Julia Mestre em nova fase: turnê “Maravilhosamente Bem” está confirmada em seis cidades

15/07/2025

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Por: Isabela Yu

Fotos: Divulgação/ Elisa Maciel

15/07/2025

Depois de viajar o mundo com o Bala Desejo – rodaram o país e chegaram até a Austrália –, Julia Mestre sentia uma estafa emocional e criativa. A rotina de shows cobrou seu preço, mas serviu como mola para a elaboração do terceiro disco, Maravilhosamente Bem, lançado em maio. 

Neste momento, a artista se prepara para levar as novas músicas para a estrada, mas tudo no seu ritmo. A estreia acontecerá no próximo sábado, 19/7, no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Já em setembro, desembarcará em Belém; no mês seguinte, passará por Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, e encerrará a tour no Rio de Janeiro, no início de novembro. (Ingressos neste link).

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O pontapé do álbum aconteceu no final de 2023 com “Sou Fera”, farol para o restante das músicas, que foram lapidadas ao longo do ano seguinte. A canção foi resgatada do caderno de anotações: “Tenho sempre um diário de bordo comigo, onde faço exercícios de composição. Em uma dessas turnês, saiu essa letra já com melodia. Aquilo me despertou porque ela fala sobre a atitude de querer ser fera, mas por trás das garras, há a aura mansa”, lembra Julia Mestre. 

Como boa geminiana, ela enxerga com clareza as dualidades da vida. No palco, está entregue ao público, mas nos bastidores, entende a necessidade de se preservar: “Tudo tem que ser pra já. O imediatismo de chegar na cidade, conhecer tudo naquele dia, relações que não duram porque você vai embora no dia seguinte. Exige muito trabalho interno, trabalhar o desapego, mas essa dinâmica traz dor e solidão. No fundo, quero poder me estabilizar, ficar tranquila com o meu estúdio num sítio”. 

“‘Sou Fera’ nasceu desse sentimento: da turnê, da vida agitada do entretenimento, e também de falar dessas feridas. No fundo, a gente também está sempre tentando lamber a ferida”, reflete a artista. Atenta aos sinais do caminho, entendeu que estava na hora de elaborar o sucessor de Arrepiada (2023), então incluiu os músicos que a acompanham nos shows – Gabriel Quirino, Gabriel Quinto e João Moreira – no processo de composição. 

“Sinto que pela primeira vez conheci a harmonia entre estética e música com um 360º bem amarrado”, afirma a artista. Para acompanhar o lançamento do disco, cada música ganhou um visual diferente, elaborado a quatro mãos com o diretor Gabriel Galvani. Em cada faixa, Julia Mestre vive diferentes vidas, cada uma dando vazão às suas inquietações artísticas. O projeto reflete a maturidade adquirida pelas estradas do caminho, de quem ainda entende que há muitas rotas a serem exploradas. 

“O recado que dou em Maravilhosamente Bem é: siga a sua intuição porque você será recompensado e vai se sentir bem. Acho que essa foi a primeira mensagem que eu queria dar,  acredite e confie nos seus instintos porque você é quem guia a sua maré, constrói a sua trajetória.Quanto mais madura vou ficando, mais me sinto confiante na minha caminhada. É um disco no qual me sinto assim – satisfeita, feliz e orgulhosa do processo.”

Arrepiada é roxo e Geminis (2019) é laranja. Qual é a cor de Maravilhosamente Bem? 

Azul bebê-diamante. 

Os aspectos sinestésicos e cinematográficos fazem parte do seu trabalho. Qual energia você quer passar no disco? 

Ele conversa com dois mundos: tem uma referência forte aos anos 1980, ainda que seja contemporâneo, é um disco que flerta com o passado. Fizemos uma homenagem à alegria da pista de dança, mas também tem um momento de balada de amor. É um disco com um arco romântico, fala do amor em diversas fases, do seu início ao fim. Não só o romance entre um casal, mas amor próprio. “Pra Lua” é uma música muito feminina, que fala sobre um orgasmo, a paixão entre uma mulher e a lua. “Sou Fera” traz a solidão. 

