Um dos temas mais tratados na história da canção é o tempo. A passagem das horas, dos dias, dos anos é um assunto que moveu e segue movendo a criatividade de artistas. Em Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso? (2025) – disponível em disco de vinil no NRC – o cantor e compositor carioca Rubel, torna este um tema central.
Impactado por um problema no coração, que, em 2023, o obrigou a realizar uma cirurgia e cancelar a turnê de As Palavras, Rubel revisou o sentido da vida. Frente aos problemas de saúde, fez da música, agora mais intimista, com foco em sua voz entoando versos e o violão na base, um laboratório de compreensão da própria existência e da passagem do tempo.
Sobre o processo de criação das letras, Rubel divide, em entrevista à NOIZE: “Enquanto estava compondo, li muito o Todas As Letras (2022), em que Gil vai comentando suas composições. Eu pegava um comentário sobre como ele havia feito uma música e tentava escrever a partir dessa fórmula. Ele tenta traduzir uma ideia de maneira completamente abstrata, jogando várias camadas de imagens, mas no fundo ele sabe exatamente o que está querendo dizer, embora isso não fique tão claro para quem ouve”.
Através de metáforas que dão cor às pequenas coisas do cotidiano (como no verso “Qualquer coisa vira ouro com você”, em “Ouro”), Rubel tece um álbum no qual as letras, mesmo que simples, buscam abarcar a própria complexidade da vida. Separamos cinco canetadas do artista sobre a passagem do tempo. Confira.

1. Feiticeiro Gozador
“Minha vida
Minha estrada
De saudade eu morro nada
Tenho fé na madrugada
Não olho pra trás”
2. Noite de Réveillon
“Eu só sei
Que essa memória
Lá do meu futuro
Que essa angústia besta
Das pequenas coisas
É seu próprio avesso”
3. Azul, Bebê
“Tenho linha pra poder tecer
Tenho calma pra me distrair
A realidade é o seu lugar
E eu quero estar
Aqui”
4. Pergunta ao tempo
“Aquela coisa que
A gente sente assim
Um Djavan, não, acho
Que é um Dejavú
Será que a gente já viveu
Tudo de novo?”
5. Carta de Maria
“Eu me banho nas águas sagradas
Te encontro nas encruzilhadas
Bebo e danço na face da morte e da dor”