“Atingi o teto da minha esquisitice”: o hyperpop à brasileira de Nina Fernandes

11/07/2025

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Por: Vitória Prates

Fotos: Divulgação/Wallace Domingues e Carol Martins

11/07/2025

Após se aventurar em trabalhos com uma pegada folk, Nina Fernandes hoje experimenta um hyperpop à brasileira — do jeito dela. Foi esse som que a cantora levou ao palco Supernova do Rock In Rio, no ano passado. Hoje, podemos ouvir o resultado dessa apresentação no álbum Nina In Rio (2025).

Lançado em 30 de junho, no repertório, estão nove faixas que capturam a essência da performance, em faixas como “Bhangzwn”, “Sussurro” e “⁠Boneca Paranoica”, do seu último álbum, Bhangzwn (2024).

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Depois dos EP’s Nina Fernandes (2017) e Digitando…(2019) e do álbum Amor é Fuga: Fuja (2021), Nina quebrou as expectativas com Bhangzwn (2024), álbum que nasceu desse laboratório de experimentações sonoras do hyperpop, ao lado do produtor Daniel Soares. Em dez faixas, ela ressurge como uma diva para explorar o lado irônico, imperfeito e divertido do pop.

Da desilusão amorosa de “Cruel” — que acumula mais de 24 milhões no Spotify — para Bhangzwn (2024) foi uma reviravolta. A palavra, inventada por Nina e que nomeia seu álbum, representa um estado de alegria desmedida. Ela própria define o trabalho em 3 palavras: psicodélico, corajoso e estranho, assim como o hyperpop em si.

Nina e Daniel comandam Bhangzwn (2024), mas outros colaboradores também entraram, tanto na produção quanto na composição, como: Deco Martins, Julio Petterman, Bola, Beatriz Marques, Pegê, Clara Valverde, Ana Gabriela e Josefe.

Pop demais

O hyperpop, como o próprio nome sugere, vem do muito. É o pop, mas exagerado, cheio de elementos da música eletrônica. É um gênero adolescente, que começou a despontar nos anos 2010, com a geração que nasceu na internet. Tavez por isso, o futurismo influencie as letras e estética desse gênero.

O hyperpop é um pouquinho de cada coisa e nada convencional. Do underground, chegou aos holofotes. Hoje, Charli XCX, A.G Cook e 100 gecs comandam a cena, ainda sem muitos representantes no Brasil.

Em Bhangzwn (2024), Nina faz algo diferente: sua versão intimista abre espaço para a Nina extrovertida, mesmo com o rebranding, a cantora paulistana mantém a sensibilidade característica nas composições, mas agora explorando também o pop, funk e reggaeton.

Em entrevista a Noize, a artista fala sobre transição de sonoridades, o novo álbum, referências, trilhas sonoras e o show no Rock in Rio.

Nina, estou muito animada para falar mais sobre sua nova fase musical. Depois de 3 trabalhos focados no folk e MPB, você fez essa migração para o hyper pop. Por que decidiu fazer essa transição de sonoridades?

O hyper pop sempre fez muito parte das minhas playlists, eu só não tinha conseguido traduzir ele para o meu som. Meu disco anterior ao Bhangzwn (2024), o amor é fuga: fuja (2021) já tem alguns flertes com esse estilo, mas não de forma tão óbvia e descarada quanto o Bhangzwn (2024) que, pra mim, é o exagero da estética.

É a materialização de algo que eu já queria fazer a muito tempo, porque eu sempre fui fã e consumidora do estilo, sempre achei muito autêntico ir nessa contracorrente do pop. É o nosso lugar, como artistas, estar sempre questionando o próprio gênero.

Quando a gente está começando a fazer trabalho na música, perguntas muito frequentes são: “Como você se enxerga?” e “Onde você se vê?”. Acho que isso é interessante para a gente se conhecer, conseguir se organizar na música e entender, em termos de gênero, de onde a gente vem, mas eu sempre questionei isso. O artista que está realmente atento ele está ouvindo um pouco de tudo.

Sempre admirei os artistas que tentavam se colocar em um lugar de não-gênero, o David Bowie era assim, a própria Charli XCX, apesar de ser dita como a “mãe do hyper pop”, também passeou por tantas camadas no hyper pop até chegar no brat (2024), que é essa piada, essa brincadeira, quase uma sobra do hyper pop.

