Entre samples e beats, “Maria Esmeralda” comemora aniversário; veja faixa a faixa

17/06/2025

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação/Lucas Cavallini

17/06/2025

Cinco músicos se uniram e lançaram um dos melhores álbuns do ano. Assim nasceu o Maria Esmeralda (2024). O feito não foi dado só pelos fãs, mas também pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), que premiou o trabalho como Revelação do Ano em 2024.

Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo são os responsáveis pelo trabalho. O disco, com dezesseis faixas, foi lançado pelo selo Sujoground. Nas colaborações, entram outros nomes do rap, como Doncessão, Servo, Quiriku, yung vegan, RUBI e tchelo rodrigues.

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O grupo já apresentou o repertório em grandes festivais, como C6 Fest, Rec-Beats e Novas Frequências, além de shows no Sesc Pompéia e Belenzinho, em São Paulo. “O álbum completou um ano, mas temos a sensação de que é só o começo. Estamos no nosso auge de ouvintes, um número bem maior do que quando o disco saiu. Foi uma mudança enorme para a carreira de nós”, fala Thalin.

“Grande parte do cenário musical, não só do rap, se não sabe quem são nós cinco individualmente, pelo menos já deve ter ouvido falar do Maria Esmeralda, e isso é algo muito legal para nós”, finaliza.

Maria Esmeralda, para além de nomear o álbum, é a personagem principal da narrativa. Ela pode até ser fictícia, mas não nem por isso sua história é menos verdadeira. Os beats passeiam por seus conflitos e amores.

Uma participação que emociona no álbum é a de Marília Medalha. Para o MPB, a cantora e compositora carioca trouxe diversas contribuições. São sete discos na carreira — um, inclusive, gravado ao lado de Vinicius de Moraes.

Aos 80 anos e, mesmo com prêmios e grandes colaborações no currículo, como interpretações de músicas de Dorival Caymmi, Tom Zé e Toquinho, Marília não recebeu o reconhecimento que merecia na cena musical brasileira.

Na faixa que abre o álbum — “Lúdica” — Marília declama um poema cheio de emoção, escrito pela irmã, Marly. Em junho, Maria Esmeralda (2024) completa um ano. Para celebrar o aniversário do álbum, que inaugurou um capítulo no rap, a Noize traz o faixa a faixa.

“Lúdica”: é a primeira faixa do disco que, na verdade, foi a última a ser feita. Lúdica é um poema escrito por Marly Medalha, irmã de Marília Medalha, especialmente para ela. Essa faixa já prepara o ouvinte para o que virá a seguir no álbum liricamente falando. Ela fala sobre uma pessoa que precisa se separar do seu amor, expressando a ideia de que amar é partir, algo que simboliza bem a trama de Maria Esmeralda.

“McCoy Tyner”: a faixa que mais se diferencia das outras do álbum, tanto pela letra quanto pela produção. Após um poema recitado por pouco mais de dois minutos, o drum and bass de McCoy Tyner já dá uma amostra da produção dinâmica presente ao longo de todo o Maria Esmeralda. A letra introduz de forma sutil os personagens Maria e Túlio Miguel, já que ao longo do álbum a narrativa se mantém subjetiva.

“Lince”: a primeira faixa a ser feita e que deu origem ao Maria Esmeralda, após Thalin, Cravinhos, Langelo e Pirlo ficarem presos no estúdio por uma madrugada inteira (VCR Slim entrou na produção do álbum após esse dia). É a única letra cantada por Thalin no álbum inteiro, cuja composição foi dividida com Langelo.

Finalmente o primeiro boombap do álbum, repleto de samples e texturas que trazem ambiência para a faixa. Lince traz uma letra que fala sobre amores perdidos, família, desilusões e inimigos do cotidiano, além do áudio captado durante a sessão do nosso amigo Guiga, que também estava no estúdio, descrevendo como ficamos presos naquela noite que mudou nossas vidas.

“Primo Favorito”: uma letra bem pessoal de Thalin, que conta um pouco de sua relação com sua família, especialmente com primos e tias. A produção de VCR Slim foi uma de suas primeiras, feita anos atrás. Mesmo com VCR não gostando muito das batidas, Thalin insistiu em rimar sobre elas, e os outros quatro viram que era uma ótima base para acompanhar o MC. Hoje essa faixa se tornou um dos melhores momentos do show de Maria Esmeralda.

“Poliesportiva”: a primeira participação do álbum. Descreve um dia comum no bairro de Thalin: adolescentes fumando e vendendo na quadra, metrô movimentado e vendedores tentando ganhar a vida. Tudo isso com um flow fortemente inspirado em Slick Rick e com uma das produções mais imersivas do álbum, feita por Cravinhos e Pirlo. Doncesão, mesmo sem escrever havia meses, ficou horas no estúdio escrevendo até lapidar um dos melhores versos de Maria Esmeralda, falando sobre sua vida e frustrações.

“Não Haverá Casamento”: interlúdio feito por VCR Slim sobre o sample usado em “Amarelo Cor do Sol”, garimpado por Langelo. VCR recortou áudios de novelas até recriar um diálogo sob a perspectiva de Maria Esmeralda e Túlio Miguel. Assim como em Lúdica, essa faixa mostra que o amor dos dois não pode acontecer.

