As músicas de Cabo Verde (país onde cresceu Mayra Andrade) e do Brasil possuem uma relação umbilical. A ilha africana também foi colonizada pelos portugueses, com forte fluxo de pessoas escravizadas vindas da África continental. O crioulo cabo-verdiano, idioma corrente no arquipélago, é uma língua lusófona. Assim, ritmos como funaná, batuque e koladeira têm semelhanças com a música tocada no Brasil.
Ao longo da carreira, Mayra Andrade estabeleceu pontes com diversos artistas brasileiros. Seu segundo álbum, Stória… Stória… (2009) foi produzido pelo paulistano Alê Siqueira (colaborador de Tom Zé e José Miguel Wisnik) e conta com participações de Jaques Morelenbaum e Marcos Suzano na banda.
Em duas décadas de atividade, a artista colaborou com nomes que vão do rap ao samba. Enquanto parceira de composição ou apenas intérprete, Mayra Andrade emprestou sua voz e sua caneta para gigantes da MPB, tornando-se uma das artistas africanas mais conhecidas no Brasil.
Sobre a influência da música brasileira em Cabo Verde, Djodje Almeida, violonista que acompanha Andrade em reEncanto (2024) — álbum com vinil em pré-venda no NRC+ — reflete, em entrevista à Noize: “Em São Vicente [uma das ilhas que formam o território do país], os instrumentistas têm acesso à obra de Tom Jobim, João Bosco, Djavan, um espectro enorme de melodias e harmonias que chamam a atenção pela complexidade”.
Listamos cinco artistas brasileiros que já colaboraram com Mayra Andrade. Confira abaixo.
Criolo
A artista cabo-verdiana participa do mais recente álbum do rapper, Sobre Viver (2022), na faixa “Ogum Ogum”, com produção cheia de referências ao afrobeat. Os versos “mesmo que andasse no vale das sombras, eu nada temerei”, cantados em dueto, são uma citação aos Salmos bíblicos. Na mesma época do lançamento, a dupla também se apresentou no Rock In Rio 2022.

Maria Gadú
As artistas compuseram juntas a faixa “sakédu”, gravada no álbum Guelã (2015), de Gadú, e dividiram o palco no Kriol Jazz Festival, em Cabo Verde, no ano 2019. A canção não tem letra, apenas a melodia cantada. Mayra também participou de show de Gadú, em 2016, no Centro Cultural de Lisboa, cantando a faixa “Ténpu Ki Bai”, de seu álbum Lovely Difficult (2013).

Trio Mocotó
A cantora gravou, ao lado do lendário conjunto paulistano, a faixa “Berimbau”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, que integra a coletânea Red Hot & Rio 2 (2012), com produção de Béco Dranoff, como parte do programa Red Hot AIDS, destinado a promover a conscientização sobre o HiV. O álbum também conta com faixas de Rita Lee, CSS, Tom Zé e Fernanda Takai.

Mart’nália
Mayra participa do documentário do DVD Em África (2010) da sambista carioca, onde interpreta sua canção “Tchápu na Bandera”, do álbum Stória… Stória… (2009), em banda que conta com ninguém mais, ninguém menos que Carlinhos Brown na percussão. O DVD ainda traz participações de Gilberto Gil, cantando “Palco”, e Martinho da Vila, em “Festa de Umbanda”, além de depoimentos dos artistas sobre o continente africano.

BK’
O rapper carioca conta com os vocais da cantora em “Paraíso que me cerca”, faixa do EP Cidade do Pecado (2021). Mayra ficou responsável por compor e cantar em crioulo cabo-verdiano para faixa, que mistura rap, funk e elementos do afrohouse, com versos sobre liberdade e autoconfiança: “Ma beleza sta na esénsia/ Julgamentu é txunbu na aza di un pardal” (“Minha beleza está na essência/ Julgamento é chumbo na asa de um pardal”).