Fazer essa “transição de sonoridades” é um sonho antigo, também aconteceu por uma questão circunstancial. Eu fiz um amigo produtor, o Daniel Soares, que é um cara que também sempre gostou de ouvir hyper pop, e que é engenheiro elétrico, estava em outra brisa de vida, mas a gente se juntou para fazer esses experimentos com o hyperpop.

De forma despretensiosa, começamos a fazer uma música por semana, como um exercício. Aí nasceu o Bhangzwn (2024), nem era um disco planejado, era só um estudo. Na metade do processo, percebemos que tinha um disco aí.

Suas músicas já foram trilha sonora de novelas da Globo, como Malhação e Espelho da Vida e do filme Pai em Dobro. Em qual tipo de história você enxerga alguma faixa de Bhangzwn (2024) na trilha?

Que dúvida, é uma pergunta difícil [risos]. O Bhangzwn (2024) passeia por vários assuntos ligados ao amor. Eu sempre escrevo muito sobre o amor romântico. O legal é que ele é o meu disco com mais opções visuais, me vê situações muito diferentes uma das outras, em termos de sonorização com vídeo.

“Não É Ruim” é uma música que sempre me remeteu as minhas referências dos anos 90, anos 2000, Alanis Morissette e Avril Lavigne. No estúdio a gente brincava que imaginava uma menina colocando as coisas dela no carro, saindo da faculdade, em um filme de comédia romântica, meio coming of age acabando. Apesar do disco ser hyper pop, ele é meio graduação.

Ele tem um pouco de tudo, eu sinto que ele é um projeto de conclusão de curso. “Ele Tinha Namorada”, por exemplo, é a música mais safada, sempre me remete a uma situação de Malhação [risos]. Cada música tem um gostinho e o artista fica imaginando, o Bhangzwn (2024) tem um pouco de cada coisa.

Quais foram suas principais referências para criar esse hyperpop à brasileira? Como você imagina que esse gênero vai se desenvolver por aqui?

A Charli XCX foi a primeira grande referência. É meu bizarro falar isso, porque, hoje em dia, ela é uma das maiores artistas do mainstream. Mas, quando eu comecei a ouvir, ela já tinha 10 anos de carreira e bastante tempo acreditando no hyper pop e sendo completamente desrespeitada por gravadoras, ignorada e taxada como uma mulher estranha. Sou muito fã dela.

O primeiro trampo dela que eu ouvi foi how i’m feeling now (2020), mudou minha vida. A partir dela, eu fui entrando no universo. Conheci a Sophie, que também é dita como a mãe do gênero, e também o AG Cook. Ao longo do processo do disco, essas foram grandes referências, mas eu também descobri coisas que não são bem hyperpop, tem algo da ditadura do synth, mas ao mesmo tempo tem outras coisas misturadas.

É um estilo que ainda não tem tanto no Brasil, mas, pra mim, o legal mesmo é quando a gente consegue sair um pouco dessa referência quadrada do que é o hyper pop inglês ou norte-americano pra tentar entender o que significa o hyper pop no Brasil.

Faixas como “Ele Tinha Namorada” e “Sussurro” são músicas que me dão orgulho porque tentamos sair da lógica de reproduzir coisas que a gente gosta nas referências e tentar trazer coisas do estilo tipicamente brasileiro, como o funk. “Sussurro” também traz reggaeton, algo super latino.

A tendência legal é essa e é algo que eu tenho buscado, que é misturar a influência brasileira com a coragem do hyper pop. A essência do hyper pop é ser sarcástico, é tudo uma grande ironia, um grande exagero, é uma brincadeira com o que a gente entende como pop.

Então vamos pegar um timbre que não se usa mais, desde 2008 e transformar em uma coisa engraçada e interessante porque tudo vale no pop. Hoje em dia, a gente tem muitos artistas incríveis no Brasil, mas por conta dessa idealização do que significa construir uma grande era, tem uma tendência dos artistas se levarem um pouco a sério demais e o mais legal do hyper pop é que a maioria desses artistas se leva pouquíssimo a sério, é algo espontâneo.

