junho, contou ainda com uma apresentação do novo som para o público no Bar Alto, em São Paulo, comprovando a sinergia do grupo ao vivo.

“É o primeiro álbum em que assino 100% da produção. Acho que, por isso, acabou sendo o trabalho mais meticuloso que gravamos até agora”, conta Gabriel Soares, que formou a Atalhos em 2014 com Conrado Passarelli. A banda se completa com Nico Paoliello e Fabiano Boldo.

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O novo trabalho segue a aposta no dreampop e nas guitarras oníricas que se firmaram no álbum anterior, A Tentação do Fracasso (2022), promovendo uma ponte entre a sonoridade do pop rock brasileiro dos anos 1980 e do indie/alternativo de bandas como Pavement e Wilco, numa mistura consistente em que, ora os riffs de guitarra, ora a toada do violão, são protagonistas. Já as letras são inspiradas pelas reflexões após o termino e o romper de antigos laços, por sonhos e pesadelos, como nos conta Gabriel neste faixa a faixa.

A narrativa-musical de A Força das Coisas foi inspirada no terceiro livro de memórias de Simone de Beauvoir, de mesmo título, seguindo a vibe do álbum anterior, influenciado pela obra do escritor Julio Ramón Ribeyro. “Somos uma banda que se expande e incorpora os lugares por onde passa”, diz Gabriel. O álbum ainda conta com participações do paraguaio Franco Ocampo, do El Culto Casero, e dos chilenos Ives Sepúlveda, do duo The Holydrug Couple, em “Delirios en Paraguay”, e Antonia Navarro, na faixa “Anjo Mau”.


Confira A Força das Coisas faixa a faixa, por Gabriel Gonçalves:

“Assim Falou Zaratustra”: “Quero ter, outra vez, a boa solidão”. A frase que abre o disco representa a ruptura, o final de uma relação amorosa e o retorno a si mesmo, mas através de uma perspectiva de potência e de força, sem cair na melancolia. A faixa sintetiza o caráter de todo o álbum: a consciência do absurdo, a inevitabilidade da morte e dos términos, o mergulho no abismo e a condição do ‘amor fati’ que Nietzsche falava: amar o próprio destino. “Sou essa taça vazia”, ou seja, sou consciente de que algo se esgotou e terminou. Agora devo seguir adiante, sair do ninho, voar para mais longe, “preparar pra queimar e ser a minha própria chama”. 

“Anjo Mau”: “A vida não tem nenhum sentido e eu te dou a mão”. A atmosfera de sonho se inicia sugerindo a consciência do absurdo, do final da relação e das novas possibilidades que se apresentam adiante. Gosto de imaginar a minha voz e a da Antonia como se fossem anjinhos do mal (risos) consolando aquele que está enfrentando um término de relação, indicando a luz no fim do túnel, iluminando os caminhos na escuridão para uma nova viagem que devemos iniciar: para longe. “Y si un dia se van, sabremos como seguir, llegaremos lejos”.

“Ondas de Calor”: Quando acordamos no meio da noite empapados em suor e encontramos a cama vazia. Essa cama pequena onde antes dormiam duas pessoas e que agora parece ridiculamente grande porque só existe uma. Pensamentos confusos e nostálgicos no meio da madrugada quando nos damos conta de que estamos realmente sozinhos, outra vez. Tentamos encontrar respostas e explicações, mas “são só imagens que a gente tenta manter na cabeça”

“Ayer Morí”: É a canção do day after. A viagem do dia seguinte ao término da relação. “No asfalto, tantas horas, na poeira te levei”. Com os volantes nas mãos e a estrada adiante só resta acelerar para longe, para qualquer lugar. “A vida é foda, eu já não moro mais aqui”. Dessa vez é um caminho sem volta. Ontem eu morri e agora preciso renascer.

“Belo Horizonte”: O céu cinza, a tempestade chegando, as longas viagens em silêncio no carro. O desespero que ameaça a cada curva e a euforia que de repente chega numa longa reta onde aceleramos abraçando essa nova liberdade que se anuncia. Outra vez penso, sim, “quero ter de volta a boa solidão”. Não sei se me convenço, mas quero escapar do desespero a qualquer custo.

“Delirios en Paraguay“: Talvez eu esteja ficando louco… já avisto a fronteira. Do outro lado está o novo mundo, a sensação da possibilidade novos começos, a chance de viver novas histórias. Sei que estou delirando, mas quero mergulhar nesse delírio porque ele me faz bem, eu me sinto bem agora. Sonho acordado, faço planos… sobrevivi. “Nessa viagem eu vou com você e os nossos medos não têm força”. 

“A Força das Coisas”: O tempo redescoberto. Agora nos transformamos em memória e ausência, mas podemos sentir a presença da história que vivemos, ela segue em nós e já não nos amedronta. “É tão maior, ó meu amor, agora”. Eu não esqueço e já não quero esquecer, sigo com o volante nas mãos acelerando e pelo retrovisor posso ver o rastro e as marcas do meu traçado existencial, e através desse espelho percebo também que estou sorrindo.

“Desejos de uma Tempestade”: Eu sou o sonho, sou estrada. Quero ouvir o estrondo dos trovões, quero ver os raios que iluminam o horizonte, eles não me assustam, não tenho medo. Amo a tempestade na estrada e o efeito renovador que ela traz. Sim, esta é uma despedida. Agora eu e você somos somente ausência um do outro, mas ainda estamos aqui, em todas as coisas. “Com todo o meu amor, pra sempre, na força das coisas vou estar”.

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08/08/2025

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