Num dos shows de encher de afeto o coração no Coala Festival, uma das mais representativas vozes da música paraibana e nordestina, Cátia de França, aos 78 anos, subiu ao palco do festival com um nervosismo à flor da pele – superado com a mesma elegância e leveza que lhe acompanha nos mais de 45 anos de carreira.
Com um catálogo de respeito construído em sequência à sua participação na estrelada banda de Zé Ramalho, Cátia é um dos tesouros da música popular brasileira. Fez do Rio de Janeiro sua segunda casa para trabalhar o talento artístico aflorado pelas composições que gravou, junto a nomes de prestígio tamanho, como Dominguinhos, Sivuca, Lulu Santos, Bezerra da Silva e Elba Ramalho.

Redescoberta por uma nova geração que se debruçou sobre a obra de décadas que não ganhou o destaque à época, se vê em situação inédita com palcos lotados por todo Brasil e uma energia que se justifica, e segue na ativa expandindo sua discografia; em 2024, chegou a ser indicada para o Grammy Latino com No Rastro de Catarina (2024).
Em São Paulo para estrear no Coala, Cátia se juntou a duas artistas da nova geração da música do Nordeste em momento de consolidação de trabalho e vivência em grandes centros da música. Josyara, Juliana Linhares e Cátia de França foram uma só – na verdade, três, já que Cátia de França decidiu por chamar o conjunto de “As Três Moças” – no show que acalentou o início do domingo (7), último dia de festival.
“Cátia atravessou a minha cabeça – a minha criatividade – quando eu cheguei em São Paulo. Eu já conhecia seu nome, sua força, mas o disco 20 Palavras Ao Redor Do Sol me deixou completamente encabulada, inquieta”, admitiu Josyara.
A artista, que também se viu em situação comum fora do eixo do sudeste – e principalmente ao norte do Brasil – de ter que se voltar a uma grande metrópole como São Paulo para fazer acontecer, se inspirou nas palavras da compositora. “Há 11 anos, nessa minha chegada, foi muito importante o meu encontro com essa obra, para me fazer cair no trilho bom, do caminho certo”, finalizou.

Se a imponência da voz da baiana de Juazeiro, Josyara – que vem de lançamento de impacto em Avia (2025) com colaborações do quilate de Liniker, Chico Chico e Iara Rennó, e inclusive regravação luxuosa de “Ensacado”, com Pitty – ganharam a atenção do público, a presença de palco enérgica de Juliana Linhares e sua emoção ao falar de mais esse encontro especial em palco com Cátia deram contornos ainda mais significativos para o tamanho da apresentação, trabalho de curadoria de Ignacio Salvati junto ao Coala Festival.
“Eu já conhecia a obra de Cátia há muitos anos, né? Porque eu tava muito próxima do que tava sendo feito na Paraíba quando era mais criança, dentro da minha casa. Eu era criança, não tinha essa verve de pesquisadora, de composição.” Foi através da interpretação da também potiguar Khrystal sobre “Quem Vai Quem Vem” em seu disco Coisa de Preto (2007) que Juliana Linhares de fato se viu conectada e disposta a entender mais sobre o trabalho original de Cátia de França.
“Fiquei muito tocada com a música, com o disco, e fui procurar mais – eu era adolescente. E aí eu falei: “Caramba, deixa eu ouvir mais isso aqui”. Aí fui ouvindo, fui ouvindo e esse disco a gente ouve sempre, né? É um disco atemporal”, revelou Juliana.
Cátia de França, que já tem se encontrado com os trabalhos e vozes em performances pelo Brasil, junto a nomes como Chico Chico e a própria Juliana Linhares, teceu elogios sobre o impacto dos novos trabalhos e interpretações para esse momento em que ela própria se entende como uma Fênix da música brasileira.

“Dentro da sua capacidade e da ótica musical que ela (Josyara) tem, ela pegou ‘Ensacado’, transformou numa sinfonia e botou na internet. Isso aí já foi uma coisa fantástica, entendeu?” “E eu já vi a coisa dela, a Juliana, porque ela não é só cantora, ela não é só autora, ela é atriz”, diz.
Ela continua: “Juliana transforma as coisas, então, eu vi ela no trabalho dela antigo, no Circo Voador, em uma homenagem, e eu vi que realmente era uma pessoa que chegou para ficar e que arrebata, entendeu? Porque essa mulher, entendeu? É um Sonrisal”, finalizou, entre risadas.