Entre fragmentos dos palcos e das telas de cinema, Xamã se completa: “Fui da rua ao mainstream”

18/09/2025

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Por: Vitória Prates

Fotos: Divulgação/Lucas Nogueira

18/09/2025

Multifacetado é a palavra que melhor define Xamã. Das batalhas de rima ao hit “Malvadão”, o carioca de 35 anos consolidou seu nome no cenário do rap nacional. Mais recentemente, vem se destacando também como ator — prova disso é o prêmio de “Melhor Ator Coadjuvante” conquistado no Festival de Gramado, em agosto, pelo trabalho no filme Cinco Tipos de Medo, de Bruno Bini.

Mais cedo neste ano, em maio, também lançou o álbum-manifesto Fragmentado (2025), seu maior trabalho até o momento, com 25 faixas. O disco quer apresentar Xamã como alguém fragmentado, que se completa pelas diferentes experiências. 

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A obra vai do hip-hop ao MPB, refletindo a própria trajetória do músico. Nos feats, participam Milton Nascimento, Adriana Calcanhotto, Criolo, Black Alien, Liniker, BK, Duquesa, Major RD, Flora Matos, Agnes Nunes e a atriz Sophie Charlotte. 

Para quem já ocupou o #1 na Billboard Brasil, Xamã foi ousado em voltar às origens, com um estilo que o aproxima mais da música urbana e a potência lírica das batalhas de rima. A discografia completa do artista traz Pecado Capital (2018), O Iluminado (2018), Elas Por Elas (2019), Como Sobreviver ao Fim do Mundo Dançando (2020), Zodíaco (2020), Acústico Cancún (2021) e O Último Romântico Online (2023). 

Xamã iniciou sua carreira como ator no remake de Renascer, exibido pela TV Globo no ano passado. Em seguida, integrou o elenco das séries Justiça 2 e O Maníaco do Parque, até conquistar o papel principal no longa Cinco Tipos de Medo, performance que lhe rendeu o prêmio no Festival de Gramado.

Venceu o Grammy Latino, viralizou no TikTok, se tornou ator de novela e quer mais. A Noize, o artista, de rap inventivo e voz politizada, comenta a bem-sucedida carreira mista e abre sobre seus próximos passos.

Fragmentado (2025) é seu quarto e maior álbum, com 25 faixas, em que, como o próprio título sugere, você se mostra multifacetado. Como foi construir esse álbum-manifesto? Como esse trabalho te define como artista? 

Foi um processo natural. Depois que cheguei ao mainstream com “Malvadão”, senti que precisava lançar músicas com uma roupagem mais pop para continuar relevante e falar com a grande massa. Rolou a parceria com a Ludmilla, com a Luísa Sonza, com o Dennis… 

E, nesse tempo, tudo que foi surgindo mais underground, eu fui guardando. Com o tempo, percebi que já tinha praticamente um álbum pronto. Mesmo com estilos e temas diferentes, tudo se conectava por sentimentos que sempre voltavam: origem, afeto, conflito.

A ordem e a organização das faixas mostram essas várias lentes de quem eu sou. Fragmentado (2025) é isso, eu me mostrando de forma completa, sem me prender a rótulos, juntando todas as minhas fases, da rua ao mainstream, da música à atuação.

Se tivesse que elencar uma faixa como “o coração do álbum”, qual escolheria? 

“Dualidade”. Essa traz o contraste da minha vida sem perder a essência do rap e da poesia.

Fragmentado (2025) traz participações de Liniker, numa faixa que recebe o nome dela, além de Adriana Calcanhoto e Milton Nascimento. Como se deu essa escolha dos feats? 

Foi muito no sentimento. O Milton, por exemplo, morava no mesmo condomínio que eu, mas eu não sabia onde era. Um dia o Criolo colou na minha casa e falou que sabia onde era. A gente foi, trocou ideia com ele, vi de perto aquela estante cheia de Grammys e foi muito marcante. 

No disco usei um sample de uma música do álbum Milagre dos Peixes (1973), que foi censurada na ditadura, e por isso dei o nome de “Poeta Fora da Lei”. Adriana entrou porque “Esquadros” é uma música que marcou minha vida. 