Como foi a linha do tempo do processo de criação? 

Espero um sinal que me desperte para entrar em uma nova fase. “Arrepiada” foi a primeira música que compus no meu álbum passado, algo que me orientou para um novo caminho. Sinto que entrei com mais profundidade na estética iniciada ali. Mostrei “Sou Fera” para Gabriel Quinto, um dos produtores do disco, e ele ficou muito empolgado. Fiz o convite para a banda co-produzir o disco, pois a gente está numa química boa, é um time que deu match. Fizemos um quarteto. Eu tinha apenas uma música, e resquícios de outras canções. “Pra Lua” foi uma música que escrevi para Illy, mas ela não lançou. Só que ela tinha outra pegada, então desconstruí e peguei só o refrão. Depois disso, as músicas começaram a aparecer. Veio “Vampira”, uma versão de Rey Reyes, que transformamos em um thriller anos 1980. Aquilo estava me contagiando, me sentia muito viva. Começamos em dezembro de 2023, escrevi até março de 2024. Uma das últimas foi “Maravilhosamente Bem”, sinto que ela surgiu como um resultado do que eu estava vivendo. 

Qual a história dessa música? 

Fizemos a imersão na salinha de casa, no meu estúdio. Fui ao mercado para fazer os lanchinhos, e com as sacolas na mão, comecei a cantar o refrão. Foi muito espontâneo (risos). É uma música imbuída nessa energia. O projeto me contagiou, me acendeu uma faísca, e quando percebi, estava maravilhosamente bem. Tinha que ser o título do disco porque traduz exatamente o que estou sentindo agora. 

Como equilibrar a influência oitentista na sonoridade das músicas? 

Levantamos as bases de dezembro a março no meu home studio. Quando fomos para o estúdio, substituímos as partes eletrônicas porque a gente queria um disco orgânico. Usamos poucas programações, tudo foi gravado, então por isso ele tem essa sensação nostálgica. Ele é dançante mas não é tão carregado de camadas, não tem tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, respeitamos os silêncios e espaços. Cada instrumento tem o seu momento de brilhar e de destaque. Do início ao fim, ele foi projetado porque a gente sabia onde queria as coisas. Normalmente, há a tendência de ir para um lugar mais setentista, mas fizemos o caminho de subir uma década, principalmente com os teclado analógicos, que norteiam a estética do disco. É um disco pop, mas também é clássico, por ter arranjos de orquestra, ele transita nesses dois lugares. 

O que te atrai na música da década de 1980? 

Como eu não vivi essa época, me vejo apaixonada por essa estética. Entendo que a linguagem está amarrada ao artista, então por ter começado esse caminho no meu álbum passado, quis dar uma continuidade a essa história. Por ser uma artista em formação, me vejo firmando esse caminho. Além de que essas referências conversam muito com os músicos. Faço canções que precisam dessa roupagem, tanto o lado mais dançante, assim como as baladas mais lentas, que combinam com a minha voz suave, mais rouca e aveludada. Quis mostrar esses dois universos que eu flerto: o pista e a dois. 

Como foi encontrar os vocais de cada canção? 

Por muito tempo, tentei entender qual era a minha voz porque me vejo como uma cantora mais minimalista, tenho uma voz mais íntima com um timbre mais rouco e grave. Não sou uma cantora que trabalha com extensões vocais, fui entendendo o poder da proximidade, de estar próxima ao ouvido. A Billie Eilish foi uma das referências contemporâneas, peguei dela essa estética para a gravação da voz. Saber como usar a minha voz foi a maior chave desse disco, foi onde eu melhor entendi o meu posicionamento e as minhas características – em como tirar o melhor aproveitamento dela. Apesar dele ter um momento mais animado, sinto que as baladas são um momento forte do disco. 

Dentro desse universo oitentista, você trouxe a própria Marina Lima para declamar um poema no final de “Marinou, Limou”. Como rolou a aproximação entre vocês? 

