Nesta quinta-feira (2/10), Agnes Nunes realiza show duplo no Blue Note, em São Paulo. Nas sessões, realizadas entre as 20h e as 22h30, a cantora irá apresentar releituras de canções clássicas, tanto nacionais quanto internacionais, e faixas autorais (veja ingressos aqui). Na banda que a acompanha, participam João Lacerda (baixo), Leonardo Delgado (bateria), Gabriel Serour (teclado) e Thúlio Teixeira (guitarra).
Talento desde a infância
Com 12 anos, Agnes ganhou um teclado da mãe e aprendeu, sozinha, a tocar. Em seguida, foi a hora de soltar a voz e compor. Aos 14 anos, ela começou a postar os vídeos na internet, chamando a atenção até de Caetano Veloso. Agora, aos 23, e mais de 35 músicas lançadas, ela vem se consolidando na nova MPB.
Nos cinco anos de carreira, Agnes teve grandes conexões no palco, com Elza Soares e Liniker e dois álbuns aclamados pela crítica — Menina Mulher (2022) e Amor e Suas Variáveis (2024) — Sonoramente, ela transita entre o MPB, R&B e o forró.
Neste ano, ainda lançou releituras dos singles “As Rosas Não Falam”, do Cartola e “A Lua Girou”, de Milton Nascimento. O show do Blue Note é mais um capítulo de uma trajetória que está só começando. A Noize conversou com Agnes sobre carreira e seus próximos passos. Leia na íntegra abaixo:
Como estão as expectativas para o show duplo no Blue Note?
Estou animada e ansiosa! Já toquei outras vezes no Blue Note e eu amo tocar nessa casa! É uma casa de shows icônica em São Paulo, bem na Avenida Paulista, vai ser muito divertido, bonito e vai ter uma equipe maravilhosa. Vai ser um show super especial!
Além do repertório de O Amor e Suas Variáveis (2024), o que mais o público pode esperar?
Menina, estou preparando um monte de música que eu gosto e que sempre quis apresentar. Estou levando o mundo musical de Agnes para o palco do Blue Note. Fora as músicas do meu álbum O Amor e Suas Variáveis (2024), vou tocar….Posso dar um spoiler? [risos] “Pérola Negra” do Luiz Melodia, “Fullgás” de Marina Lima, “Cry Me a River”, do Justin Timberlake e “Milagreiro”, de Cássia Eller.
Qual toque especial você vai dar para essas canções?
Meu toque Agnes de ser [risos] Não sei muito bem, quem sou eu, né? Tem meu toque, tem minha personalidade, minha musicalidade, meu sotaque, minha banda, que temos uma relação muito bonita, no palco, cinco cérebros se tornam um só, é uma mágica. São músicas que eu realmente gosto, e penso: “Se faz sentido para mim, deve fazer sentido para outras pessoas também”.
Dessas canções, tem alguma com um significado especial pra você? Qual e por quê?
Todas! Ai que sacanagem [risos] Tem uma, que eu não falei acima, mas toda música que me remete a casa me toca em um lugar diferente. Para além dessas que citei, tem outras que me remetem a onde eu vim e elas são as mais especiais.
O que você quer que o público sinta ou leve com eles depois desse show?
Um abraço.
Carinho em forma de música e de arte. Um respiro para seguir bem a semana, seguir a vida, com a arte a gente vai embora e supera tudo. A arte ocupa muito esse lugar na minha vida, me ajuda a viver um dia de cada vez e saber que tudo vai dar certo.
Sua música tem uma mistura única de MPB, R&B, forró, blues e ritmos nordestinos. Como você definiria seu som hoje?
Não consigo definir meu som. Tava conversando com um amigo meu esses dias que as pessoas têm necessidade de rotular a gente como se fossemos potes de maionese e não é assim. Eu cresci com muitas influências musicais ao meu redor.
Cresci com o forró pé de serra da minha avó, no interior da Paraíba, e minha mãe, que viajava mais e quando voltava para visitar, trazia MPB, com Caetano, Chico, Djavan, Gal. Fui crescendo e fui construindo meus próprios gostos. Adoro R&B, rap, essa música de rua, sabe? Não consigo definir.
Eu sei que sou uma nova MPB. Essa nova geração vem para isso, para que a música não seja rotulada, mas sim sentida.
Neste ano, você já lançou “As Rosas Falam” – composição de Cartola – e “A Lua Girou” – de Milton Nascimento. Qual outro artista te inspira tanto quanto esses?
Mais para frente eu vou regravar uma música que sempre quis: “Estrela”, de Gilberto Gil. Também morro de vontade de regravar “Fullgás”, ela me faz transcender, voar que nem uma estrela. “Malandro” da Elza Soares, um clássico do samba, me pega forte.
Quais são seus próximos passos? Vem álbum novo por aí?
Está vindo muita coisa boa! Estou em uma nova fase da minha carreira. Acabei de mudar de escritório, que eu estava desde o início da minha carreira, estou tendo mais espaço para cantar o que eu sempre quis, mais autonomia.
