“Onde estão as mulheres que colecionam vinil?”. O questionamento da designer de UX Mellina Passi deu o pontapé inicial para o Spin Sisters, novo clube de vinil para mulheres. Aqui, elas dão o tom e assumem o comando da vitrola.
Desde a infância, Mellina coleciona vinil. Mesmo com a transição para CD’s e depois para o streaming, os discos nunca saíram do radar da paulistana. Os primeiros a entrarem na coleção foram Gabriel O Pensador (1993) e Bad (1987), de Michael Jackson. Nas raridades, sua coleção ainda conta com Discovery (2001), do Daft Punk, com prensagem dupla e original europeia – que a designer guarda com carinho.
Tamanha paixão a levou a criar um perfil no Instagram para falar sobre o assunto, e os seguidores despertaram sua curiosidade. “Percebi que cerca de 90% dos seguidores eram homens. Isso me chamou muito a atenção, até porque esse desequilíbrio também aparece nas feiras, nas lojas e nos eventos de vinil”, explica ela. Isso a levou a dúvida do início.
“Por que não vemos tantas mulheres colecionando? Onde elas estão? Afinal, música é um interesse universal. Foi então que decidi reunir as poucas mulheres que me seguiam em um grupo fechado no WhatsApp, para trocarmos ideias sobre vinil e música”, conta.
Mellina buscava construir um espaço de troca, e ela conseguiu. No grupo, as mulheres compartilham, se aprofundam nos assuntos técnicos, trocam dicas e constroem uma playlist colaborativa. O Spin Sisters cresceu rápido e várias outras mulheres interessadas surgiram.
Do Brasil a Alemanha: as mulheres do Spin Sisters
Mesmo recente, o Spin Sisters já tem força. Participam mulheres de 17 a 60 anos, de todo Brasil e de outros países, como Portugal, Alemanha e Austrália. Para Mellina, essa mistura faz o grupo ser tão potente.
A palavra-chave é colaboração. O próprio nome, como lembra Mellina, foi escolhido por meio de votação. Agora, elas querem dar o próximo passo. Do WhatsApp para o presencial, os encontros começaram em São Paulo, no último dia 7 de junho, com 12 integrantes, com participantes vindas até do Rio de Janeiro.
“Os encontros presenciais são uma celebração dessa rede que construímos e também uma oportunidade de viver experiências: ouvir discos clássicos, participar de workshops e, claro, atrair mais mulheres para o universo da música em mídia física”, conta Mellina.
O grupo está cheio de planos. Sessões de escuta coletiva de álbuns, workshops com especialistas, feira de troca e venda de discos e parcerias com marcas e lojas para benefícios exclusivos são apenas algumas das coisas que estão no radar.
A voz é delas
A desigualdade de gênero e baixa representatividade de mulheres nas camadas de liderança mostram que o mercado da música ainda precisa avançar no ramo de equidade. Dos 100 maiores rendimentos destinados a autores em 2024, apenas 5% foram para mulheres, segundo a pesquisa “Mulheres na Música”, do Ecad.
“E não é só sobre o vinil, nem só sobre a música: é sobre a sociedade como um todo, que historicamente invisibiliza a presença feminina em espaços de conhecimento, curadoria, técnica e cultura”, fala Mellina.
Nesse mesmo cenário, o relatório “Por Elas que Fazem Música”, com dados da União Brasileira de Compositores (UBC), mostra que, desde 2018, quando foi publicada a 1ª edição do material, o processo de superação da disparidade de gênero no mercado musical ainda é lento.
“Mais do que nunca, precisamos fortalecer iniciativas que não só incluam, mas também valorizem e deem protagonismo às mulheres na música. Porque quando uma mulher ocupa esse espaço, ela não está ali só por ela — ela está abrindo caminho para muitas outras”, conclui.
Para participar do clube, preencha o formulário, disponível no site. O Spin Sisters existe por um propósito: “tornar o universo da música em formato físico mais acessível, diverso e informativo para todas”.