Natural da ilha de São Vicente, em Cabo Verde, Jorge Almeida, o Djodje, acompanha Mayra Andrade desde 2022. “Tocar ao lado dela é motivo de muito orgulho”, diz o músico. Aos 35 anos, o violonista sobe aos palcos junto da cantora em reEncanto (2024), projeto em que violão e voz dançam juntos. “É o nosso primeiro disco, mas parece que tocamos juntos há anos por conta da cumplicidade. Tem muita entrega, é tudo muito verdadeiro, não tem backing tracks, autotune, nada disso.”
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Quando começa sua história com a música?
Tenho afeição pela música desde novo. Na minha família, todo mundo gostava de cantar e a minha avó tinha desejo de aprender violão, mas, devido à opressão às mulheres, não teve essa oportunidade. Aos sete anos ganhei uma flauta, que foi onde comecei meu caminho. Com oito anos, me mudei para Boa Vista, onde tive contato com o violão através da igreja nazarena. Em um retiro me ensinaram uma música do Bob Marley e aquilo me deixou maluco. Depois tive um amigo que me ensinou a guitarra.
Quais são suas principais referências no violão?
Os cabo-verdianos Bau e Voginha. Depois foi Ernani Almeida, uma referência muito forte. Não poderia deixar de falar de Ivan Medina, que me ensinou seus conhecimentos. Também gosto muito do Jimmy Dludlu, George Benson, Pat Metheny e Al Di Meola, que abriu minha mente. E no topo, Yamandú Costa.

Como desenvolveu o seu estilo?
Não conseguia tirar músicas de ouvido no violão. Quando voltei de Boa Vista para São Vicente, no intuito de estudar, comecei uma caminhada sem orientação. Como não sabia muito de teoria musical, usei os acordes que conhecia para criar temas. Isso me deixou muito inventivo. Crio músicas, faço arranjos, esse direcionamento da criatividade é o meu forte, foi assim que comecei, porque não sabia como tocar o que já existia. Isso iniciou a elaboração da minha identidade. Outro ponto importante é a filosofia. Ela me ajudou a entender o que é a música, suas representações, e quem sou eu no meio disso.
Em relação ao seu equipamento, quais instrumentos e efeitos gosta de usar?
Uso um violão Godin Grand Concert que é um sonho, tenho até ele tatuado no braço. Para o reEncanto, eu comprei um Córdoba e uso também os Takamines. Minhas guitarras são uma Fender Stratocaster customizada e uma AtelierZ. Para os efeitos, uso as pedaleiras Boss GT-1000 e Quad Cortex, um Loop Station RC-30 e um sintetizador GR-55 da Roland. Costumo usar mais reverb e delay, para criar ambiência, e vou variando de acordo com a sonoridade dos artistas com quem estou tocando.
Você trabalha acompanhando diversos cantores. Como é adaptar o seu estilo à sonoridade de outro artista?
Os três artistas que acompanho têm obras muito distintas, mas eu trabalho com eles dentro da minha personalidade. Com a Mayra, faço voz e violão, formato que adoro e toquei muito em hotéis. O Slow J é um rapper, e a cultura do hip hop em São Vicente é muito forte, então é um ambiente no qual eu cresci, e gosto muito do rap, das batalhas de MCs do Brasil. Além disso, também tem uma coisa de rock na música dele, eu ouço muito Cradle Of Filth e System Of A Down. Já com o Dino Santiago é diferente, porque somos muito amigos, trabalhamos juntos há onze anos e conhecemos muito um ao outro musicalmente, já gravei e compus com ele. Quando me convidam para um projeto que não está na minha frequência é raro eu aceitar, para evitar esse choque de ter que adaptar, fazer uma coisa que não é do meu universo.
Qual é a sua relação com a música brasileira?
Um violonista de qualquer parte do mundo tem que passar pela música brasileira. Em São Vicente, o instrumentista tem acesso à obra de Tom Jobim, João Bosco, Seu Jorge, Djavan, Jorge Vercillo, Ana Carolina, Maria Gadú, um espectro enorme de melodias e harmonias que chamam a atenção pela complexidade. Vi o Yamandú Costa em um show do João Bosco, e não acreditei que era possível tocar daquele jeito. Coloco-o como um farol porque tenho enorme vontade de que a minha música tenha o mesmo aspecto vivo que sinto que ele transmite quando toca. Um dia vou chegar lá.
