O Parque Ibirapuera, marco da cidade de São Paulo, vem cada vez mais recebendo festivais importantes da cidade: é o caso do C6 Fest, que aconteceu na última semana nos dias 22, 23, 25 e 25 de maio. A programação de quinta e sexta-feira se concentrou no Teatro Ibirapuera, enquanto o final de semana recebeu as atrações em palcos maiores, no mesmo molde das edições anteriores.
No palco Heineken, um imenso telão posicionado no topo do palco foi um espetáculo à parte. As bandas que souberam aproveitar a estrutura, como o Nile Rodgers & Chic e o Air, entregaram projeções que combinavam com a atmosfera dos shows, deixando tudo mais bonito e bem ambientado.
Atrações nacionais, como Seu Jorge, Maria Esmeralda e DJ Marky dividiram os palcos maiores junto as atrações principais como Pretenders, Air e Gossip, no sábado, e Chic, Wilco e The Last Dinner Party, no domingo. Essas e outras atrações formaram o caldeirão musical montado junto à natureza exuberante do “Ibira”. Hoje a praça principal do parque leva o nome de Rita Lee, uma homenagem à ilustre frequentadora do parque. Isso só reforça a conexão do local com a música, independente do gênero ou estilo.
A Noize esteve no final de semana do festival e te conta como foram 5 shows que rolaram por la:
Air toca Moon Safari (1998), álbum que redefiniu o eletrônico-minimalista nos anos 1990
O duo francês apresentou na íntegra o álbum Moon Safari (1998), um eletrônico etéreo e minimalista que conquistou ares de cult já na estreia, há 25 anos. O formato do show é desafiador para o público brasileiro: isso porque toda a atmosfera visual e sonora hipnotizantes criados pelo duo são feitos para “apreciar em silêncio” – o que deixou, naturalmente, parte das pessoas hipnotizadas. Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel preencheram o enorme palco principal em uma ambientação de sintetizadores e luzes em tons de rosa e azul, projetados no telão acima do palco. O público se animou mais com hits como “Sexy Boy” e “Kelly Watch the Stars”. No bis, o Air ainda passeou pelo restante da carreira, incluindo a bela versão instrumental de “Playground Love”, trilha do filme Virgens Suicidas. Um show impecável do início ao fim – ainda que prejudicado, no início, por um som baixo para quem via mais de perto, o que deixava o conversê do público mais alto do que a música. Mas nada que estragasse o espetáculo hipnotizante que se formava diante dos nossos olhos.
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Gossip mostra por que Beth Ditto é “mãe” dos millenials alternativos
Mais de 10 anos separam o último sábado do último show do Gossip no país, na edição de 2012 do finado festival Planeta Terra. Dentro da tenda montada ao lado do Pacubra, o grupo mostrou por que ainda é uma das bandas de rock mais relevantes da cena internacional. Há a atitude punk, mas misture a isso o ritmo dançante e a voz poderosa, como a das divas do soul, de Beth Ditto. “Não há feminismo sem orgulho trans”, ela declarou antes de cantar “Standing in the Way of Control”, emendada com “Smells Like Teen Spirit”. Confortável no palco, vestindo macacão de oncinha, ela tirou os sapatos nas primeiras músicas. O setlist trouxe os hinos “Men in Love”, “Heavy Cross”, “Love Long Distance” e “Move in the Right Direction”, costurados com as músicas novas do disco Real Power (2024) – “Turn the Card Slowly”, “Act of God” e “Crazy Again”. Um retorno aguardado não poderia ter tido um final mais feliz – o coro alto demonstrou como a plateia esperava por esse momento.