Para garantir que o gênero seja mais do que uma réplica do que há lá fora, como criar um hyper pop mais local?

As canções precisam estar no centro. Tem um fenômeno de produção que é massa, o sound camp, juntar vários compositores em uma sala e transformar uma tarde de produção em uma tarde produtiva e rápida. É algo que funciona muito para o pop, no próprio Bhangzwn (2024) eu fiz muito isso, foi algo agregador, trouxe muitos compositores em uma criação coletiva.

Mas a urgência de produzir logo e rápido é algo que precisa acabar, ou que precisa dar espaço para uma criação um pouco mais criteriosa. Como brasileiros temos no repertório grandes canções que têm história, foram escritas com tempo e vivência. Isso não dá para perder, mas é difícil. É uma negociação eterna. O hyper pop, mal ou bem, é um estilo que simplifica. É o maximalista minimalista.

Foi um desafio no Bhangzwn (2024), várias vezes pensávamos em melodias que funcionariam super bem com músicas em inglês, com mensagens simples e objetivas. Mas na hora de ser brasileiro e colocar história e sentimento é limitante.

Temos que continuar tendo como referência grandes artistas brasileiros para fazer um trabalho que flerte com algo de fora. As referências brasileiras precisam ser inegociáveis. Não dá para ter na conversa só a Charli XCX de forma tão constante, como eu sei que faço, mas não estar ouvindo também a Nana Caymmi, Caetano Veloso e Chico Buarque, os grandões que dão sentido para a parada. Dá para cantar em inglês, mas não tem o mesmo molho.

Quais são suas referências brasileiras?

Durante o disco, estava ouvindo muito o Caetano, mas atualmente tenho ouvido muito a Nana Caymmi. Estou até olhando minha playlist. Também tenho ouvido muito Roberto Carlos, acho que ele é um artista polêmico, entre os fanáticos por música brasileira, mas eu acho incrível, porque ele é o artista mais pop que existe na história da música brasileira.

O Vinicius Cantuária também foi uma referência durante o disco, ele é um cara muito foda. No início do ano, eu passei por um hiperfoco em Dorival Caymmi, é um dos artistas mais comprometido com o universo, que é o Brasil. Tem poucos artistas no país que se comprometeram tanto a contar a mesma história, ou histórias diferentes dentro de um microcosmos, que, no caso do Dorival, é viver da pesca no Brasil, viver do mar, e falar de água. É maravilhoso, eu acho que ele é o maior de todos. [risos].

Eu ainda tenho muita coisa para conhecer, muita coisa para pesquisar. No início do ano também busquei muito ouvir artistas femininas falando sobre o feminino, as coisas que eu tenho criado agora, para meu disco novo, giram em torno do universo feminino. O que é ser feminino? Eu me deparei com o disco de uma artista, que se chama Joyce Moreno, que se chama Feminina (1980). A partir daí, várias recomendações apareceram. Comecei a ouvir muito a Marina Lima também.

A Charli também fala muito sobre isso. O brat summer não acabou e sobre ela ser uma mulher com mais de 30 anos, ter uma carreira longa, o que significa ser uma mulher na música, quanto tempo dura esse auge e por quanto tempo as pessoas vão querer olhar para ela e consumir e dar valor para o que ela faz.

Essa é uma reflexão muito legal para se ter no Brasil também. Por exemplo, Fullgás (1984) da Marina Lima fez aniversário e a gente fala muito pouco sobre mulheres e seus discos fazendo aniversário. Quando você pergunta de referências, ultimamente o que tem orientado minhas referências é isso. Precisamos estar celebrando muito mais.

Eu sou uma fanática de Joni Mitchell, ela é uma das minhas primeiras referências do folk. A Joni Mitchell tem uma carreira absurda e, até hoje, as pessoas se sentam com ela e perguntam como ela se sente de ser a versão feminina do Bob Dylan. Eu acho isso hilário [risos] é uma doidera, totalmente absurdo. Esse é o pensamento que eu tenho usado para orientar as minhas referências. Falei muito do Dorival Caymmi, mas também é muito legal ver como a Nana deu prosseguimento a algo que ele começou de uma forma ultra feminina e sensível. Isso tem me interessado muito.

