Os 10 anos de corre de Clara Lima são celebrados em As Ruas Sabem (2025), seu sétimo álbum. Nesta quinta-feira (18/10), Clara faz uma participação especial no show do Deekapz FM na Casa Natura, em São Paulo (veja ingressos aqui).
Cria do Duelo de MCs de BH, a rapper apresenta, neste trabalho, tanto um retorno às origens, pela criação coletiva, quanto um relato de sua própria trajetória no rap. “É um álbum que busca o fortalecimento da cultura de rua e do hip hop na mais pura essência”, comenta a artista.
Para compor as 12 faixas, Clara contou com um time de produtores: Madre Beats, Marabá, Teagá, Coyote Beats, DJ Cost, Pizzol, Sartor, Gio Prod, Carla Arakaki e Beat do MK. Já na voz, participam Vietnã, Dalsin, Sant, Smile, James Ventura e Mac Júlia.
A própria divulgação do álbum, em julho, seguiu a narrativa da rua. O pixo na capa foi realizado pelo artista Tex, na Vila Borges, zona oeste de São Paulo. Para o lançamento, foram realizadas diferentes intervenções artísticas em espaços públicos da cidade.
Depois do álbum, Clara já lançou outro single: “Dia Após Dia”, com participação de Pedro Trick, Becks, Sartor e Camping. A discografia da rapper ainda se completa com os álbuns Além (2023), Selfie (2019), e o ao vivo lançado em 2022 no estúdio da Showlivre.
Em As Ruas Sabem (2025), vale destaque para o interlúdio — “Tudo ou Nada” — que ficou por conta de Galo de Luta. O ativista paulistano é conhecido pelo trabalho no Breque dos Apps, greve dos trabalhadores de aplicativos em 2020. “Trazer o Galo de Luta foi a representatividade que eu queria, da rua, do povo, da base, sabe? Com a troca de ideias, abrimos perguntas e respostas para construir um enredo mais sólido para o álbum”, diz Clara.
Leia (e ouça) o faixa a faixa abaixo:

“Bom dia”: fala da vontade de ficar longe das ligações diárias dos bancos oferecendo acordos de dívidas, longe dessa pá de pela saco. É imaginar como seria se tivéssemos vivendo bons dias, mas sem deixar de trazer todo corre e luta diária que foi pra se chegar onde está.
“Tabuleiro”: é a faixa que eu trouxe as minhas verdades. Minha revolta, minha visão do jogo e de como é foda sobreviver nas ruas. Entre a maldade e a vontade de ter mais, entre derrotas e conquistas, mas ressaltando, também, a fome e a vontade de vencer.
“PHD”: fala sobre disposição, tanto para o bem quanto para o mal, tá ligado? Sobre vistar montar um império com os meus, mas também deixando claro que safado e pilantra não tem vez!
“As ruas sabem”: foi a primeira faixa composta para o álbum, no momento em que eu estava saindo da produtora que fazia parte, com muita luta, desgaste mental e financeiro. Ela vem para reafirmar toda a minha caminhada na rua, lembrar a mim mesma todo o corre para chegar até aqui. Com todo esse contexto, quis brincar também com a inversão de valores de alguns empresários, que se acham mais artistas que os próprios artistas, mas sem a caneta [risos].
“Nível Profissional”: quem nasce onde eu nasci, já nasce em desvantagem, mas quis mostrar que ainda estamos aqui, jogando o jogo, sendo original e fiel a tudo que acreditamos, pelos nossos e pelo amor ao rap. Mas também questionando a corrida desleal.

“Tudo ou Nada”: esse interlúdio nasceu para amarrar o tema e o conceito do álbum: construir diálogo com a rua. Trazer o Galo de Luta foi a representatividade que eu queria, da rua, do povo, da base, sabe? Com a troca de ideias, abrimos perguntas e respostas para construir um enredo mais sólido para o álbum.
“Praticando a fé”: é meu desabafo musical, é o grito de sobrevivência de quem entendeu o propósito de chegar aqui e sabe do peso disso. É sobre plantar e colher, reconhecer a maldade e, ainda sim, continuar praticando a fé!
“Demanda”: é sobre força e gratidão por ter chegado até aqui. Minha busca pela paz, minha vontade do mundo e o corre de trazer isso pra quem tá a minha volta também, tá ligado? É uma música leve, mais íntima e com muita verdade.

“Corda Bamba”: a vida segue na corda bamba entre o ter e o não ter. É fácil se perder quando se tem muitas opções e vice e versa. Dependendo da sua cor ou poder aquisitivo, as consequências não são iguais, saca? Papo reto, direto e sem curva!
“Um Brinde aos Reais”: é sobre quem se manteve real. Essa é a faixa que reafirmo minhas ambições, meu corre atrás de melhorias, mas o foco é em deixar um salve para todos que permaneceram reais nessa era onde nem tudo é o que parece ser.
“Fumaça pro Alto”: é a música que traz minha nova fase: mais calma, madura e dona do meu próprio corre. Estou plantando para pra colher e cantando para espantar os males, cada vez mais longe de quem tem má intenção e me aproximando de quem acredita e confia no propósito.
Ela é mais do que especial porque conta com a produção de Carla Arakaki. A Carlinha, desde Selfie (2019), trabalha comigo. Ela é uma artista de vários talentos: DJ e fotógrafa. Ter ela nessa nova fase como beatmaker/produtora musical e comigo a tantos anos só reafirma a ideia que nós trouxemos para o som quem acredita na parada.
“Tinta na mão”: o beat ditou muito para qual caminho essa faixa iria. Ela é um salve para os pixadores e pixadoras. O pixo é uma forma de manifestação que denuncia a desigualdade, reivindica contra o sistema e é símbolo de resistência. O álbum traz bastante de tudo isso e valoriza a cultura de rua.