Novembro é o mês de encerramento da Bienal das Amazônias. Realizada em Belém e com entrada gratuita, a segunda edição do projeto reúne 74 artistas e coletivos de oito países. A mostra fica em exibição até 30/11, no CCBA.
Uma das obras presentes é Quimera, de Wilson Díaz, um dos trabalhos mais populares do artista colombiano. A instalação apresenta 371 LPs prensados por gravadoras, guerrilhas e cartéis do narcotráfico, além de cinco aquarelas e 17 pinturas. A obra reflete sobre o papel da indústria fonográfica, da propaganda militar, da guerrilha e do contrabando na construção do imaginário cultural do país.
Em seu trabalho artístico, Wilson Díaz frequentemente critica o conflito armado e a militarização da Colômbia, seja referenciando a resistência cultural local ou a espiritualidade. O artista já realizou exposições na Bienal de Veneza e no Museu Tamayo.
Wilson faz parte da parcela de 40% dos artistas estrangeiros da Bienal. Ao pensar a região pan-amazônica, os curadores convidam talentos que compartilham o território, mas raramente são colocados em diálogo. Assim, essas obras propõem questões de memória, ecologia, linguagem e pertencimento.
Alguns artistas apresentam trabalhos inéditos na Bienal. É o caso do paraense Roma Rio, em obra que reflete sobre a economia do cuidado nas periferias, seguido pelo coletivo equatoriano Tawna em trabalho sobre oralidade indígena e Nathyfa Michel com intervenção sobre espiritualidade afro-caribenha.
Verde-distância
À frente da equipe curatorial, Manuela Moscoso explica o que é o “verde-distância”, conceito que guia esta segunda edição da Bienal, extraída da obra Verde Vagomundo de Benedicto Monteiro: “Essa imagem poética nos ajuda a pensar os territórios da Amazônia. Verde-distância não é um lugar fixo, mas uma força em movimento. Cada obra propõe um modo distinto de pensar a floresta, a cidade, o corpo e o futuro”, diz, em entrevista à Noize.
“Quimera traz uma força singular à Bienal. Por um lado, documenta uma história silenciada, reconstruindo sua narrativa através de sons e objetos; por outro, evidencia como o vinil, produto derivado do petróleo, conecta a guerra, a indústria e a cultura popular. Ela desafia os modos hegemônicos de fazer história, revelando que a memória também pode ser tátil, sonora e afetiva.”
“Quimera desafia os modos hegemônicos de fazer história, revelando que a memória também pode ser sonora”
“A Amazônia não é um bloco homogêneo, mas um tecido vivo”
Para além do “verde-distância”, a Bienal se articula em três eixos temáticos; sonhos, memória e sotaque; que conectam os artistas da exposição. “Juntos, os trabalhos não apenas ilustram os eixos curatoriais, mas os expandem poeticamente. Pensamos a tecnologia visionária, o corpo como arquivo e as diferentes formas de viver e falar”.
A curadora explica o objetivo do evento: “A proposta da Bienal das Amazônias não é apenas reunir artistas de uma região geográfica, mas criar uma narrativa que permita reconhecer as proximidades entre eles. Estamos falando de territórios que compartilham feridas e saberes. A Amazônia não é um bloco homogêneo, mas um tecido vivo e múltiplo de experiências em movimento”, diz Manuela.
Quando perguntamos sobre os maiores desafios de levantar uma Bienal desta magnitude, Manuela explica: “O tempo é curto, os recursos são escassos e há múltiplas expectativas em jogo. Estou apostando na continuidade do projeto, uma bienal como essa precisa de cuidado para crescer, e que só pode existir se mantiver seu compromisso com os territórios”, afirma.
Bienal das Amazônias – 2025
Datas: até 30 de novembro (domingo)
Local: Centro Cultural Bienal das Amazônias (CCBA)
Endereço: Rua Senador Manoel Barata, 400 – Campina, Belém – PA
Ingressos: gratuito