Jadsa cai na estrada e compartilha inspirações do álbum “Big Buraco”

11/06/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação/ Lina Andreosi, Liz Dórea

11/06/2025

Jadsa estava hospedada no distrito de Kreuzberg, na Alemanha, excursionando pela primeira vez na Europa, mas com olhos e ouvidos atentos ao Brasil. Aproveitou as cores frias da cidade e a presença do fotógrafo Alejandro Tafur Fernandéz, para gravar o clipe de “Big Bang”, dirigido por Maíra Morena. Foi a primeira amostra que tivemos de seu novo álbum, Big Buraco, lançado em maio.

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Na letra de “Big Bang”, ela canta sobre os desejos – ou necessidades básicas – de quem vive de arte no Brasil: “viver bem, comer bem e dormir bem”. Resume a função toda: “As coisas acontecem quando querem / e quando cresce, todo mundo vê / Não o caminho traçado a navalha / mas o tamanho do bicho que é”.

Depois de todo o corre, a música levou a baiana para longe. A tour pela Europa é resultado de um som aclamado desde o álbum de estreia, Olho de Vidro (2001), que passeava pelo rock, soul, samba-rock e nas inspirações versadas no teatro-experimental de Itamar Assumpção e da Vanguarda Paulista.

A versatilidade de sons ficou ainda mais clara na parceria com João Milet Meirelles no Taxidermia, que venceu Prêmio BTG da música Brasileira na categoria Eletrônica.

No meio disso tudo, Big Buraco (2025) tem uma sonoridade mais versátil e um tanto mais acessível, até. Mostra-se lapidada com cuidado, apesar do álbum ter sido gravado em apenas sete dias de estúdio, com produção de Antonio Neves. Tem teclas, sopros, blues e um pouco de hip hop se alternando aos improvisos jazzísticos que Jadsa já executa com maestria.

No meio do show erguendo o vinil OLHO DE VIDRO. Meu primeiro disco. Quem ouviu aí, sabe. Trofeuzão <3

Mas é na brasilidade que se funda sua inspiração: no samba ou nas ensolaradas ladeiras de Salvador, como em “Sol na Pele”, e tambêm na figura materna: a mãe de Jadsa, Juçara, que vive na capital baiana, ganhou dupla-homenagem, nas faixas “Big Mama” e “Samba pra Juçara”.

Assim, o charme de Big Buraco está, principalmente, em sua cor local. “Eu queria essa cor”, ela conta. “O teclado, bateria e baixo na cara, o sonho de ter sopros nas minhas faixas. Elis Regina de 71, as canções populares brasileiras dos anos 2000 e algo dos 90. Scratches”, define a artista, ao explicar sua mistura.

O resultado da entrega e de suas experimentações foi digno de um big-bang pessoal. “Eu tenho várias vozes dentro de mim. Como vou falar de Itamar Assumpção sem prestar atenção nas sílabas? No Big Buraco, estou falando de vida, de amor, eu precisava cantar. Senti a necessidade de ser inteira na canção”.

É com essa inteireza que Jadsa nos narra, faixa a faixa, o processo criativo de Big Buraco, que você lê abaixo. Ela também compartilhou com a gente imagens da tour do projeto Circuitos, que rodou o estado de São Paulo com Fausto Fawcett e Maré Tardia, pouco antes do lançamento de Big Buraco. São imagens dessa tour que você vê ao longo do texto, compartilhadas com um toque de diário de turnê pela própria artista.

Aquele camarim pós show em Americana!  Com Fausto Fawcet, Maré Tardia e Lúcio Ribeiro, o culpado de tudo!

Confira o faixa a faixa:

“Big Bang”: Essa eu fiz pensando no básico para um ser humano viver, sabe? Viver bem, efetivamente viver. Eu acho que essa faixa começa muito bem o disco porque já fala das coisas que importam. E o tamanho desse buraco, no caso. O tamanho desse monstro. Então, “Big Bang” vem para desejar o melhor para todos e falar um pouco das nossas necessidades, das coisas básicas mesmo, que perdemos o costume de falar.

(Sorocaba)
Além da minha guitarra, eu uso dois microfones. Um que chamo de “principal” e o segundo que intitulei “voz da minha consciência”, nesse segundo mic dou respostas ao primeiro. É uma infinita conversa, haha.

“Tremedêra”: Essa é mais antiga, fiz lá em 2017, 2016. Essa música basicamente me apresenta, né? É um corpo brasileiro: penugem de umbu, brilho de jamelão, roupagem de cabaça, lábios de caju. É um grandíssimo monstro brasileiro, né? Uma coisa perfeita, com vários sabores, aromas, sotaques, texturas. É meio que esse monstrão chegando no universo, pousando na Terra. Boom. [risos]

“Sol na Pele”: ela veio para mim da melhor maneira – e veio toda de uma vez! Essa base da música é de Antônio. Um dia, ele mandou para mim e falou: “Velho, existe essa música instrumental, eu quero que você bote uma letra”. E aí eu letrei, compus essa faixa. Fala sobre uma pessoa apaixonada que anda pelas ruas de Salvador cantando, pensando na namorada. E sol na pele é basicamente, de novo, o básico, né? E o básico faz efeito. O sol na pele é bom. O sol na pele vem aí para dar esse e trazer essa luz para o disco já no iniciozinho, né? Para a gente continuar escutando o disco sorrindo.

