Em sua carreira solo, Ney Matogrosso destacou-se pela seleção criteriosa de seu repertório. Como intérprete, o artista escolheu músicas memoráveis para compôr seus álbuns. Essas canções, em sua voz, ganhavam outra dimensão performativa e dramática, como se fossem compostas especialmente para o artista. Algumas delas, inclusive, realmente foram feitas sob medida, como é o caso de “Bandido Corazón”, escita por Rita Lee.
Em Bandido (1976), Ney propôs uma mistura única, com compositores consagrados e recém surgidos, passando por estilos musicais tão diversos entre si quanto o rock e o samba, o bolero e a moda de viola. Ao unir as novidades da música dos anos 1970 com as tradições do cancioneiro brasileiro e latino-americano, Ney criou um dos repertórios mais clássicos de sua carreira.
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Listamos todos os compositores interpretados por Ney no álbum. Abaixo, conheça mais cada um deles e os momentos de carreira pelos quais estavam passando quando suas canções passaram a integrar o repertório de uma das maiores estrelas da música popular brasileira.
Rita Lee
A cantora e compositora paulistana é autora do hit “Bandido Corazón”, bolero que mistura o português e o espanhol. A canção é o principal hit de Bandido e é até hoje uma das faixas mais celebradas da carreira solo de Ney Matogrosso. Nesta época, Rita havia recém saído dos Mutantes e ainda estava trabalhando com a banda Tutti Frutti.

Gilberto Gil
O artista baiano é autor de “A Gaivota”. Gil também foi participação especial no disco, tocando violão na faixa. Para além da faixa presente no álbum, a influência de Gil e dos demais tropicalistas no trabalho de Ney é evidente, com a mistura de ritmos brasileiros, latino-americanos e as guitarras elétricas do rock’n’roll.

Chico Buarque
“Mulheres de Atenas” é uma parceria entre Chico e o diretor de teatro e dramaturgo Augusto Boal. Em 1976, Chico já era considerado um dos principais compositores do Brasil e lançou, no mesmo ano, seu clássico Meus Caros Amigos, álbum no qual está presente a faixa regravada por Ney.

Marlui Miranda
Cantora, compositora e etnomusicóloga que pesquisa as culturas dos povos indígenas, assina “Airecillos”. Marlui e Ney conheceram-se em Brasília, muito antes da fama do cantor nos Secos & Molhados. Anos mais tarde, em 1978, a compositora gravou seu primeiro disco solo Olhos D’Água, antes de passar a dedicar-se integralmente às culturas indígenas.

Luhli
Responsável por apresentar Ney aos Secos e Molhados, Luhli é compositora de “Aqui e Agora”, segunda faixa do trabalho. A artista também assina clássicos do grupo integrado por Ney, como as inesquecíveis “Fala” e “O Vira”, em parceria com João de Ricardo. Luhli gravou as faixas em seu disco homônimo, em 2006.

Odair José
Autor de “Cante uma canção de amor”, o artista goiano era um dos grandes sucessos comerciais dos anos 1970 com suas músicas românticas. Em 1976, Odair já havia lançado diversos álbuns solo, como os homônimos de 1970 e 1973 e os clássicos do brega Meu Grande Amor (1971) e Assim Sou Eu… (1972).

Sergio De Karlo
Cantor, compositor e ator cubano, é considerado um dos nomes mais importantes do bolero e é autor de “Pa-ran-pan-pan”. Após migrar para os EUA, foi considerado o Artista do Ano de 1942 pela Billboard. O artista também ganhou o prêmio de melhor canção original pela trilha sonora de Captain Carey U.S.A, com “Mona Lisa”.

Rosinha de Valença
Compositora, cantora e violonista carioca, a artista assinou a produção do trabalho junto ao próprio Ney e Guilherme Araújo, além de assinar “Usina de prata”. Em 2023, Rosinha foi reconhecida como uma das 250 melhores guitarristas do mundo pela revista Rolling Stone. Seu álbum Um Violão Em Primeiro Plano (1971) é um clássico da música instrumental brasileira.

João Silva
O compositor pernambucano foi um dos grandes parceiros de Luiz Gonzaga e é autor de “Pra não morrer de tristeza”, ao lado de K-Boclinho. Silva compôs e produziu clássicos do cancioneiro brasileiro como “Pagode Russo”, “Danado de Bom” e “Nem se despediu de mim”. Além de Ney, outros gigantes como Alcione e Beth Carvalho gravaram suas canções.

Fagner
O cearense é compositor de “Postal de Amor”, ao lado de Fausto Nilo, e também aparece como participação especial na faixa “Ponta do lápis”. Na época de Bandido, Fagner havia lançado recentemente o seu álbum Ave Noturna (1975), que impulsionou nacionalmente sua carreira, ao lado de companheiros do Pessoal do Ceará, como Belchior.
