Lendária Orquestra Afro-Brasileira ganha remixes em projeto de Mario Caldato

14/08/2025

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Avatar photo

Por: Damy Coelho

Fotos: Reprodução Amor in Sound/Museu Afro-Brasileiro

14/08/2025

O disco 80 anos (remixes) é o lançamento da vez do selo Amor In Sound, de Mario Caldato (Beastie Boys, Planet Hemp) e Samantha Caldato. O projeto é baseado no álbum 80 anos, de 2021, que celebrava o legado da Orquestra.

*

Preservando os cantos originais, o álbum traz outras camadas sonoras com remixes de produtores renomados como Tropkillaz, Kassin e Pupillo, e participações internacionais como J Rocc e Mix Master Mike. Emicida, Criolo, Rael e Daniel Ganjaman incrementam o projeto colaborativo: cada um escolheu sua faixa favorita do álbum de 2021 para criar uma nova roupagem.

O caldeirão sonoro é, principalmente, uma forma de resgatar a memória da Orquestra carioca – um trabalho de retroalimentação, já que a própria Orquestra resgatou as influências sonoras africanas na música brasileira.

Sobre a Orquestra

A Orquestra Afro-Brasileira foi criada em 1942 no Rio de Janeiro, pelo maestro e compositor Abigail Moura. Ela mesclava o sopro e outros elementos de concerto à percussão africana, agogô e atabaque. Somam dois álbuns com a formação original: Obaluayê (1957) e Orquestra Afro-Brasileira (1968), que resistiram ao tempo e hoje são celebrados como clássicos das nossas raízes musicais. Em atividade até a década de 1970, Carlos Negreiros, que fez parte dessa formação, retomou o projeto em 2021.

Conversamos com Mario e Samantha sobre os bastidores da produção de 80 Remixes e a missão de levar a memória da Orquestra para uma nova geração. Leia abaixo:

Como foi o processo de gravação do projeto e a escolha das participações?

MARIO: Foi muito simples: já existia o material do disco Orquestra Afro-Brasileira 80 anos, então, tivemos a ideia de chamar uns amigos para participar fazendo remixes. Daí, mandamos as músicas para eles ouvirem. Cada amigo escolheu uma música preferida e eu mandei os elementos depois, separados, percussão, metais e vocal. Cada um teve a liberdade para interpretar o remix do jeito que queria. Ficamos ansiosos para ouvir o resultado e todos foram fabulosos, bem diferentes.

Vocês se lembram quando ouviram pela primeira vez a Orquestra Afro-Brasileira e o que acharam do som?

MARIO: Sim, eu lembro muito. Fui convidado por um amigo francês para ver um ensaio da Orquestra Afro-Brasileira numa loja de percussão no Rio. Eu não conhecia os discos, e estava muito curioso. Meu amigo falou: “venha aqui, você precisa entender o que eu estou falando, eu acho que você vai gostar”. E fui. Lembro que a primeira música era só percussão, uns quatro caras tocando percussão com o Carlos Negreiros cantando. Fiquei em choque, muito impressionado com o som, arrepiado. Era muito forte e era muito poderosa a batida com o vocal do Negreiros. Obviamente, pensei que isso precisava ser preservado e gravado de algum jeito. Após ouvir eles tocarem, a gente falou sobre tentar marcar uma gravação. Foi um momento muito incrível. É uma experiência poderosa, para mim, ouvir uma música brasileira com tanta raiz, de maneira tão roots, só percussão e vocal. Continuo lembrando desse momento, que foi o que inspirou as gravações.

Qual a importância de apresentar esses trabalhos clássicos a uma nova geração?

SAMANTHA: Como diz o Luiz Antônio Simas: “Ancestral é pensamento que faz sentido no presente”.

A Orquestra Afro-Brasileira traz, em sua história e sonoridade, imensas informações e composições que precisam ser celebradas e ouvidas. O Brasil é um pluriverso, e é muito importante que as narrativas dessa diversidade continuem e se façam cada vez mais presentes na compleição de nossa história. A Orquestra Afro-Brasileira, desde o Obaluayê, atravessa e compõe esses caminhos. Ficamos muito honrados em colaborar para que essa música continue a reverberar.

Os remixes vêm sendo uma tendência cada vez mais frequente para repaginar clássicos da música. O que vocês pensam disso?

MARIO: Os remixes têm um lugar muito importante para chamar atenção de músicas clássicas, e também que não são clássicas, mas que, às vezes ,não são tão conhecidas. Com os remixes, é possível trazer outros elementos com os quais as pessoas estão mais acostumadas, com uma sonoridade mais familiar para alguém mais jovem, que está habituado a outros timbres. Assim, é possível misturar tudo isso e criar uma coisa diferente que também ajuda a abrir portas para outros mundos, fazendo algo híbrido, uma mistura que cria uma coisa nova. Então, eu acho que existe um lado muito bom quando isso é bem feito. Obviamente, nem sempre isso acontece: se não é bem feito pode estragar uma coisa que é clássica e boa.

Como surge a Amor In Sound?

SAMANTHA: Nasce da amizade e do poder da música. Mario, com toda sua bagagem, e eu, querendo continuar a trabalhar com amigos e projetos que amamos, decidimos criar esse “portal”, esse projeto de sonho onde podemos fazer e pensar música como a entidade que ela é. Em sua carreira, Mario montou um estúdio fantástico. Nesse espaço, podemos criar um novo modelo e sistema para produzir e distribuir (e se divertir com) música. Como diria seu Wilson das Neves, “Ô sorte!”. Nosso primeiro projeto com esse pensamento foi o disco do nosso amigo e parceiro Seu Jorge, The Other Side, que sai ainda este ano. Depois fizemos o Orquestra Afro-Brasileira 80 anos e o primeiro disco de um grupo de Los Angeles, o Voices of Creation

Agora, estamos lançando os remixes da Orquestra Afro-Brasileira 80 anos, que é tributo e celebração a essa incrível obra e aos amigos amados. Depois, lançamos o belíssimo Arruda, Alfazema e Guiné do Alvaro Lancellotti. Vem aí Os Lancellotti, Pupillo, e ainda estamos gravando um projeto esse ano. Tudo sempre imbuído de amizade, amor e música.

Saiba mais sobre o Amor in Sound.

Tags:, , , , , , ,

14/08/2025

Avatar photo

Damy Coelho