Ela descreve como via o mundo pela janela de ônibus, carro, avião, hotel, como se tudo fosse um quadro e tem tudo a ver com essa vida de músico, que cada hora está em um lugar diferente, vendo o mundo pela janela. Essa música já tinha me impactado muito quando ouvi na versão do Gabriel o Pensador, e daí surgiu a ideia de criar uma “Esquadros 2”. 

Liniker é uma artista que eu admiro demais. Caju (2024) é um disco muito potente, e eu quis trazer essa mesma potência para Fragmentado (2025). Sempre gostei de fazer pontes entre estilos, e ter a Liniker nesse projeto reforça a ideia de deixar o disco mais vivo, plural e cheio de universos que se encontram.

Outra participação que se repete na sua discografia é o Major RD. Qual a importância dele na sua trajetória? 

A gente sempre se apoiou, mas de um jeito que ia além da música. Eu larguei meu emprego pra viver da arte, e ele ainda estava firme no trampo porque precisava pagar as contas e não acreditava totalmente em si mesmo. Eu via ele e sabia que, se ele ganhasse confiança, ninguém segurava. E ele confiou nesse meu pensamento. Desde então, sempre estivemos juntos, acreditando um no outro, se inspirando, se cobrando, se fortalecendo.

Você já comentou anteriormente que tem uma veia underground, mas que se tornou pop. Onde se encaixa Fragmentado (2025) nesse cenário? 

Fragmentado (2025) é a soma de tudo, e por isso o nome. Tem raiz, rua, rap clássico, mas também tem mistura e curiosidade. Não é um álbum que cabe em caixa ou que levanta muros, é ponte. Neste trabalho consegui juntar os dois universos, o underground, que sempre esteve em mim, e o popular, que também faz parte da minha caminhada. São músicas que transitam entre esses lados sem perder identidade. Acho que esse equilíbrio mostra bem quem eu sou como artista hoje.

Para o lançamento de Fragmentado (2025), você fez um show gratuito no Parque Oeste, em Inhoaíba (RJ). Como foi voltar às origens e apresentar o repertório onde também venceu suas primeiras batalhas de rima? 

Foi surreal voltar pra Zona Oeste, o mesmo chão onde eu comecei nas batalhas de rima. Esse show não foi só sobre tocar as músicas do Fragmentado (2025), mas sobre reencontro, com a galera, com minha história, com tudo que construí. A energia de estar ali, nos mesmos lugares que me viram crescer, é única. E ver todo mundo cantando junto, sabendo que algumas dessas pessoas me viram começar, foi emocionante demais.

Você foi das rodas de rima para as novelas e cinema. Recentemente, também venceu o Prêmio no Festival de Gramado. Como foi receber esse reconhecimento? E como foi atuar em Cinco Tipos de Medo

O cinema sempre foi uma paixão pra mim, mas por muito tempo parecia algo distante. Eu era o cara que vivia em locadora, sempre curti muito ver filmes, e sonhava em um dia estar num festival, mas nunca imaginei que seria possível. Por isso, ganhar logo na minha primeira experiência um dos principais prêmios do cinema nacional foi uma alegria enorme e um reconhecimento que vou levar pra vida. 

Em Cinco Tipos de Medo, viver o Sapinho foi um desafio, já que ele conecta várias histórias no filme e eu precisei mergulhar naquela realidade e me entregar ao processo. Mais do que o prêmio, o que fica é a vivência, contracenar com artistas que admiro, aprender em cada cena e sentir que estava realizando um sonho antigo.

Você está se dividindo entre os palcos e as telas. Quais os próximos passos da sua carreira de ator? 

Hoje eu tenho uma rotina dupla, me dividindo entre música e atuação, e tá sendo intenso, mas muito gratificante. (risos) Agora estamos gravando a novela Três Graças, interpretando o Bagdá, e também me preparando para a estreia da série Os Donos do Jogo na Netflix, onde faço o Búfalo. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas eu gosto de me desafiar e cada projeto é uma oportunidade de aprender e me conectar com públicos diferentes.

Como está sendo conciliar esses dois mundos? 

É corrido, mas música e atuação se completam. Cada lado me alimenta por outro. Precisa organização, foco e energia, mas faço o que amo e sigo firme, sem me perder no caminho.

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18/09/2025

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Vitória Prates