Nina, você comentou que está planejando um novo álbum. Conta um pouquinho sobre ele

Comecei recentemente, como o Bhangzwn (2024), de forma despretensiosa. É sempre difícil esse período entre safras, quando se lança um disco e está fazendo um pouco de show, mas ainda não está rolando um projeto novo. A gente fica com um pé em um lugar e o outro pé em outro.

Mas, basicamente, é um disco que venho dessa vontade de falar de um lugar um pouco mais feminino. Eu queria fazer algo diferente do Bhangzwn (2024). O Bhangzwn (2024) começou a 4 mãos, ao lado do Dani, em cima de referências que eu já tinha. Com o disco novo, eu tenho feito um pouco isso com o produtor, o Pedro Brando, que também é um grande amigo meu.

Ele é produtor de trap, um outro universo, não que eu esteja indo para esse lado, mas a gente se juntou e estamos olhando para o mesmo lugar. Ele também está muito acostumado a trabalhar com artistas homens, que é um outro universo de sensibilidades. Estamos indo contra a corrente minha e dele, e isso é muito especial. Um artista que tem sido uma referência é oklou, uma artista francesa que, também faz o hyperpop, mas é algo minimalista. Ela fala de um lugar feminino muito sincero.

O Pedro tem me deixado livre de um jeito que eu estou amando muito. Com o Dani foi muito massa também, mas eu queria aproveitar todo o potencial dele, de beatmaker, então ele fazia muita coisa e eu dava muito pitaco. Com o Pedro eu tenho tocado tudo, voltei para um lugar de participar das minhas produções, estar envolvida desde o princípio, e a gente já tem escrito as letras, essa é uma diferença para o Bhangzwn (2024).

No Bhangzwn (2024) a gente fez, musicalmente, o projeto inteiro. Olhamos para ele e pensamos: sobre o que ele vai falar? Nesse disco, está muito claro sobre o que ele fala, que é sobre feminilidade, meio tilelê [risos] algo espiritualizado. Estou nessa brisa.

Artistas que eu gosto de hyperpop parecem estar desenhando esse mesmo caminho, de volta para um lugar mais simples. Com o Bhangzwn (2024) atingi o teto da minha esquisitice, ainda tem espaço, mas a tendência é enxugar um pouco.

Não me vejo mais voltando para o folk que eu fazia, mas é um híbrido entre todas as coisas que eu já fiz. Eu comecei o álbum em março, temos 11 músicas rolando, mas não tenho data para lançar. Quero, em outubro, começar, de fato, a produção dele, espero lançá-lo em meados do ano que vem. Quero fazer sem pressa, o Bhangzwn (2024) ainda tem muita coisa para viver.

Você estourou ainda muito nova, com 17 anos, com “Cruel”. Aos 25, o que mudou na sua mentalidade como artista? No lançamento de “Cruel”, como você imaginava sua carreira naquela época e quais seus objetivos agora?

Quando eu lancei meu primeiro disco – Nina Fernandes (2017) – eu não tinha a menor ideia do que poderia acontecer. O tamanho da minha ignorância se define da seguinte maneira: eu não tinha noção de que eu poderia ser uma artista entre os 0 ouvintes a 1 milhão [risos]. Pensava que ou ninguém ia ouvir nada que eu estava fazendo ou que ia me transformar na Anitta.

O que eu entendi, de lá pra cá, é que existem muitos nichos de consumo da música brasileira, todos os gostos e estilos, isso é reconfortante. Sempre vai ter espaço para o que você está pensando e sua visão. E, de novo, voltando para a Charli [risos]. Falamos sobre ela estar “tentando há 10 anos” e, por mais que a gente saiba que ela teve momentos de desrespeito, porque as grandes corporações continuam valorizando só o resultado, do que estourou mais ou menos.

Mas eu acho muito maneiro que ela foi uma artista com um caminho tão consciente, sem explosões tão bizarras, como foi o brat (2024), é que ela teve total liberdade para desenvolver o trabalho que ela achava que fazia mais sentido artisticamente.

