Melissandra cria lenda amazônica em novo álbum, que vai do rap ao carimbó

18/06/2025

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação/Tereza Maciel

18/06/2025

Pop amazônico, folclore, ficção ancestral, funk, trap e carimbó: tudo isso se funde no terceiro álbum da artista trans paraense Melissandra. Mapará (2025) conta a história da personagem Nik Lamento, inspirada no folclore da Amazônia. Essa lenda reza que, após ser violentada e perseguida, Nik renasce pelas águas do rio e vira o peixe Mapará.

Tratar de uma personagem travesti e amazonense é algo caro à artista paraense. Da música às imagens que a caracterizam como Mapará, tudo foi criado para apontar causas importantes. Quando falamos da Amazônia, a luta de gênero perpassa a luta pelo território. Tentamos retratar esses aspectos em uma parte do photoshoot do disco, onde podemos perceber NIK presa em uma rede de pesca cheia de lixos”, conta ela.

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O disco tem produção assinada por Beá. “Produzir Mapará foi como um mergulho no fundo do rio. Intenso, íntimo e inesperado”, define. “Construímos algo para além da música: uma travessia de verdades, acolhimentos e descobertas que transformaram nossa sonoridade. Uma travessia trans, amazônica e absolutamente única.”

Mapará é dividido em um lado A mais pop, rap e eletrônico e um lado B calcado na música amazonense, como o carimbó e o brega. Entregando conceito e ritmos variados, pode ser considerada a ópera-pop da amazonense. “Mapará é a voz transcestral que consolida meu trabalho como uma diva pop completa. Aqui, atinjo o amadurecimento que desejei construir desde o início”, define Melissandra.

Apesar de ser um nome novo para o eixo sul-sudeste, Melissandra está na área desde 2016. Cria dos slams, começou sua carreira nas batalhas de rima Marabá (PA), onde nasceu. Por isso, tem a rima afiada — suas letras vão da putaria bem-humorada a críticas políticas e sociais.

Leia faixa a faixa do álbum:

Transe“: É a faixa que abre o disco. No início era pra ser uma intro pequena, mas BEA e eu piramos muito na ideia de uma produção mais elaborada e resultou em uma faixa instrumental que prepara o ouvinte para submergir nas águas do disco MARAPÁ

“A•NIK•LAMENTO” A faixa que leva o nome da personagem do disco, é uma faixa predominantemente de funk e rap. Na letra não faz menções diretas à personagem, mas sim aos sentimentos que sua presença desperta: desejo, sedução, emponderamento e autoconfiança. Ela já prepara o ouvinte para predominância sonora presente nas próximas faixas do LADO A. 

“Eu Não Quero Compromisso“: O primeiro single do disco, também uma aposta no funk e trap. Com letra afiada e voltada para a autonomia sexual e de escolhas; também se refere à personagem A NIK LAMENTO no sentido dos sentimentos de emponderamento que ela desperta. 

“Suco de Puta“: Essa faixa eu escrevi pensando muito em me divertir com meu público. São 5 minutos de puro funk e putaria. Segue a linha de pensamento no que se refere às faixas anteriores, no sentido de reafirmar os sentimentos que NIK desperta com sua presença. 

“Divina (feat. Rafa Bebiano)“: Foi a última faixa a ser escrita para o disco e talvez por isso também soe como uma quebra. Tem influências de R&B e Rap. É uma homenagem à minha amiga e artista Rafa Bebiano, no qual usamos o sample de voz de uma das músicas dela (“Insensatez”). É a faixa mais política do disco em nível de composição e é uma crítica às transfobias estruturais da sociedade. Finaliza o LADO A do disco reafirmando a autoconfiança e perseverança necessária para se construir uma diva pop. 

“Encantamento (feat. Coytada)“: É a primeira faixa do LADO B e funciona como uma transição entre os dois lados. Reafirma a força na união de travestis e transexuais na Amazônia. Coytada é a compositora da faixa, que sonoramente te convida para uma “Ballroom de Rock Doido” no Pará.

“Maniçoba (A Verdadeira)“: Foi a primeira composição feita para o disco. Desde o início idealizada para ser um techno brega mais debochado, com referências sonoras à faixa “Debochada e Atrevida” do meu primeiro disco. A letra é um feitiço contra a inveja e mal olhado. 

“Praia do Tucunaré“: Uma das mais deliciosas do disco, é um brega marcante, muito inspirado em sonoridades antigas que hoje escutamos no Carabao. Escrevi a letra embalada de amor pelo meu noivo na primeira vez que o levei para a Praia do Tucunaré na minha cidade (Marabá) e decidi que precisava ser uma música safada e romântica. A nível de narrativa, a Praia do Tucunaré é um lugar encantado onde a NIK está.  

“Dia Meu Sem Tu“: Foi a primeira música gravada para o disco, também com sonoridades influenciadas pelo brega e o melody. A ideia sempre foi que essa música se tornasse uma marcante, digna de tocar nas noites com o molho paraense. Essa é para sofrer por amor! 

“História de Pescador (feat. Iris da Selva)

É o primeiro carimbó da minha carreira e uma imensa realização gravar com o Iris. Escrevi a letra enquanto estava em uma residência artística no Marajó e assim que mostrei pro Iris sabia que tinha que ter a voz dele. As flautas são de Luany Guilherme, que desenham e encantam, bem como a proposta da música desde o início. É um agradecimento a minha espiritualidade.

“Materna

É a composição mais intimista e pessoal da minha carreira. Nela, decido falar abertamente sobre minha maternidade travesti e aos enfrentamentos em torno disso. Decidimos, BEA e eu, de tornar essa música um coco, mas sonoramente construída também como uma música de ninar. Foi o maior desafio do disco, em termos de decisão sobre estar vulnerável.

“Evocação

A última faixa do disco e a mais conceitual. A composição é um resumo da estória de A NIK LAMENTO, onde escrevi no estúdio mesmo, logo após ouvir a produção musical. Gravamos tudo no mesmo dia. Fizemos do samba nossa maior referência sonora, mas também introduzimos elementos eletrônicos para deixar a faixa pop. Ela não só finaliza o projeto, como também inicia outros trabalhos espirituais dentro da narrativa do disco, sendo o segundo single de divulgação. 

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