Sessa reflete sobre a paternidade em “Pequena Vertigem de Amor”, terceiro álbum do artista

07/11/2025

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Por: Erick Bonder

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07/11/2025

O cantor e compositor paulistano Sessa lançou nesta sexta, 7/11, o terceiro álbum de estúdio, Pequena Vertigem de Amor, produzido em parceria com Biel Basile (O Terno). O trabalho ainda conta com Marcelo Cabral, no baixo, e Marcelo Maita, nos teclados, além de arranjos de cordas e sopros de Simon Hanes e Alex Chumak (Soyuz).

No álbum, que contou com os singles “Vale a Pena”, “Nome de Deus” e “Dodói”, Sessa traz composições feitas logo após o nascimento de seu primeiro filho, sentimentos intensos vividos no início da paternidade e reflexões existenciais. As letras trazem figuras cotidianas, ao mesmo tempo em que apontam um fascínio pelos pequenos detalhes da “vida nova” que se abriu aos olhos do artista.



“Eu ia escrevendo aos poucos, registrando fragmentos dessas emoções, um verso aqui, uma imagem ali. Essa coisa da vertigem é o centro de tudo porque traz uma dualidade que o álbum inteiro carrega: entre o ordinário e o extraordinário. A parentalidade é extremamente cotidiana, repetitiva – e, ao mesmo tempo, absolutamente cósmica”, declara Sessa em entrevista à Noize.

Com os violões do compositor em primeiro plano e a cozinha de Biel, na bateria, e Cabral, os arranjos ainda contam com teclas e flautas, remetendo à tradição da MPB, ao mesmo tempo em que incorpora ora os elementos do rock, ora do soul e ora do jazz.

Lançado pelo selo nova-iorquino Mexican Summer, o trabalho estreia já em turnê internacional, passando por Ásia, Europa e EUA. “Viajar com música, trocar com pessoas distantes e ver uma conexão que vai para além da língua é muito bonito. Então tem esse efeito: de ver o que a música é capaz de fazer, de viajar, de atravessar”, reflete Sessa.

Conversamos com Sessa sobre a nova fase de sua vida e obra. Confira abaixo o bate-papo completo.

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Quando a vertigem surge para você enquanto figura central do álbum, tanto na temática quanto no seu método de composição das letras?


Cara, acho que a imagem da vertigem veio logo na primeira música que escrevi pro disco, que é a faixa-título. Diferente dos meus dois trabalhos anteriores, esse álbum nasceu todo dentro de um mesmo período. Eu não tinha sobras, ideias antigas, nada. Foi uma virada de página que coincidiu com mudanças grandes na minha vida – principalmente o fato de eu ter me tornado pai. 

Num plano mais abstrato, é um disco sobre mudança: sobre olhar em volta quando tudo mudou, mas você ainda é você. Fala desse estranhamento, dessa distância entre o que ficou e o que chega, entre a nostalgia do que foi e o abraço do novo. A faixa “Pequena Vertigem de Amor” tem esse sentimento cru, visceral. Meu filho era muito pequeno, e foi um momento em que tudo o que se sente é muito forte, muito selvagem.

E como a paternidade interveio nesse processo?

Eu ia escrevendo aos poucos, registrando fragmentos dessas emoções, um verso aqui, uma imagem ali. Essa coisa da vertigem é o centro de tudo porque traz uma dualidade que o álbum inteiro carrega: entre o ordinário e o extraordinário. A parentalidade é extremamente cotidiana, repetitiva – e, ao mesmo tempo, absolutamente cósmica. 

Eu vinha de uma vida muito nômade, viajando o tempo todo pra tocar, sem uma casa fixa. Depois de me tornar pai, tudo isso mudou. Fui obrigado a aterrar, e isso muda a perspectiva. Essa nova rotina tem algo de extraordinário também. Ela te reposiciona diante do mundo, te faz perceber uma certa insignificância e, ao mesmo tempo, uma conexão muito antiga com o ciclo humano. Essa ambiguidade entre o simples e o cósmico sempre foi o ponto de partida das minhas composições.

O que mudou no processo de produção do disco em estúdio?

Então, acho que isso tem a ver, sim, com a paternidade, a forma de trabalhar. Foi a primeira vez que eu estava realmente estável em um lugar, sabe? Coincidiu com o momento em que eu e o Biel reorganizamos o estúdio que a gente tinha de forma meio dispersa, o Estúdio Cosmo. Eu tinha uma salinha no centro, o Biel morava na Ilha Bela, ainda tinha equipamento da época em que eu morava em Nova York… Estava tudo espalhado. Quando ele também virou pai e se mudou pra São Paulo, conseguimos montar o estúdio de fato. Foi a primeira vez que o tempo de gravação pode ser mais dilatado. 