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Opera Rock com toques vitorianos
Enquanto o público começava a chegar no Parque Ibirapuera na tarde de domingo, já era possível ver garotas andando em direção ao segundo palco com vestidinhos longos inspirados nas heroínas românticas – era o público do The Last Dinner Party, banda que fechou os shows diurnos do C6 Fest. As britânicas trouxeram todo o clima vitoriano que permeia a estética do álbum de estreia, Prelude to Ecstasy (2024). A sonoridade, que emula uma ópera-rock com influências de Queen e Kate Bush, preencheu o palco com projeções celestes. Enquanto isso, as integrantes, Abigail Morris (vocal), Georgia Davies (baixo), Lizzie Mayland (guitarra), Emily Roberts (guitarra) e Aurora Nishevci (teclado), trajavam vestidos românticos com mangas bufantes, o figurino padrão das apresentações. Músicas como “On Your Side” e “Nothing Matters”, hit que fechou o show, foram cantadas na íntegra pelos fãs, deixando a vocalista emocionada. Teve até cover de “Call Me”, do Blondie, música capaz de levantar até o público mais desanimado – o que, definitivamente, não foi o caso deste show. Ainda que tenham pouco tempo de estrada, a banda encheu a tenda do segundo palco, consideravelmente menor que o principal. Teve até coro em homenagem ao baterista, Casper Miles, que estava de aniversário – com direito a bolo e parabéns cantado pelo público em bom português.
Wilco: solos de guitarra conquistam sim (até os indies)
Assistir ao Wilco ao vivo nunca é demais. A banda reúne uma ode de fãs fervorosos há mais de 20 anos, inclusive no Brasil, onde tocaram pela terceira vez. “A gente ama o Brasil. Por que não ficamos aqui?”, brincou o vocalista, Jeff Tweedy. Bem que podiam. Abrindo os trabalhos com a queridinha “Company in My Back”, do clássico A Ghost Is Born (2004) – que ganhou versão de luxo neste ano – a banda de Chicago logo teve a plateia aos seus pés. Músicas do recente álbum Cousin (2013), como a ótima “Evicted”, marcaram presença, mas a banda entregou mesmo o fanservice, ou seja: muitas canções do Yankee Hotel Foxtrot (2002), A Ghost… (2004) e Sky Blue Sky (2008), incluindo “I Am Trying to Break Your Heart”, “Spiders”, “At Least That’s What You Said” e “Jesus, Etc”. Mas não teve jeito: foi com épico-indie “Impossible Germany’ que a banda entregou o melhor momento, catapultado pelo guitarrista Nels Cline. O solo de quase 10 minutos poderia render ainda mais, levando em conta que o público entrou no coro, tentando cantar ao ritmo da guitarra – o que se vê mais habitualmente nos shows de heavy metal em grandes estádios. Coisas que só o Wilco poderia fazer no indie rock.
Chic & Nile Rodgers dão aula de música pop para nova geração
Não é exagero dizer que Nile Rodgers ajudou a fundar o pop como conhecemos hoje. Da era disco do Chic à Donna Summer, passando pela new wave que inspirou de Madonna a Duran Duran David Bowie, passando pelo french house (ou summer eletrohits) do Modjo e o hit “Lady” até culminar em “Get Lucky”, das últimas amostras que o Daft Punk nos deu antes de anunciar o fim do projeto. Juntos, deram aula: são décadas de pop marcadas com o groove da guitarra de Nile. O que esperar, então, de um show que reúne a melhor banda de disco music com o maior guitarrista do soul funk? Um grande baile em que todo mundo cantava e dançava junto.
O show do Chic foi de levar a alma para qualquer fã de música. A vontade era de pegar o celular e ligar para mãe, amigos, todo mundo que se influenciou por alguma música do vasto repertório de Nile. Ok, dava para pegar o celular também para filmar, já que a banda aproveitou o imenso telão montado acima do palco Heineken para criar uma ambientação bem 70’s, como se estivéssemos em uma grande festa da Studio 54. No fim, Nile levantou uma bandeira do Brasil enquanto o telão mostrava um agradecimento ao festival e aos fãs – tudo de muito bom gosto, como não poderia deixar de vir de uma banda chamada Chic.