“Mel na Boca”: é uma transição do ato 1, Big Bang para o ato 2, que é Big Love. “Mel na Boca” é uma degustação desse primeiro ato. É como se pingasse essa descoberta, o que o disco tá promovendo enquanto o som, enquanto proposta. É a degustação desse primeiro momento do disco.

(Piracicaba – SP) Pra vocês sentirem a vibe do palco em Piracicaba. Foi rock!

“Big Luv”: Minha segunda parceria do disco, esta com Maíra Morena. Ela tem uma coisa muito Bahia, Salvador. O samba-reggae tá entranhado nas veias de Big Luv. Tem também uma coisa meio R&B, assim, meio Solange. Faz uma brincadeira com essa coisa do amor. Acho que esses riscos, esses scratches, são meio como amar – o risco que você tem quando tá amando.

“No Pain”: É algo como: “Poxa, confio em você, respire fundo, vai dar certo”. É uma música necessária para mim. Eu basicamente fiz o download dessa música, com melodia, com letra toda, com tudo o que ela tem, e também gravei no Taxidermia, junto a “Tremedêra” e “No Pain”. Uma pegada meio Amy Winehouse, meio Björk. É um outro lugar de canto meu.

“1000 sensations”: O lado B do Big Buraco começa com essa, que também já foi lançada pelo Taxidermia e com participação de Bruno Berle. Outra parceria minha com Maíra Morena. É meio que é uma tiração de onda, meio setentista. Não é necessariamente uma vibe porra louca, mas algo como: quero enlouquecer, sei lá, velho, cansei, quero outras paradas. Então, mil sensações se passando na minha cabeça.

(Americana – SP) Eu  CHO-CA-DA com o show de Fausto F.. Incrível como as palavras saem dançando junto com os beats. Demais!

“Big mama”: Aqui começa o terceiro ato. Fiz essa em homenagem à minha mãe, Juçara Castro. Ela ficou lá em Salvador e continua falando de mim, continua me fazendo não esquecer de tudo, continua fazendo as pessoas não se esquecerem de mim também. Representa essa saudade do amor maior, né? O amor de mãe.

“Your Sunshine”: Outra parceria com o Antônio, na verdade eu meio que pensando nesse arranjo, mas é uma música composta por ele. E originalmente era um rockzão muito legal. Só que eu falei: “Velho, eu só escuto enquanto reggae”. E essa letra complementa esse lance do amor de mãe, né? “Eu não quero ser o seu raio de sol. Eu quero ser sua pedra”, né?” – seu firmamento, que vai estar ali para qualquer coisa.

“Um Choro”: Essa eu já amava há muito tempo. A Juçara Marçal fez a primeira versão de “Um Choro” no EP de Delta Estácio Blues (2022). Eu falei: “Poxa, já que tem essa homenagem para minha mãe, tem esse tema Juçara com “”ç”, né?” Eu falei: “Pô, vou fazer uma brincadeira, vou pegar essa faixa de Juçara e fazer a minha versão”. E aí deu nessa versão linda que tem Eduardo Neves tocando flauta. Eu gravei todos os violões, guitarra também. Adoro muito, muito essa faixa. Acho muito legal. A única também que não tem bateria. Curto muito o jeito que ela se apresenta no disco.

E aí vem “Samba pra Juçara”: Fiz em parceria com minha mãe, em 2016. Peguei uma estética do Big Ben (1965), do Jorge Ben, tentando ter essa levada de um samba simples. Só que ela tem uma cadência melódica um pouco diferente, umas subidas de meio-tom que são especiais. Eu adoro essa música. E uma curiosidade, essa música começa na mesma nota que o “Run Baby” do meu disco, Olho de Vidro. Porque eu queria homenagear realmente a minha mãe. Minha mãe ama “Run Baby”, daí quis começar na mesma nota.

“Big Buraco”: E por último, mas não menos importante, a faixa que resume tudo e que dá vontade de você escutar, reescutar o disco. O quarto e o último ato, a finaleira. Curiosamente, essa música foi o pontapé inicial para o pensamento do disco inteiro. Eu tava escutando muito uma faixa que Elis gravou que é “Bala com Bala”, e me deu muito uma vontade de fazer um papo trocado assim – uma canção, um samba um pouco mais rápido, só que mais leve. Aquelas bossa novas que não parecem bossa, aquele samba que não parece um samba, que parece um rock. É música de final de disco, mas que parece um novo começo.

E ela tem Antonio Neves prestigiando na voz. Fiquei muito feliz dele topar, eu queria muito uma intenção tipo “Esse é o famoso 16 toneladas” [de Noriel Vilela]. Acho que ficou uma energia próxima, meio irônica. Eu amo demais.

(São Paulo)
Depois de 5 shows corridos por São Paulo e interior, fazendo aquele registro no cartaz. Feliz de me juntar com esse time. Um beijo, Fausto Fawcett e Maré Tardia!

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11/06/2025

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Damy Coelho