As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo (2025) foi gravado em Belo Horizonte, terra do Lagum, mas poderia representar os sentimentos dos moradores de qualquer metrópole. O quinto álbum da banda mergulha na realidade para mostrar que o comum também pode ser extraordinário.
A capa do álbum já é um lembrete para o ouvinte – parece indicar que a vida não anda em linha reta, mas sim em curva, com diversos caminhos possíveis. A foto foi tirada no topo do Edifício Niemeyer, que fica em uma praça turística da capital mineira.
Sobre a escolha do prédio, assinado que também leva a assinatura do arquiteto, o vocalista, Pedro Calais, explica: “Oscar Niemeyer usava as curvas como uma expressão de liberdade, em oposição às linhas retas, duras e previsíveis da cidade”.
“As curvas, que também estão presentes no nome do nosso disco, também representam o imprevisível, o imperfeito, a adrenalina e a beleza das coisas que a gente vê no cotidiano, e que deveríamos dar mais valor. Estar no topo de um prédio nos permite olhar para a confusão urbana de um jeito mais tranquilo”, conceitua.
Lagum não precisa de mais de 30 minutos – tempo de duração do álbum – para colocar as emoções em foco. A formação conta com Pedro na voz, Otavio Cardoso (Zani) e Glauco Borges (Jorge) nas guitarras e Francisco Jardim (Chico) no baixo.
As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo (2025) é a terceira produção do grupo sem Tio Wilson. O baterista faleceu em 2020, vítima de uma parada cardiorrespiratória. A perda do integrante inspirou os álbuns Memórias (De Onde Eu Nunca Fui) (2021), Depois do Fim (2023) e o EP Fim (2023).
Com 10 faixas, o novo disco foi produzido pela própria, ao lado de Paul Ralphes. A produção conta com um feat: a paulista Céu foi uma escolha acertada. Com seu último álbum, Novela (2024), lançado pelo Noize Record Club, a cantora traz um toque MPB para a faixa “Tô de Olho”.
Na turnê, a banda mineira se apresenta em 26 cidades no Brasil e 8 no exterior. Os shows começam em julho, em Brasília (20/07). Em agosto, passam para São Paulo (02/08), Joinville (08/08), Braço do Norte (09/08), Florianópolis (10/08) e Vitória (30/08). Veja mais datas aqui.
Do fim de festa da Lagum – como diz a música “Quem Desligou o Som” – o público só sai carregado, após cantar rock, reggae e pop e muito mais. Leia o faixa a faixa a seguir.
“Eterno Agora”: abre o álbum com um clima contemplativo, guiado por violão e uma melodia que remete aos anos 90. A parte C traz um toque sutil dos Beatles, costurando uma letra que convida à reflexão sobre o poder do presente.
“Dançando no Escuro”: mantém a coesão pop enquanto mergulha em um clima londrino. Com atmosferas à la The Cure e um groove mais contido como Whitest Boy Alive, ela pinta a cena com tons roxos — talvez a faixa mais introspectiva do disco. Riffs retos de baixo e guitarra dobrados dão ritmo a uma dança íntima num quarto escuro.
“A Cidade”: talvez seja a canção mais grandiosa do projeto. Voz e violão estão no centro, mas são cercados por uma produção intensa e cordas que ampliam a emoção nos refrões. A letra é pura poesia, relacionando a ausência do amor com uma cidade escura, sem lua.
“Quem Desligou o Som”: muda o clima com uma estética retrô e ousada. A faixa mistura grooves com samples, bateria acústica e um baixo marcante, criando a trilha sonora de um fim de festa irônico. O solo de teclado no segundo verso reforça o caráter visual e teatral da música.
“Desvantagens de Amar Alguém Que Mora Longe”: nos leva de volta às canções com um arranjo progressivo e delicado. A letra carrega imagens e sinestesias que falam da elasticidade do tempo em relações à distância. O final explode num rock de estádio — emocional, elegante e catártico.
“Tô de Olho”: traz o Brasil para o centro do álbum com seu beat seco, baixo pulsante e violão à la Jorge Ben. A participação da Céu adiciona organicidade e contraste de textura. É uma fusão de reggae moderno e groove tropical.
“Vagarosa Manhã”: revela-se como um díptico sonoro: de um lado, o folk aconchegante; do outro, um rock sujo e visceral, com bends dissonantes. O contraste entre calma e intensidade reforça o tema do agora como presença viva.
“Vida Novela”: começa com uma introdução épica que desemboca num groove bastante cinematográfico. A faixa carrega uma atmosfera indie-pop, com um coro marcante, que funciona como refrão e provoca uma nostalgia sonora.
“Baby Blue”: é onde o rock’n’roll finalmente se assume. Com uma aura hedonista sutil, ela transita entre um swing macio e um beat garageiro dos anos 90, sem abandonar a sujeira dos anos 70. Um encontro entre Chet Faker e David Gilmour com muito groove.
“A Última Nuvem do Céu”: encerra o disco como um suspiro final. Voz e violão são a base, mas piano e cordas elevam a densidade da faixa com delicadeza e força. Um final que condensa tudo o que o álbum constrói: beleza, melancolia e transcendência.