Estrela do funk carioca, Deize Tigrona comenta novo EP: “Funk é sonoridade eterna”

18/08/2025

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Por: Vitória Prates

Fotos: Divulgação/Uly Nogueira

18/08/2025

Falar da trajetória de Deize Tigrona também é falar sobre a ascensão do funk carioca no mainstream. Esse movimento não é por acaso, em cena desde o início dos anos 2000, a artista comemora a carreira com o lançamento de Nós É Firme, Não É Creme (2025).

O EP, com três faixas inéditas e participação de MC Tha, traz produção musical de Mahal Pita, baiano conhecido por suas releituras de clássicos, como Ney Matogrosso; também KD Soundsystem, grupo musical conhecido por explorar sonoridades caribenhas, e DJ Chernobyl, ícone do funk.

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Deize é pioneira em muitos aspectos no movimento, sendo uma das primeiras a colaborar com artistas internacionais, como M.I.A e Diplo, autora do hit “Sadomasoquista” e presente em todas as mudanças de ritmo, do funk requebrado a inserção de elementos da música eletrônica.

Nós É Firme, Não É Creme (2025) quer fincar a importância da periferia para o gênero, e mostrar sua versatilidade temática, que vai do combate à misoginia às religiões de matriz africana. Em entrevista à Noize, Deize comentou sobre o futuro do funk, a apropriação do gênero pelas elites e a relação com a avó.

Deize, são quase três décadas de carreira. O funk é um gênero em eterna transformação, e você esteve presente em todas elas, principalmente com o Rio de Janeiro sendo o polo, como acha que será o futuro do funk?

Há uns 15 anos atrás me perguntaram o que seria do funk no futuro, eu respondi que os Beats seriam diferentes, daí veio o 150 BPM dando uma nova roupagem pro funk, mas o que me deixa feliz e ver que o volt mix e o Miami Bass sempre traz esse renascimento de cara nova pro funk!

Com isso o funk não fica só na montagem em loop, ele vai além trazendo mais poesia melódicas, onde também pode ser usado outros instrumentos, como piano e guitarra. Em um futuro próximo, enxergo um funk com orquestra, banda e ópera de um jeito que não vai ter mais volta.

Funk é sonoridade eterna, é o favelado instrumentista.

Na faixa que abre e nomeia o EP, você diz: “Quer usufruir do funk, corre junto com a favela. Nois é que abre a porta, vocês sentam na janela”. É quase um manifesto sobre a apropriação cultural do funk. Como está acompanhando essas movimentações em torno da apropriação do funk?

Quando o MC vem da favela, somos criticados, tidos como bandidos, abordados e, às vezes, até presos por apologia ao crime. O que me revolta é que, hoje, vários herdeiros que nunca vivenciaram o que nós passamos cantam sobre isso tendo a favela como inspiração, ficam ricos tirando a vez do favelado que lhes inspiram.

Quando o bicho pega não fazem nada a favor do artista e muito menos do funk, a não ser usá-lo como guincho e depois dizer que não canta funk e sim pop! É foda, eu ser criticada por minha música, enquanto mulheres brancas herdeiras cantam e encenam o funk putaria, sendo chamada de artista.

É foda saber que o funk desses artistas, escrito ao som das ondas do mar, tem o algoritmo ao seu favor, enquanto nosso funk que é real, ao som da guerra, tiro, porrada e bomba é descriminado. Ainda sim serve de inspiração para playboy que vem dizer que ama funk? Eles perceberam que, nossa coragem em narrar nossa vivência favelada através do funk, movimenta muito dinheiro, mas ao mesmo tempo enxergam a favela como um “problema social” e, no fim, o funkeiro favelado é lido como um problema.

Hoje é cada vez mais comum artistas gringos usarem o funk em suas músicas, mas voce foi uma das pioneiras nessas colaborações, com nomes como Diplo e M.I.A, como foram essas parcerias? Ainda tem algum dos sonhos?

O DJ Marlboro foi o primeiro a fazer essas colaborações, inclusive foi ele quem liberou o sample da minha música “Injeção” para o Diplo! Amigos me apresentaram Diplo e a M.I.A, a partir dessa conexão, participei do Tim Festival. Desde então, estou focada em levar minha música para o mundo. Meu sonho é montar minha banda, lançar meu livro, expor nas galerias e ter uma boa estrutura artística. O funk não é mais aquele que salva a tia do cachorro quente e o cara que carrega as caixas de som, o funk tem relevância artística mundial.

Como foi o processo criativo para o EP e o que o diferencia dos seus projetos anteriores? Teve alguma referência em especial?

Bom, papo reto, não tem uma diferença grande em relação aos projetos anteriores, ainda é meu jeito de produzir e criar, com novos horizontes, novas inspirações, mas eu sou eu! A diferença para o Nós É Firme, Não É Creme (2025) são as referências. A inspiração vem da minha vivência, nessas duas décadas de carreira, das parcerias até aqui e de tudo que tenho visto de interessante no mundo.

Quero falar, especificamente, da faixa “Melhor Amiga”, em parceria com a MC Tha, que parte de lugar íntimo das raízes familiares e espiritualidade. Pode contar um pouco sobre a composição desta faixa?

Essa composição me faz chorar! Tem muito de minha avó e do que sinto pela Tha. Imagina estar num sufoco e pensar que só aquela pessoa poderia te ajudar, uma pessoa que você ama, mas mesmo em outro plano está com você, é assim que me sinto com a minha avó.

É por ela que dobro os meus joelhos, sei que tem alguém por nós, mas é minha avó que sempre esteve comigo, mesmo quando esqueço, ela se faz presente. Trilhei caminhos que às vezes são chatos, mas estou indo em diante. Minha avó era umbandista. Na época, eu não entendia, mas, hoje, vou sempre no terreiro perto da minha casa, nós duas juntas e nos cuidando.

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18/08/2025

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Vitória Prates