Ney Matogrosso e Gerson Conrad revisitam Secos & Molhados na nova série do Canal Brasil

07/10/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação/Canal Brasil

07/10/2025

Ney Matogrosso e Gerson Conrad relembraram os velhos tempos de banda na série Primavera nos Dentes – A História dos Secos & Molhados. Produzida por Marcelo Braga e dirigida/roteirizada por Miguel de Almeida (autor do livro homônimo) pela Santa Rita Filmes, a série estreia no Canal Brasil no dia 31/10, com quatro episódios, às 21h30.

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Com imagens de arquivo, novas canções inspiradas na sonoridade da banda e depoimentos de artistas de diferentes gerações impactados pela obra da banda — de Duda Brack a Charles Gavin —, a produção reconta a trajetória do grupo que sacudiu a música, a moda e o comportamento brasileiro nos anos 1970, como uma resposta à Ditadura vigente.

“A própria repressão suscita um processo criativo muito oportuno, ou seja, é porque desenvolve a possibilidade de metáfora. A gente só conseguia se comunicar com metáforas porque não adiantava você ser direto. Não existia o pragmatismo de você tentar ser explícito, porque o que era explícito era censurado. Não tinha a menor chance de passar”, explica Paulo Mendonça, poeta e letrista de canções do grupo.

Por questões judiciais, a obra não pode usar as músicas originais dos Secos & Molhados. Mas, para recriar a atmosfera do grupo, a produção chamou Emilio Carrera (piano) e Willy Verdaguer (baixo), que tocaram com a banda em 1973 e 1974, e, juntos, compuseram faixas inéditas. Já Gerson Conrad e Paulo Mendonça assinam “Ouvindo o Silêncio”, canção que reúne Ney Matogrosso e Conrad nos vocais.

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Ao longo dos episódios, os músicos também revisitam as tensões internas e o rompimento com João Ricardo, que selou o fim do grupo. Conversamos com o diretor e roteirista, Miguel de Almeida, para entender melhor como foi a produção da série. Confira abaixo:

Como você entra em contato com a obra dos Secos e Molhados pela primeira vez?

Eu tinha 13 a 14 anos quando eu fui assistir ao espetáculo do grupo no Teatro Itália, em São Paulo. Eu vi um anúncio numa notinha no antigo Jornal da Tarde falando sobre o grupo. De cara, me chamou a atenção aquela maquiagem que eles usavam. Daí, fui assistir a esse espetáculo nesse Teatro Itália. Foi uma catarse.

Como veio a ideia da série? Quais foram os principais desafios ao longo do processo?

O Otávio Frias e Alcino Leite, da Folha de S. Paulo, queriam que eu escrevesse livros para eles. E eu sugeri fazer sobre Secos & Molhados. Eu sempre achei que o grupo, como artefato artístico, tinha sido colocado de lado pela intelectualidade brasileira ao longo desses anos todos. Sempre entendi que o grupo possui uma qualidade, uma contundência que não tinha encontrado o eco junto a esse público. E eu penso muito nesse motivo.

Qual foi o impacto na banda na cultura da época?

Os Secos & Molhados, na verdade, ajuda a inaugurar a indústria cultural brasileira. E essa coisa do sucesso não caía bem em meio a essa turma da esquerda cultural brasileira. É interessante porque eles fazem sucesso em cima de poemas de Oswaldo de Andrade, de Vinícius de Moraes, de Solano Trindade… ou seja, trabalham com altíssima qualidade poética. Fui muito bem recebido pelos três integrantes do grupo, principalmente Ney e Gerson Conrad, e também por João Ricardo com quem tive dois ou três almoços e conversas ao longo do período, além de Willy Verdaguer e o Emílio Carrera.

Todos me forneceram informações ótimas. Então as dificuldades maiores foram encontrar essas pessoas, marcar essas conversas e depois cruzar as informações. Porque como era uma questão, um fato que tinha ocorrido há mais há quase 50 anos, havia versões diferentes para os mesmos fatos. Então eu precisava cruzar isso para chegar a um denominador mais acertado.

Tanto que no final do livro, como eles não se entendiam sobre os motivos do final do grupo, eu resolvi colocar três versões diferentes — na verdade, para enriquecer a narrativa, porque cada um dos três integrantes do grupo, Gerson, Ney e João, entende o fim a partir de um determinado motivo, a partir do seu próprio ponto de vista. Então eu trouxe essas versões para narrativa, ao mesmo tempo, não assumido nenhuma delas. Acho que tornou isso o material mais rico.

A série promete abordar a importância que o teatro teve na formação da nossa música dos anos 1970. Pode nos explicar melhor isso?

Ao longo da pesquisa do livro, percebi que a maioria dos grandes nomes da música popular brasileira surgidos em meados dos anos 60 e 70 tinha passado pelo teatro. Eles vinham do teatro: Edu Lobo, Chico Buarque, o próprio Ney, Caetano, Gil… todos tinham tido um namoro com o teatro. É, depois no caso dos Secos & Molhados, não podemos esquecer que o Ney era ator quando integrou a banda.

Em 1967, o Zé Celso Martinez Correia fez a montagem da peça O Rei da Vela, texto de Oswaldo de Andrade, onde o Renato Borg, que é o ator principal, aparece pintado. É uma pintura diferente da que o Ney vai usar, mas você percebe ali semelhanças, parentescos.

A gente não pode esquecer que o teatro dos anos 60 e 70 possuía uma alta potência criativa, uma potência de contestação à ditadura militar brasileira. Isso daí vai ser formado junto à música popular brasileira, que depois vai explodir nesse período, principalmente a partir dos festivais. Então, eu trago isso na série, acho que seja uma visão diferente da abordada nesse período. Não se fala que o teatro tinha sido a porta de entrada para a cena artística.

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07/10/2025

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Damy Coelho