“Amarelo Cor do Sol”: uma faixa mais cantada, que retrata bem a dualidade do álbum: o amor e o ódio estão lado a lado nas letras desde o início de Maria Esmeralda. Com produção de VCR Slim, Cravinhos, Langelo e Thalin, é uma das músicas mais aclamadas do disco.

Isso se deve muito à sua produção, ora, linda e solar, com os violões de Cravinhos que deram o brilho necessário à faixa; ora, tenebrosa e densa após a entrada de Servo, que em sua letra apresenta o outro lado da história, desiludindo o ouvinte que acabara de ouvir um refrão retratando o amor aos olhos do compositor, e que agora precisa lidar com o outro lado da relação: o ódio e a frustração.

“Todo Tempo do Mundo”: a música mais ouvida de Maria Esmeralda. Uma das produções mais bonitas do álbum, feita por VCR Slim, e uma das melhores letras de Thalin. Ele escreveu essa faixa como se fosse uma despedida de seu avô, um homem grosseiro e pouco afetuoso que faleceu de Alzheimer, para sua avó, uma pessoa carinhosa e iluminada que faleceu antes dele, mas ele não lembrava disso.

Todos os dias ele se dava conta de que o amor da sua vida não estava mais ao seu lado, sem entender direito o motivo, até o momento de sua própria morte, quando os dois finalmente puderam ter todo o tempo do mundo.

“Waldomiro”: o terceiro interlúdio do álbum surge com o recorte “Não consigo encontrar os brincos de esmeralda da vovó Carolina”. Curiosamente, quando Langelo fez esse recorte, não sabia que a avó de Thalin se chamava Carolina, o que se tornou uma das coincidências mais incríveis do processo de produção do disco. Esse interlúdio é cantado por Waldomiro, avô de Thalin.

O áudio em que ele canta um dos sucessos de Altemar Dutra (uma das principais referências do álbum) foi um achado: um áudio de WhatsApp enviado pela família de Thalin. Mesmo em baixa qualidade, era tão sincero e simbólico que se tornou especial. O sonho de Waldomiro era ser cantor, e hoje, mesmo após sua morte, sua voz está alcançando seus maiores sonhos e ecoando em diversos festivais e casas de show pelo país.

“Judas Beijoqueiro”: essa faixa quebra a sequência romântica do álbum. “Judas Beijoqueiro” é uma letra antiga de Servo, que topou gravá-la no meio da produção de Maria Esmeralda, e que se mostrou certeira para o disco. Uma letra muito pessoal que retrata problemas e traições, a faixa conta também com a participação de Quiriku, que flutua sobre a batida com versos mais leves, mas ainda assim densos. Essa faixa representa o início da sequência mais sombria do álbum, após “Judas Beijoqueiro” questionar o ouvinte diversas vezes sobre se ainda há tempo de fazer algo mudar.

“Boca de Ouro”: uma das faixas mais ouvidas do álbum, ao lado de Todo Tempo do Mundo, e mais uma vez produzida por VCR Slim. Essa música retrata o ódio intenso de Maria Esmeralda por seu antigo companheiro. RUBI, até então, nunca havia gravado um boombap e trouxe versos com um flow que vai ficar guardado na história.

Enquanto ela narra uma cena violenta de vingança, yung vegan fala sobre o tédio de quem já possuiu quase tudo, desprezando os sentimentos de Esmeralda. Uma curiosidade sobre essa faixa é que inicialmente Zudizilla e Derek foram convidados para rimar nela também, mas por conta de compromissos pessoais, não foi possível ter as suas participações.

“Chão de Mármore”: uma das produções mais enérgicas do álbum, feita por Cravinhos. Essa faixa traz Tchelo do trap para o boombap, com sua lírica e flow que surpreenderam os fãs. Fala sobre traição, mas também sobre relevar os problemas.

Aqueles que querem nosso mal estarão por toda parte, mas isso não pode nos impedir de viver. Tchelo narra um pouco de sua vida e suas experiências, assim como Thalin, que mais uma vez fala sobre sua família. Essa faixa se tornou uma das mais quentes e aguardadas nos shows ao vivo.

“Dedo Cheio de Anel”: por incrível que pareça, este é apenas o segundo refrão convencional de todo o álbum, desta vez cantado por VCR Slim. Essa música fala sobre o desejo de viver uma vida simples, longe de toda a confusão que o álbum retratou até agora. Em meio a esse desejo, Thalin rima sobre sonhos, possibilidades e o perigo de amar, complementando o sonho que todos nós temos de um dia viver uma vida boa e simples com a nossa família.

“Nova Ternura”: um pingo de esperança em meio a tantos sentimentos ruins. Há uma nova ternura no ar. Maria Esmeralda está nos ouvidos de quem escuta; cada um tem sua Maria. O álbum é quase um sonho coletivo, um devaneio compartilhado em forma de música. Essa faixa é um alívio para todos os sentimentos descritos ao longo do Maria Esmeralda.

“Revoada”: a única faixa instrumental do álbum. Revoada traz o bater das asas dos pássaros que deixam um lugar para ir a outro (o bater das asas se tornou uma tag do Maria Esmeralda e está presente em todas as faixas do disco de maneira sutil) junto ao instrumental com VCR Slim na SP404 e Cravinhos na guitarra, desperta diferentes sensações no ouvinte, trazendo o final perfeito para uma história sem final.

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17/06/2025

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