Documentário “InDUBtável 2” explora a cultura do reggae no Brasil: “É um som de protesto”

06/08/2025

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Por: Vitória Prates

Fotos: Divulgação

06/08/2025

Fascinado pela cultura underground, o diretor William Sernagiotto teve uma visão. Em 2003, ele começou a perceber que existia uma cena, cada vez mais frequente, de reggae, ska e sound system no Brasil. O diretor não perdeu tempo, e começou a documentar.

Desse trabalho, nasceu InDUBtável, o documentário, nunca lançado oficialmente, fez sucesso entre os amantes do gênero. Agora, 22 anos depois, William lança oficialmente o material, sob o título InDUBtável parte 2.

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Gravado entre Brasil, França, Espanha e Inglaterra, InDUBtável mescla imagens de festivais com entrevistas. O projeto reuniu mais de 40 artistas, como Arcanjo Ras, Toninho Crespo (Banda Jualê), Otávio Rodrigues (Dr. Reggae) e Salloma Jovino, para refletir sobre cultura do reggae e do soundsystem.

InDUBtável já fez sua estreia no circuito de festivais internacionais, no Reino Unido e na África do Sul. No Brasil, o lançamento acontece no dia 21/9, no Cine Olido, em São Paulo. Depois, o longa será disponibilizado, gratuitamente, no streaming da SPCine.

Abaixo, você confere o trailer de InDUBtável. A Noize conversou com William sobre o reggae nacional e o processo de produção do documentário, veja abaixo:

Como surgiu a ideia do documentário?

Foi um dos primeiros filmes sobre Reggae e Dub feitos no Brasil.

Eu (William Sernagiotto), junto com o DJ Chars, fizemos registros da cena underground de SP – mais especificamente reggae, ska e sound System – de 2003 a 2009. Isso resultou no InDUBtável (parte 1), que foi praticamente um rascunho, sem finalização de áudio ou vídeo, e nunca chegou a ser lançado oficialmente por inúmeros motivos.

Ironia do destino: na época eu trabalhava numa grande casa de pós-produção em SP, que fechou justamente quando eu estava prestes a concluir o projeto. Mesmo assim, quem é do meio sabe que, na “boca pequena”, esse foi um dos primeiros filmes sobre Reggae e Dub feitos no Brasil.

Como foi o processo de pesquisa para o material?

Para explicar melhor, volto à parte #1 do projeto. A pesquisa foi feita numa época em que a internet ainda engatinhava por aqui, no início dos anos 2000. Para baixar uma foto em alta resolução, levava horas, mesmo com a estrutura de um “grande estúdio”.

Recorri ao meu vasto acervo em VHS e ao acervo pessoal dos próprios artistas e amigos como o Nelson Meireles (produtor dos dois primeiros álbuns do Cidade Negra e primeiro baixista do O Rappa). Tive acesso, por exemplo, a um VHS com todos os clipes dos Paralamas do Sucesso.

Era puro garimpo: fitas copiadas na Galeria do Rock, xerox de revistas gringas, fitas Beta Cam, MiniDV e muitas VHS com shows e clipes gravados da MTV. Não existia YouTube; nossa videoteca era uma “locadora underground”. Depois vieram as trocas de DVDs pelo correio, em grupos do Orkut… outro tempo, outro ritmo.

Como foi o processo de entrevistas para o documentário?

Não foi fácil lidar com o “embromation” brasileiro em entrevistas com tantos gringos que participaram do filme. Tive a ajuda essencial do Maurinho (Jr. Toaster) para conduzir conversas em inglês e do Gael para traduzir depoimentos em francês. Sem eles, não teria dado conta.

Houve mal-entendidos, erros de interpretação, perguntas capciosas que causaram certos desconfortos na hora das gravações. Mas documentário é isso: se não cutucar, não se consegue arrancar respostas surpreendentes, e tudo vira algo morno, quase uma narrativa de fã. Por ser um pesquisador incansável e apaixonado, com cerca de 20 mil álbuns em MP3 no acervo (pronto, falei! rs), domino esse tema como poucos e isso foi fundamental para dar o tom certo nas entrevistas.

Quais as principais dificuldades enfrentadas durante a produção?

Imagine um montador freelancer, com renda instável, passando um “ano sabático” para filmar um documentário falado em quatro idiomas, gravado em festivais na Espanha, França, Reino Unido e Brasil. Eu mesmo questionei minha carreira como realizador independente nesse processo (tenho 10 longas na bagagem).

Foi tudo ou nada, sério. Quase me custou o casamento – duas vezes, aliás –, tanto na época das gravações quanto na montagem do filme em casa. Fiz sem ter condições, dei um passo maior que a perna,

Era necessário registrar o momento efervescente da cena Sound System no Brasil, com tantos nomes internacionais por aqui.

Usamos equipamentos emprestados, queimou câmera, queimou HD, transferimos 1TB de material bruto pela nuvem, enfrentamos incompatibilidades entre HDs de Mac e PC, lidamos com formatos e velocidades de gravação diferentes que precisaram ser padronizados para a montagem.

Foi guerrilha mesmo, das boas. Foram cerca de 9 anos entre gravações e lançamento. A montagem final rolou rápido: durante a pandemia, fechei em 2 meses. Foi puro desapego, seguindo um lema claro: “O que não for Reggae, Dub ou Sound System, corta fora!”. Foquei na música e tudo fluiu.

Como você enxerga a presença do reggae no Brasil? Qual sua importância para a música e cultura nacional?

O Reggae no Brasil carrega uma “herança maldita”

É estigmatizada como som de passarinho, cachoeira e maconha ruim. Fiz o filme justamente para mostrar que o Reggae brasileiro vai muito além desse clichê. Temos som pesado, de protesto, feito com qualidade, conectado ao que há de melhor na cena global.

Importante destacar que o Reggae pode ser libertário por dois motivos: ele coletiviza a propriedade intelectual ao utilizar riddims e versões instrumentais nos lados B dos discos de 7 polegadas, o famoso copyleft – tudo nosso! É uma música apátrida, está em todas as partes, não tem dono. É Outernational, não “In”. O Reggae ultrapassa barreiras e fronteiras, como diz o Alpha Steppa no filme. Assistam, aumentem o volume e deem o play. É disso que estamos falando.

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06/08/2025

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Vitória Prates