Fora do streaming: como artistas têm usado formas alternativas de lançamento para além das plataformas

18/07/2025

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Por: Pedro Furlan

Fotos: Divulgação/Amanda Aguiar, Nani Basso e André Almeida

18/07/2025

Com a volta do vinil nos últimos anos — inclusive batendo recordes de vendas no ano passado — e a popularização de outros tipos de mídia física e digital, a dominância completa das plataformas de streaming no mercado da música tem sido algo contestado por alguns artistas. Diversos cantores e bandas têm preferido utilizar outras estratégias de lançamento de seus projetos, algumas vezes nem subindo suas músicas nas plataformas.

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“Muitas pessoas acharam revolucionário, outras ficaram com medo de que eu fechasse muitas portas”, afirma a cantora Luiza Pereira, que lançou Vazio Obsceno, primeiro álbum do projeto-solo MADRE (2024). O álbum ficou somente seis meses nos streamings, quando posteriormente foi lançado em CD.

Luiza publicou, junto ao seu lançamento em novembro de 2024, um manifesto criticando a “efemeridade digital”, a “música como produto descartável” e o “foco em plataformas que excluem artistas pequenos e independentes”. Para a cantora, que ganhou notoriedade na cena underground do rock brasileiro, lançar fora do streaming foi uma movimentação política sobre a indústria musical.

“Fazia tempo que estava observando e questionando a precarização que o streaming trouxe pro trabalho artístico. Antes de lançar o disco eu estava pensando em soluções e possíveis iniciativas para o mercado independente, por isso, foi natural usar meu lançamento como uma forma de manifesto.”

“Como artista, não consigo me submeter à forma que as coisas têm funcionado”, afirma ela. E Luiza não foi a única que teceu críticas a este modelo, ou que decidiu não utilizar as plataformas de streaming. Kate Nash, James Blake, Joni Mitchell, Björk e até Taylor Swift já opinaram sobre o estado da música nessa época do streaming.

Em 2021, a inglesa Kate Nash incentivou artistas musicais a falarem sobre “não serem pagos de maneira justa pelas suas músicas e streams”, afirmando que é importante “compartilhar com seus fãs, pois eles provavelmente acreditam que milhões de streams significam muito dinheiro ao artista”.

Joni Mitchell e Taylor Swift já chegaram a retirar suas músicas das plataformas digitais. As canções de Mitchell, lenda do folk, ficaram dois anos fora das plataformas em protesto contra o conteúdo anti-vacina que estava presente nestes streamings, enquanto as de Swift ficaram quase três anos fora do Spotify, porque a artista desejava limitar seu catálogo a assinantes, cujos streams geram mais receita.

James Blake, músico e produtor britânico, até lançou sua própria plataforma digital no ano passado, a Vault. A intenção por trás deste novo streaming é ser um canal direto entre artistas e fãs, o que permite que os artistas recebam mais pelas suas faixas.

No entanto, nem todos os cantores e bandas que investem em mídias alternativas são motivados por uma crítica às plataformas de streaming — para o selo Pequeno Imprevisto, que lançou o disco Músicas Para o Mundo – Vol. 1 (2025) no fim de junho, essa movimentação surgiu de uma valorização da relação entre artista e fã.

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“Essa decisão é um gesto. É quase como voltar a entregar um disco na mão de alguém, olhar no olho e criar um espaço de escuta mais próximo, mais direto e mais humano”, explica Otávio Carvalho, diretor artístico, produtor e cofundador do selo. O álbum, que conta com a participação de diversos artistas, foi disponibilizado primeiro em um link secreto, exclusivo para fãs.

“Essa ação é pensada, sim, para quem já está por perto — quem acompanha os artistas, quem tem curiosidade, quem gosta de estar próximo dos processos”, diz Carvalho: “É, sem dúvida, pensada para fortalecer essas relações. E relações fortes fazem a música circular de um jeito mais potente e mais sustentável”.

Além de Pequeno Imprevisto, outros artistas estão apostando na mídia alternativa como maneira de se conectar aos seus fãs, como a banda BIKE, que está lançando seu sexto álbum, Noise Meditations (2025), em vinil antes do streaming. Essas têm sido movimentações perceptíveis para distribuidoras e gravadoras.

“É uma forma muito legal de trazer seu projeto para fora do ambiente digital e se conectar com o público em outra esfera, e o planejamento dos dois formatos de lançamento podem conversar entre si”, afirma Julia de Camillo, Coordenadora de Relações DSP na ONErpm, gerenciando as parcerias digitais dos artistas da gravadora com os streamings.

Para Camillo, que cuida do relacionamento entre os cantores e grupos da gravadora e as plataformas digitais de música, o streaming e as mídias alternativas são estratégias que podem e devem caminhar lado a lado. “Hoje vemos que alguns dos maiores artistas do mundo em termos de streams são também os que mais vendem vinis”, diz. “Isso acontece porque esses artistas conseguiram construir uma comunidade de fãs apaixonada, que vai, sim, consumir a música por streaming, mas para quem isso só não basta, eles precisam de um item físico que materialize a paixão deles”.

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Julia trabalha diretamente com as plataformas digitais na ONErpm, que é um dos maiores grupos musicais e gravadoras do Brasil. Com essa experiência, ela aconselha artistas que desejam sair do streaming a “estudar sua base de fãs, comunicar-se com ela rotineiramente e entender a melhor forma de se fazer disponível para essa audiência, priorizando sempre uma conexão autêntica a você enquanto pessoa e artista”.

Nisso, a perspectiva de Luiza Pereira se assemelha, já que a artista por trás do projeto MADRE deixa o seguinte conselho, priorizando a criatividade: “Prepare-se para ter que pensar e ser criativo na forma de conduzir o seu lançamento. Não é o caminho mais fácil e nem menos trabalhoso”.

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18/07/2025

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Pedro Furlan