No último dia 14, Porto Alegre foi parada obrigatória da Perpétuo Tour, que trouxe ao palco a potência do Black Pantera com energia da No Rest. O evento, organizado pelo Morrostock de Peso, mostrou que as cenas do punk e do metal seguem pulsando com tanta força: energia, crítica social e muita música pesada dividiram espaço no Bar Opinião.
O show começou com a banda No Rest. Com mais de 30 anos de estrada, as pratas da casa apresentaram faixas como “Sistema”, “Caridade”, “Nem Sujeição Nem Apatia” e “Resistência Sempre”, aquecendo o público com a sonoridade visceral.
A banda, formada por Aline Rodrigues, Paulo Zé, Santiago Rodrigues e Juliano “Knela”, tem repertório cheio de contestação, consolidando-se como uma das principais referências da cena underground da capital gaúcha.
Na sequência, o Black Pantera subiu ao palco para tocar o repertório de hinos já conhecidos, incluindo “Padrão É o Caralho”, “Fogo Nos Racistas”, “Seleção Natural”, “Perpétuo” e “Tradução”. Foi um encontro de riffs pesados e letras de protesto que transformou a noite numa verdadeira catarse.
Formado em Uberaba (MG), o Black Pantera é composto por Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo “Pancho” Augusto e tem quatro discos na bagagem. O trio se destaca pelo crossover de thrash metal, hardcore e punk e pela forte postura antirracista.
Desde o ano passado em turnê para divulgar o álbum PERPÉTUO (2024), o Black Pantera vem mostrando um som mais maduro em comparação ao antecessor Ascensão (2022). Sobre essa fase da banda, o baixista Chaene afirmou: “Perpétuo é um disco político, antirracista, mas conseguiu pegar mais no coração, vejo que as pessoas cantam mais apaixonadas, bateu diferente. Ascensão foi o disco que mudou a vida do Black Pantera, e Perpétuo é a continuação desse trabalho. A gente se permitiu explorar o ódio e a vulnerabilidade como homens negros”.
Ainda sobre a sonoridade e as pautas levantadas nas canções, Charles complementa: “Algumas propostas se mantêm, mas a gente buscou novos recursos sonoros, por isso até conseguimos ampliar nosso público. Mas seguimos falando sobre política, questões sociais, amor, raiva, anarquia”.
O trio também revelou que gravará seu primeiro álbum audiovisual nos próximos meses. Dez anos após o lançamento do Project Black Pantera (2015), a banda expande o alcance com uma gravação ao vivo, marcada para dia 19 de novembro de 2025, véspera do Dia da Consciência Negra, no Circo Voador (RJ).
União combativa
Mais que dividir o palco, Black Pantera e No Rest dividem, também, uma amizade. “Essa ideia de tocar com o Black Pantera já vem de mais de um ano, porque já existe essa parceria desde os shows no Festival Morrostock e na Casa Morrostock. Foi uma vontade de tocar juntos, e foi se criando a possibilidade”, conta Aline Rodrigues, fundadora e vocalista da No Rest. O vínculo começou há cerca de cinco anos no Festival Morrostock e tem se fortalecido na vivência coletiva que a cena proporciona.
A Perpétuo Tour RS ainda passou pelas cidades de Pelotas e Santa Maria, levando a energia das duas bandas para outros públicos e ampliando o alcance da mensagem. “Pela contestação e politização das letras e pela questão do peso, mesmo que a gente faça um som mais underground, No Rest e Black Pantera se encontram em vários momentos. É um som de protesto, de denúncia. Temos isso em comum”, afirma Aline.
O Black Pantera aproveitou a passagem pelo Sul e encerrou a estadia com um show extra no Caos Bar, também em Porto Alegre, surpreendendo os fãs com a confirmação de última hora. A abertura ficou por conta das bandas Pull The Trigger, Tropical Mess e Diokane, com apresentação do mini doc Cheiro de Enchente, que conta com depoimentos de quem sofreu diretamente as consequências das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul.
Morrostock de Peso
O festival, que propõe uma vivência do espírito alternativo, foi criado em 2007 por Paulo Zé, também guitarrista da No Rest, e se tornou um dos mais importantes do Rio Grande do Sul, unindo arte, natureza, diversidade e música independente. “O Paulo Zé é amigo de longa data! O lance do Morrostock acabou virando uma parada pessoal! Essa questão política, um viés de igualdade, que aproxima [as duas bandas] muito bem”, revela Chaene, guitarrista e vocalista do Black Pantera.



