Guilherme Match fala sobre a criação da HQ “Soundtrack” com Rashid

02/07/2025

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Por: Isabela Yu

Fotos: Guilherme Match

02/07/2025

Depoimento do quadrinista Guilherme Match sobre a HQ Soundtrack, criada em parceria com Rashid.

O que me chama atenção na arte, seja na música, filmes, literatura e quadrinhos, é a capacidade da obra te transportar para o lugar de outra pessoa. A Soundtrack (2023) surge dessa ideia. Como a gente pode se identificar através da música? Quero entender como ela nos ajuda a viver a vida de outras pessoas – e consequentemente, viver a nossa vida com outras perspectivas de mundo. Me interesso pela maneira como ela nos ajuda a perceber as coisas de outra forma através das vivências do artista, coisas as quais a nossa experiência não nos permite viver. 

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Tenho essa sensação quando escuto rap. Sou um cara branco de classe média que tem uma trajetória de vida totalmente diferente do Rashid, por exemplo. Mas consigo escutar as músicas dele e me colocar na situação que ele está descrevendo. A ideia da HQ conjunta surgiu dele. Como gosto muito de rap e hip hop, não ia me perdoar se deixasse passar a oportunidade de fazer uma HQ sobre música com um rapper. 

Entre idas e vindas, ficamos quatro anos trabalhando no projeto. A cada capítulo, o nosso protagonista, o MC Mayk, encontra um personagem diferente, e cria uma música para essas pessoas a partir do que elas escrevem sobre si. Com a tecnologia batizada de R.E.A.L, eles são levados para uma projeção do subconsciente ao escutar essa música. 

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Para participar do projeto, a pessoa escreve uma ficha contando as suas particularidades de vida, quais desafios está lidando no momento, porque a proposta do R.E.A.L é pensar em algo terapêutico. O rapper e o DJ recebem as informações e criam uma música baseada na história dela, eles vão criar algo alinhado com o coração dela. O som precisa criar identificação. 

A letra tem pensamentos e ideias que vão ajudá-la a lidar com o que ela está passando no momento. No final de cada capítulo, há a rima que o rapper escreveu para essa pessoa junto de um CD. “Quando você estiver mal, volta aqui e escuta isso, tá ligado?”. Seria mais ou menos como funciona uma sessão de terapia, que te faz entender e navegar melhor as suas paradas. 

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O livro está cheio de easter eggs. Tem a capa dos discos do Cassiano, Lauryn Hill e J.Cole, cartaz do The Roots, Sabotage e Gorillaz… A construção do mundo da HQ está bem detalhada. A gente foi trocando ideia das nossas bibliotecas em comum, rappers, filósofos, historiadores, escritores, então cada lombada de livro ou de disco veio de uma referência real nossa.  

Quando estou criando uma HQ, me preocupo com os detalhes da construção desse mundo porque isso é algo que dá credibilidade ao projeto. Quão verdadeiro esse personagem parece? Seja o que ela está lendo ou o jeito que fala, precisa parecer uma pessoa viva. 

A princípio, o livro teria 80 páginas, mas acabou com 200. Em outros trabalhos, já tive histórias relacionadas à música, mas não como fio condutor. Brinquei com o Rashid que fazer a Soundtrack foi o mais perto que cheguei de um projeto como Gorillaz, porque ele criou uma música nova e fizemos um videoclipe com os meus desenhos. 

Foto Guilherme Match

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02/07/2025

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Isabela Yu