Nos outros discos, era sempre um corre – levar o equipamento, estacionar, descarregar tudo. Esse, não. Tudo estava montado, especialmente os teclados, que são um elemento importante no álbum. Sobre as sessões: algumas músicas eu já tinha trabalhado bastante em demo, testando o que funcionava. Outras surgiram no estúdio. Teve uma primeira sessão comigo, o Biel e o Cabral, que acabou não entrando no disco, a gente ainda estava tentando achar o tempo, o clima.

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Vocês criaram os arranjos nas sessões ao vivo ou houve outros ensaios?

No geral, eu nunca mando as músicas antes para os músicos ouvirem. Gosto de capturar as primeiras impressões e deixar as ideias amadurecerem ali, sem preparar demais. A ideia é encontrar aquele equilíbrio entre estar confiante e ainda aberto ao acaso. Algumas músicas, como “Dodói” e “Em Nome de Deus”, nasceram totalmente na hora. A gente descobriu o que elas precisavam ali mesmo, tocando. Tem uma energia especial nesse tipo de encontro: todo mundo tirou um tempo pra estar lá, e isso cria uma pressão boa, saudável, não dá pra deixar pra depois. 

A filosofia é um pouco essa: resolver as coisas no momento, sem excesso de edição. Gravamos em fita, depois digitalizamos, e se precisava ajustar um compasso ou outro, tudo bem – mas a ideia era preservar o frescor da execução. Eu gosto dessa coisa de criar condições que valem a pena ser gravadas. Tem valor juntar pessoas num mesmo espaço, concentradas num mesmo som. Esse método exige bastante escuta. Às vezes alguém dizia: “acho que a gente precisa crescer mais aqui”, e a gente resolvia na hora, na mão, ali no instrumento. Isso cria uma conexão real entre quem tá tocando.

Qual a importância da coprodução do Biel no álbum?

O Biel é um grande irmão em música. A gente tem uma afinidade profunda – muitas vezes estamos alinhados no que algo precisa ser, e quando não estamos, isso também é bom. Eu nunca fui aquele músico que toca tudo ou que precisa ter o controle total das coisas. Tenho minhas convicções, mas me interessa muito o que surge tocando com outras pessoas. Fazer música é um bom motivo para estar com os outros. O Biel talvez seja a pessoa mais próxima desse lugar no meu trabalho.

A gente tem um estúdio juntos, uma convivência diária ali, e também trabalhamos artisticamente lado a lado. Produzimos outros discos juntos, do Jonas Sá, o da Anaïs, que mora em Londres e trabalha com a gente e o Cabral. No meu caso, a relação é um pouco diferente: eu sou o artista, e ele o produtor. Isso me dá um espaço para arejar as inseguranças. Ele ajuda a manter tudo amarrado, entre a beleza, o processo e a resposta emocional à música que a gente ama. É uma presença fundamental mesmo.

A sonoridade do álbum remete à MPB setentista, com arranjos cheios de teclas e um clima psicodélico, mas o álbum também traz elementos do jazz, por exemplo. Fale sobre o seu universo de referências.

Cara, eu sinto que meu trabalho é uma resposta inevitável ao meu amor por música. O violão é o meu instrumento principal, o jeito por onde eu penso a música. Cada escolha – se dedilho, se toco acordes mais abertos ou fechados – ecoa um sentimento, primeiro em mim, depois em quem ouve. Acho que eu faço música para formular esse amor, para tentar dar forma às experiências que a vida traz. 

Às vezes um verso, uma virada de bateria ou um crescendo de cordas te faz perceber algo que você viveu e não tinha entendido ainda. É meio isso que eu busco: criar um pequeno universo de 30 ou 40 minutos onde a gente possa se perder e depois voltar diferente. 

Minhas referências são amplas. Acho que o meu trabalho tem uma certa crueza que vem do meu primeiro amor: o rock de garagem, o soul, as coisas mais viscerais, mais emoção do que técnica. Hoje em dia já toquei e estudei bastante, sou um violonista decente, mas ainda me guio por essa pergunta: “a emoção tá no lugar certo?”. Ao mesmo tempo, o legado da MPB está muito presente nessa maneira de arranjar com cordas, sopros, flautas. Antes isso era parte natural da produção: gravava-se a base, a voz, e depois vinham os arranjos. 

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