Com “Cruel”, que foi a primeira música que eu escrevi na vida, eu não esperava que pudesse chegar nas pessoas do jeito que chegou e, ao mesmo tempo, ainda existia uma frustração das expectativas de eu ser uma artista ultra-mainstream. Era desgastante pensar no que eu estava disposta ou não a negociar para chegar nesse lugar. Isso foi até eu entender que o mais legal é nadar contra a correnteza.

Eu percebi que as artistas que eu mais gosto são artistas autênticas que não estão fazendo a mesma coisa que o que viralizou. “Cruel” foi uma baita surpresa, minha primeira música de trabalho. Logo veio o disco e rolaram essas sincronizações com novelas, era uma época que o streaming estava começando e a televisão tinha um força diferente do que tem hoje.

Foi divertido, ao mesmo tempo que é desgastante por, no início, ter tido expectativas que, depois eu entendi cultivar elas iam destruir trabalhos que, artisticamente, fariam sentido. Eu fui tirando a importância disso.

Como você sentiu a recepção de Bhangzwn (2024) pelo público?

A recepção foi muito louca, bem variada. As pessoas esperavam que eu fosse fazer um disco que desse prosseguimento ao o amor é fuga: fuja (2021), que fosse para o folk ou até para um lugar do rock e indie. Eu entendo as pessoas terem ficado um pouco frustradas. [risos] com essa transição. Mas, por outro lado, são coisas que sempre fizeram parte da minha playlist e eu nunca escondi que eram influências.

Eu acho que a palavra – Bhangzwn – causa um estranhamento, eu quis fazer isso de propósito. O Bhangzwn (2024) me dá uma possibilidade muito maior de ir para qualquer direção. Eu entendo o Bhangzwn (2024) como um corte seco. Eu fico feliz, não me arrependo, eu já estava ouvindo muita coisa diferente e queria fazer um disco diferente.

O que significa Bhangzwn?

Bhangzwn é uma palavra inventada porque eu queria traduzir a maior sensação de alegria e êxtase para uma pessoa. É um lugar meio Nirvana. Eu já tinha começado a base da música “Bhangzwn” com o Daniel, os sintetizadores e toda a produção dela estava me levando para um lugar sintético, colorido e sinestésico. Fez sentido criar uma palavra que define essa sensação porque qualquer outra palavra que eu estava usando, estava simplificando muito aquela sensação.

É alegria, mas é muito mais do que isso. O hyperpop é um exagero, tem que fechar o olho e fazer, mas é engraçado, obviamente, as pessoas perguntavam: “Amiga, você sentou no teclado e saiu essa palavra?” [risos]. A gente não queria escrever Bhangzwn como se fala (bang-zoom).

Bang-zoom me remeteu a algo infantilizado, também não queria que as pessoas pensassem nela só como uma onomatopeia. A ideia era exagerar a impossibilidade dela, leva a música e o disco para um lugar estranho e impossível de propósito.

Você lançou Bhangzwn (2024) em setembro do ano passado e, no mesmo mês, apresentou o repertório no Rock in Rio, como foi a recepção?

Eu encarei o show do Rock in Rio como um show de estreia. Foi difícil tomar essa decisão, porque, quando você está no Rock in Rio, passa um filme na sua cabeça e dá vontade de fazer uma retrospectiva e levar um pouco das outras Nina’s e versões das outras músicas.

Mas, o Bhangzwn (2024) é um disco tão coeso nele mesmo. Ele é o motivo pelo qual eu consegui a oportunidade de me apresentar no Rock in Rio, por isso eu não quis puxar as outras músicas. É um disco que tem gosto de graduação de faculdade, sabe? É o começo e o fim de várias coisas.

Levar ele para o palco foi incrível. O processo de preparação foi ultra-intenso, todo artista cresce com essa oportunidade. Não só a oportunidade de estar no palco naquele dia, mas também de tudo que vem antes. Você se enxergar como uma artista séria. Se entregar em um palco que tem tanto nome e é tão importante.

Por que você decidiu lançar um álbum ao vivo?

As músicas engrandeceram muito no show. Fico feliz desse ser meu primeiro álbum ao vivo, porque sinto que ele é meu show mais maduro, até hoje. Havia uma série de limitações técnicas que tornaram o show possível. Ele tinha que ser maduro e ser rápido, é entrega total em 45 minutos de show de festival. Sempre quis essa vivência.