Eu tinha um poema com palavras do vocabulário dela. Tentei fazer um arranjo de palavras que pudessem estar em canções de Marina Lima. O Gabriel Quinto leu o nome do poema: “Marinou, Limou”. “É o refrão”, ele disse. Fiz uma homenagem, seria como “caetanear o que há de bom”. Colocar o Caetano como verbo. Marinar Limar a vida é reverenciar o seu universo. Vemos como ela é dona de uma estética muito completa. Pensei que não poderia morrer sem tentar chegar nela. Ter a voz da Marina é como um selo de autenticação de que ela aprovou a homenagem. Tive a resposta que ela não me responderia até ouvir a música, e precisaria se sentir 100% conectada. Ela escreveu o poema inspirado na canção e assinamos a música em parceria. Desde então, a gente tem trocas muito legais. Me deu a bênção. 

O repertório conta com uma regravação, “Sentimento Blues”, lançada em 2021. Como ela se encaixa no universo do álbum?

Me apaixonei pela nova roupagem dela. A original é um dueto e a trouxemos para uma versão mais balada, bebendo da Alcione, das músicas românticas, da música de karaokê. Sentia que ela merecia uma nova versão porque ganhou uma outra camada. Acho esse movimento interessante porque nesse ineditismo da indústria, canções vão ficando pra trás. Isso era um movimento comum no passado, de reforçar o peso da canção ao ser regravada. Quis reforçar uma música que eu acredito muito. Se ela tem outros estilos e roupagens mostra ainda mais o peso da composição, como ela se enriquece em outras estéticas. “Sentimento Blues” tem a ver com o momento mais romântico do disco, quando ele fica mais apaixonado e mais lento. 

Pensando na parte visual do disco, como foi traduzir as canções para as narrativas dos clipes? 

A música foi contagiando o caminho. O Gabriel Galvani foi fundamental nesse processo. Contei para ele a minha veia teatral, pois a minha formação é como atriz. A cada disco, gosto de entrar no personagem, então em cada um você vai ver uma personalidade diferente. Não sei quantas versões de mim ainda existem aqui dentro. No Bala Desejo, trago uma energia mais dourada e uma posição mais etérea. No Arrepiada, sou um pouco mais rock’n’roll. O Maravilhosamente Bem vai para um lugar mais lúdico, cinematográfico, cabaré. Entrei em um personagem diferente em cada música. Buscava algo colorido e chocante, os roteiros foram para o nonsense, queria algo conectado a ficção científica e a fantasia. A gente foi para o interior de São Paulo gravar pois quis passar a visão de como os dias ensolarados são extraordinários em uma cidade pequena. Cada filme tem o seu roteiro e a sua magia. 

Como a parte visual se conecta ao universo de Arrepiada

Talvez eu seja uma atriz frustrada por não ter seguido a carreira, então trago a teatralidade e o cinema para a minha música. Fiz o roteiro que se despedisse do álbum antigo para me conduzir ao que estava por vir. Em “Sou Fera”, a primeira cena mostra o carro de “Arrepiada” quebrado, me abandonando, então aquilo me orienta para seguir um novo caminho. Abandono o carro, pego a minha mala e sigo viagem. Tem a aparição de uma mulher mais velha, você vê pelas tatuagens que ela viveu o rock, ela me dá de presente uma guitarra. A gente deixa várias brincadeiras e referências no filme. Tem uma cena onde eu anoto as músicas, se você pausar consegue ler o nome de todas elas. Me expresso artisticamente pelo visual. Sinto que a internet fica restrita a um lugar da rotina, entendi que posso gerar curiosidades pelas minhas aparições online. Crio essa apresentação visual como intervenções. Como vivemos em um mundo mais imagético, é a minha forma de cutucar esse sistema, de usá-lo ao meu favor. Se você não pode vencê-los, resta unir-se a eles. 

15/07/2025

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Isabela Yu