Lançado em novembro, Nossa Memória (2025) é o voo solo de Martin. Baterista do Pseudo, ele se une ao produtor Victor Kroner e a violoncelista Francisca Barreto para estreia, que reverencia clássicos da MPB, mas aponta para o futuro.
Pela caneta de Martin, passam suas próprias histórias, seus relacionamentos, medos, amizades, sonhos e nostalgia. Nas 8 faixas, o músico ainda tem como parceiros de composição como Richard Timoner (em “Levar” e “Um Dia”) e Joaquim (em “Pela Manhã”). É um álbum romântico em tons melancólicos, em diálogo com Rubel, Tim Bernardes e Zé Ibarra.
Em suas referências, Martin não poupa ícones, como João Gilberto, Tom Jobim, Beatles, Lulu Santos e Gilberto Gil, e nomes da cena contemporânea, como Ana Frango Elétrico e Bruno Berle.
“Essas músicas nasceram sozinhas no meu quarto, cresceram com amigos e agora ganham o mundo. Estou ansioso para me conectar com mais pessoas através delas”, finaliza Martin. Com Nossa Memória, Martin cava espaço em grande estilo na nova MPB.
Confira Nossa Memória faixa a faixa:
“Introdução“: não foi planejado ter introdução, a ideia veio nas gravações de violoncelo com a Francisca. Na música “Um Dia”, ela gravou um arranjo de violoncelos que me marcou tanto que peguei o áudio só dos violoncelos e fiquei ouvindo várias vezes. Fiquei comovido com aquilo e queria que as pessoas pudessem ouvir também essa gravação isolada, porque sinto que ela conta uma história sozinha. Então a ideia foi colocar esse arranjo como introdução, além de também estar no final de “Um Dia”, só que de outra maneira, no meio dos instrumentos.
“Nossa Memória“: essa música tem uma importância para mim por ter sido a primeira que compus pro disco. Ela resume os temas que vão ser tratados no disco, assim como a sonoridade e a estética. Ela traz uma nostalgia, memórias e ao mesmo tempo uma paz e esperança em relação às mesmas. Ela inicia essa fase solo de uma maneira que combina comigo e com o que eu gosto de ouvir e tocar. É uma música pessoal que possibilita a conexão com o ouvinte através dessa intimidade. Ela tem o nome do álbum por significar todos esses aspectos, além de tratar a ideia da memória, que também é algo pessoal que dá para qualquer um se conectar.
“Pela Manhã“: essa saiu de uma vontade de escrever uma canção de amor que baseia se na pura alegria, leveza e companheirismo de uma relação. Foi uma das primeiras músicas que fiz pro álbum, queria que ela trouxesse esse sentimento de imersão num amor feliz. Compus quase toda sozinho, mas tinha uma parte que não tava saindo, e em um encontro com meu amigo Joaquim, fizemos o resto da letra que faltava e ficou ótimo. Desde o início, queria que ela tivesse uma sonoridade pop/soul, algo parecido com as músicas de amor do final dos 70, começo dos anos 80, com Tim Maia, Marcos Valle e Curtis Mayfield. Uma letra alegre com um arranjo animado, para dançar mesmo. Ao longo do processo veio também Lulu Santos na cabeça.
“Te Quero Assim“: foi a última a entrar no álbum, eu tinha a harmonia dela, que veio de uma inspiração em Tom Jobim e na música “Ponta de Areia”, do Milton Nascimento, mas na versão da Esperanza Spalding. A letra veio a partir de uma música da Ana Frango Elétrico. Fala de um amor apaixonante, caloroso e intenso. Tem uma certa leveza do amor, mas com a intensidade da paixão. Acho bonita a ideia de deixar cores e luz no jardim de alguém. Ela talvez seja a mais diferente do álbum, a que mais se aproxima do pop. Queria um MPB / Pop pra poder cantar e dançar. Tem essa cara/roupagem muito por conta do que Gabriel Eubank fez na bateria e nos timbres certeiros que Gabriel Quirino tirou no teclado.

“Dois Irmãos“: talvez a música mais pessoal do disco, ela traz a perspectiva de uma relação descompassada. Remete a um desabafo sincero que vêm de um lugar muito pessoal e de muito carinho. Gosto dessa letra porque ela pode se identificar com qualquer um, independente da situação e relação vivida. É um primeiro momento íntimo do álbum que traz essa vontade de colocar tudo para fora. O arranjo foi feito por mim, junto da Francisca e pelo Victor. Gravamos ela ao vivo, nós três juntos no mesmo quarto ao mesmo tempo, sem edições e cortes. Ela é um retrato daquele exato momento da gravação, exatamente como tocamos e cantamos. Toda vez que ouço essa música, me vejo naquela noite gravando com eles.
“Levar“: comecei a compor essa com um grande amigo (Richard Timoner) no Rio de Janeiro e terminei em casa, em São Paulo. A letra é curta, só tem um refrão e um verso que se repetem, mas ela consegue abordar diversos temas abrangentes, como o amor, a esperança, os medos, anseios e as companhias. Tenho um carinho especial por essa música porque sinto que ela diz muitas coisas em pouco tempo, além de ter a lembrança afetiva de ter começado a compor ela com um amigo. Ela serve como um respiro no álbum, vindo logo depois de Dois Irmãos, que é mais delicada. O arranjo dos metais veio por último amarrando toda a música e trazendo uma sensação de completude.
“Um Dia“: essa também comecei a compor com meu amigo Richard, num dia em que nossa aula da faculdade foi cancelada e ficamos tocando piano em casa. Eu tinha alguns versos da música e ele completou com alguns outros. Uma música que fala sobre se reencontrar, resgatar as pontas e seguir adiante. Essa música tem personalidade na parte instrumental, com muito talento envolvido, principalmente na “cozinha” da música, com o baixo do Francisco Nogueira e a bateria de Gabriel Eubank que carregam a pulsação da música. No último refrão, tem o arranjo de violoncelo que a Francisca gravou e que virou a Introdução. Ela tem um pouco de Beatles no arranjo dos instrumentos, o que faz sentido para mim por ser um grande fã da banda.
“Consertar“: essa é uma das que mais me orgulho de ter feito. A harmonia, melodia e letra vieram em momentos muito distantes. Eu tinha a harmonia e melodia do refrão pronta a um ano, mas não conseguia escrever nada que achasse valioso. Depois de deixá-la de lado por um bom tempo, retomei ela no piano e compus em menos de uma hora. Fiquei muito feliz com o resultado e com a sensação de conseguir escrever essa canção, meio como um desabafo.
Ela retoma a ideia de memória do início do disco e traz algumas inseguranças gerais do presente e futuro. Acho que terminar o disco com um tom mais reflexivo e íntimo conversa com o que o disco mostra. É um grande movimento de sentimentos e pensamentos que vão e vêm, misturando a nostalgia com esperança, tratando dos medos e sonhos. “Consertar”, assim como “Nossa Memória”, resume tudo que é visto ao longo do disco, e por mais densa e nostálgica que seja, ela termina em um tom positivo e esperançoso.