“Letrux em Noite de Climão” entra para a série Livro do Disco, da editora Cobogó

04/08/2025

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Por: Vitória Prates

Fotos: Divulgação/Bruno Machado e Juliana Rocha

04/08/2025

Em Noite de Climão (2017) representa uma virada de chave na carreira de Letícia Novaes. O álbum marca o momento em que Letícia virou Letrux, dando início à carreira solo. A produção virou tema de livro, lançado este mês pela Editora Cobogó, veja aqui. O evento de lançamento acontece no dia 7/8, na Livraria da Vila Fradique, em Pinheiros, com Letrux, Roberta Martinelli e Isabela Yu, editora da Noize.

Escrito pela jornalista Roberta Martinelli, Letrux: Em noite de climão disseca os bastidores da produção do álbum e seu impacto na música brasileira, que venceu a categoria de “Disco do Ano” no Prêmio Multishow de Música Brasileira.

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O livro integra a coleção O Livro do Disco, da Cobogó, que desde 2014, mergulha em álbuns marcantes da música mundial, como A Tábua De Esmeralda (1974), de Jorge Ben Jor; Sobrevivendo ao Inferno (1997), do Racionais; The Velvet Underground and Nico (1967) e muitos outros, confira aqui.

O estilo já conhecido de Letrux, que une o intenso e irônico em um universo dançante com batidas eletrônicas, nasceu em Em Noite de Climão (2017). A primeira prensagem do disco saiu na edição #018 do NRC, em 2018. Na época, a artista foi capa e recheio da edição #82 da revista Noize. Lembre o faixa a faixa do álbum:

“Vai Render Pra mim”: quase um mantra: “Bota na tua cabeça que isso aqui vai render”. Essa frase me veio como um raio e, quando falei essas palavras, não pensava que iam render tanto. O resto da letra sou eu avisando que alguma coisa vai acontecer e fazendo uma brincadeira comigo mesma, de que andei sequelada, avoada. E essa música tem uma bateria [eletrônica] que o [coprodutor e tecladista] Arthur Braganti achou num teclado Casio muito antigo. Tentamos reproduzir, mas [pensamos]: “Não, vamos gravar o tecladinho mesmo”.

“Ninguém Perguntou Por Você Andando na Av. Paulista”: me veio essa frase: “Ninguém perguntou por você”. Continuei e a música veio numa talagada só, acho que é uma das mais repetitivas do disco porque o movimento de andar é repetitivo. E a letra é sobre um amor platônico. O amor real requer outras habilidades, só amor não basta, tem gente que se ama e não fica junto. Às vezes, você só dá certo com alguém dormindo, mas aí acorda, tem que pagar a conta, as questões mundanas vão chegando… É sobre um amor fantasma camarada, que não existe na realidade.

“Coisa Banho de Mar”: o Arthur Braganti me falou: “Fiz uma música pra você, mas tá precisando de acabamentos. Naquela hora ‘coisa banho de mar’ é pra você escolher uma palavra, tipo ‘delicioso banho de mar’”. E eu falei: “Não, é ‘coisa banho de mar’! A palavra já tá ali” (risos). A música já estava perfeita, eu só botei o “brutal” [em “que brutal esse caldo…”] e senti necessidade da parte C, aí fiz: “Eu vou nadar…”. É uma coisa mais sereia, mais onírica.

“Que Estrago”: a Bruna Beber é uma poetisa maravilhosa, lésbica, uma das minhas melhores amigas, e sempre falávamos: “Vamos fazer uma música!”. Nunca saía. Aí um dia, como boas melhores amigas, nos juntamos às duas da tarde com caderninhos. “Sobre o que queremos falar?”, “sobre duas mulheres se amando e com tesão”. É importante falar sobre tesão. Aí pensamos na simbologia de duas mulheres: “Farol tá aceso”, “maré tá enchendo”… Fico muito honrada de receber mensagens de muitas mulheres falando: “Eu tenho uma música, muito obrigada”. Isso mostra o quanto a comunidade LGBT às vezes não se sente representada pela maioria das músicas que existem.

“Puro Disfarce”: eu já tinha tentado fazer com algumas parcerias e ela não se desenvolvia. Aí Marina Lima, no início de 2017, me chamou e fizemos “Mãe Gentil” pro disco dela Novas Famílias (2018). Então falei: “Marina, quer participar do meu disco?”. Mostrei “Coisa Banho…”, “Noite Estranha…” e “Puro Disfarce”. E ela falou que queria participar de “Puro Disfarce”. Eu era criança quando ouvi Marina pela primeira vez e fiquei: “Quem é essa mulher?”. Então, foi uma conquista. E foi lindo participar do show dela e quando ela participou do nosso.

“Amoruim”: fiz com o meu atual parceiro, o Thiago Vivas. Tem gente que tem saudade do início e, pra mim, é a pior parte de qualquer relação amorosa. Acho que até o amor ser bom ele é ruim. Sei que é uma frase polêmica, mas eu acho. E é uma música que, até hoje, dói cantar, geralmente eu choro. No início, a música fica num mal estar, mas, no final, ela tem um alívio, um gozo. Chorei muito gravando.

“Noite Estranha, Geral Sentiu”: fiquei pensando em como as pessoas só falam de amor, eu incluída. Aí falo pra uma mina: “Se tu tá acordada às cinco horas da manhã significa que tu tá apaixonada ou que tu tá sozinha e eu não sei o que é pior”. Às vezes, não sei se estar sozinha é tão ruim quanto estar apaixonada, às vezes é melhor estar sozinha. Essa música é a mais capricorniana [do disco] por causa do refrão: “Entra, mas não fica à vontade que eu não tô”.

“Além de Cavalos”: fiz com Lucas Vasconcellos, meu ex-parceiro [e ex-colega de Letuce], somos amigos de uma maneira muito linda, que nunca pensei ser possível. Aí tem a história de uma prima minha que fez uma tatuagem e teve que consertar porque ela não tem “grana para o laser”. E é muito louco, claro que, de alguma maneira, falamos sobre nós [na letra], mas teve gente que ficou: “Vocês têm tatuagem?”. “Não, claro que não!”.

“Hypnotized”: um grande amigo que é artista plástico, mas se arrisca no piano, o Bernardo Ramalho, estava repetindo uns acordes e eu fiquei com isto na cabeça: “You left me hipnotized”. Aí corri pra um gravador e, depois, terminei. É uma letra meio louca, queria falar sobre pessoas que deixam hipnotizadas de uma maneira natural, não na sedução forçada. E tem essa coisa: “Ah, você me deixou hipnotizado. Mas você me deixou”. “You left me hipnotized. You left me”. Essa música é muito louca, amo ela no show, a galera fica meio hipnotizada mesmo.

“Flerte Revival”: fiz em 2012. Eu e Arthur [Braganti] fomos numa vernissage e um menino passou e nós ficamos: “Gente… Te vi nas artes plásticas” (risos). Depois, o Arthur tinha um flerte e a gente foi numa festa e o Arthur queria paquerar ele, mas ele só circulava… A gente tinha acabado de ler o livro Personas Sexuais (1990), da Camille Paglia, e ela tem uma expressão sobre o “revival do marinheiro”. Então, é uma composição que fiz muito inspirada nessas duas figuras, e também nesse livro.

*Esta matéria foi publicada originalmente na revista Noize, que acompanha o disco Em Noite de Climão, de Letrux, lançado pelo Noize Record Club.

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04/08/2025

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Vitória Prates