Estou muito ansiosa para essa nova fase, essa nova Agnes, que sempre esteve presa dentro de mim e eu precisava soltar ela. Aos pouquinhos, ela está aparecendo. Vou vivendo, escrevendo músicas e me conectando com minha afro ancestralidade, meu lugar aqui dentro da terra e a função da minha voz. Está muita coisa, álbum, EP, são muitas composições, tanta coisa vivida que precisava ser posta para fora, e agora chegou o momento. Estamos a todo vapor! Escrevendo e gravando.
Como vai ser esse novo EP e novo álbum?
Vai ter um Agnes romântica, porque eu sou romântica, mas também terá uma Agnes um pouco mais madura. A gente acha que é clichê, mas o amor-próprio é tudo, sem ele não tem nada que ande. Tenho experimentado me conectar com outros compositores e produtores que gosto e sempre quis trabalhar.
Está sendo muito legal! Vai ter músicas minhas, de outros compositores, eu e meu tecladinho [risos], releituras, interpretações e tudo que você pode imaginar. Estou prometendo muito e vou entregar tudo! [risos].
No mundo da música, tende a existir uma separação entre intérprete e autor, mas o legal é sambar entre dois, e você faz isso muito bem. O que te encanta no lado de intérprete e no lado de compositora autoral?
Essa pergunta é muito boa! A interpretação, pra mim, ocupa um lugar de empatia, é algo que o outro escreveu e te tocou em um lugar tão fundo que você consegue fazer que pareça ser seu, de tão verdadeiro que aquilo é para você.
A interpretação tem um poder muito mágico. Gosto de cantar músicas que me façam chorar e que me levem para o fundo do poço, elas são as mais poderosas. A interpretação tem esse poder. De fazer você se identificar com o sentimento de outra pessoa que aquilo se torna seu, isso é muito lindo.
Sobre escrever, uma vez estava conversando com a Liniker e ela me disse algo que eu nunca esqueci: “Quando estamos compondo nos expomos no nível máximo”. É o nosso lado mais nu, é nossa poesia que, talvez, não fossemos o que somos, a gente não teria coragem de mostrar para o mundo. Quando a gente quebra a cara e perde um irmão, escreve uma música e coloca no mundo.
Interpretação e composição são duas coisas muito fortes, me sinto grata e honrada por ser abraçada e agraciada por essas duas maravilhas, que é o poder da interpretação e da escrita. Nem sei explicar o poder que isso tem na minha vida artística. Comecei na interpretação. Já escrevia meus poemas, mas comecei com as músicas que ajudam na minha autoestima, no meu amor próprio e amores não correspondidos.
Amo quando vejo as pessoas reinventando minhas canções também. Curto, converso, fico muito feliz! São as pessoas se identificando com meu lado mais vulnerável. Não tem nada mais bonito do que isso, o mínimo que posso fazer é agradecer e reconhecer.
Sei que ainda está longe, mas você também está confirmada no Lollapalooza 2026. Neste ano, também se apresentou no C6 Fest. Como é pra você subir ao palco de grandes festivais? Que sensação esse tipo de evento te traz?
Sempre que coisas grandiosas como essas acontecem, a gente rebobina tudo e volta para o começo, onde eu nem imaginava que o que está acontecendo hoje em dia, que sou eu vivendo da música, seria uma possibilidade. Me sinto grata e em um lugar de representatividade, para tantas meninas do Nordeste, do interior do nosso país, que também sonham com uma carreira musical.
Acreditem, eu estou aqui representando o Nordeste, a música e o povo nordestino.
É de extrema importância estar lá significando tanta coisa. Representatividade é a palavra. Eu agradeço todas elas que se inspiram em mim, sem elas não estaria aqui. Acreditem nos seus sonhos, é difícil, mas não podemos desistir, temos que ir atrás.
Toda vez que encontro a galera que me acompanha, alguém me fala: “Agnes, muito obrigada, na pandemia você me salvou com seus vídeos”, Eu penso que sou eu que tenho que agradecer, nosso salvamento é e vai continuar sendo recíproco. A arte se alimenta da conexão entre as pessoas, que eu sirva de inspiração e exemplo para as pessoas não desistirem.
Se você pudesse mandar uma mensagem pra Agnes de 5 anos atrás, o que diria?
Aguenta, bichinha! [risos] Aguente firme que está só começando.
Quais são os artistas que não saem da sua playlist?
Tópico sensível, tenho muitos! [risos] Elis Regina, Lenine, Chico Buarque, Caetano, Gil, Lauryn Hill, Erykah Badu, Elza Soares, Cássia Eller, Ebony, a negona do rap maravilhosa! Essas meninas do rap que estão ganhando essa força agora me ajudam a moldar a minha autoestima. Músicas com energia de gostosa e atitude de gostosa [risos]. Gosto de ouvir isso, e no fim do dia, ouvir meu Djavan e meu forró pé de serra, entendeu? São muitos nomes, só mestres.