Sempre quis que as minhas músicas fossem animadas o suficiente para estarem em um set de festival. Foi fascinante acontecer tão rápido. Desde o início, a gente sabia que ia ser um show gravado. A Filtr, que é a dona do palco, faz captações super lindas.

Gerou uma expectativa cada vez maior. Fizemos remixagens e masterizações das músicas para elas ficaram ainda mais maneiras. Pra mim faz sentido, porque se as músicas ao vivo fossem só uma repetição do que tem no disco, não faria sentido um álbum ao vivo, mas um show com banda fez as músicas ganharem um tamanho diferente.

Do álbum, qual música melhor te define e/ou qual a faixa coração do álbum?

Pelo fato de definir o álbum, acho que “Bhangzwn”. Mas, é engraçado, eu acho que “Água” define muito também, não o disco, mas o meu momento quando eu escrevi Bhangzwn (2024). “Água” é metalinguística.

No disco, falo sobre ser fluída, e ser fluída ao ponto de fazer um projeto diferente e inesperado. Pra mim, “Água” define o meu momento no ano passado. É sobre desapegar de expectativas que se tem de si mesmo. É uma música que define o movimento. Mas, “Bhangzwn”, pelo fato de definir a palavra, ele, sonoramente, representa o caminho do disco todo. “Água” é uma música mais Nina antiga, mais folk.

Vamos falar sobre a estética. O hyper pop é musical, mas sua presença também se reflete no maximalismo, que bebe muito do new wave e vaporwave, por exemplo. Em alguns clipes, senti que entrei em um videogame mesmo. Como foi o processo de criação do conceito visual do álbum?

Uma coisa foi complementando a outra. Sonoramente, as músicas sempre me levaram para um lugar de videogames, os efeitos que o Daniel trouxe, também o Jean Lucas e PG, os outros produtores que entraram no meio do processo, sempre vinham desse universo de Mário Galaxy, Mário Kart e Wii Sports [risos]. É uma coisa que faz parte de mim, sempre fui gamer.

Uma coisa vai se ligando a outra e o que define você bancar ou não a parada tem a ver com o que você é. A gente só bancou porque, além de saber que o estilo tem muito a ver com o universo de games, todo mundo ali é um pouco fã de videogames. Depois, para os visuais, a gente trouxe isso.

Me juntei com o meu amigo Gab Lima, diretor de arte e criativo, que já tinha trabalhado antes no o amor é fuga: fuja (2021). Desde o início, a gente entrou muito na brisa de procurar referências, inclusive fora do hyperpop. O Gab, além de ser um criativo maravilhoso, ele é um fã maravilhoso, ele é muito comprometido com os artistas pop que ele ama. Aprendi muito sobre pesquisa com ele.

Desde o início, a gente falava sobre a água ser o elemento central do Bhangzwn (2024). Fixei no assunto dos games, entendi que a interface seria de videogame, sabia que essa era a linguagem, mas o Gab me puxou para encontrar algo maior do que isso.

O que dá liga ao trabalho? Quais são os elementos desse game? Não é só a interface. Entendemos que existe uma repetição bem constante de palavras, como mergulhar e se molhar, por exemplo. Reparar nessa repetição nas letras fez diferença para a estética, algumas coisas começaram a ficar mais claras. Se é um disco que é colorido e psicodélico.

A gente pode começar pesquisando sobre animais aquáticos exóticos. Foi daí que trouxemos o boto cor de rosa. No início, na piração total, tínhamos algumas referências de animais aquáticos. Encontramos uma arraia jamanta rosa e brisamos nela, vendo vídeos, mas depois veio o boto. Eu sou muito fã da Rosalía, uma grande referência para mim.

A gente sempre brincava que a Rosalía é a motomamí, então eu precisava ser mami de alguém bicho aquático. Ai eu falei: “Ah, e o botomamí?” Podemos nós apropriar do boto, piração total [risos]. Ouvimos muito o disco para caçar esses elementos e trazer eles para a estética visual. Vai passando um tempo e você começa a dizer que estava tudo interligado sendo que, no fim das contas, é uma grande zona, depois você vai entendendo que uma coisa se conecta com a outra.

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11/07/2025

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Vitória Prates