Entre as ruas Barão de Itapetininga e Sete de Abril, um centro comercial se tornou reduto do vinil em São Paulo. Inaugurada em 1964, a Galeria Nova Barão abriga, em média, 30 lojas de discos, sendo a maior concentração de estabelecimentos do tipo na cidade.
Próximo a outras galerias, como a Rock e Metrópole, Sesc 24 de Maio, Praça das Artes e Theatro Municipal, o centro de São Paulo respira cultura. Os dois andares e espaço ao ar livre da Galeria Nova Barão são um refúgio para os amantes do vinil.
No início do milênio, os alugueis mais baratos atraíram variados lojistas para a Nova Barão. Hoje, as lojas de vinil dominam quase todo o segundo andar do centro comercial. A grande concorrência de lojas de vinil na Nova Barão não impede a união dos lojistas.
Para Eduardo Brechó, proprietário da Petróleo Music, a comunidade de disqueiros da galeria tem um lema: “todo mundo se rouba, mas todo mundo se ajuda”, brinca. “É um polo eclético, com muita variedade e qualidade musical. Eu não conheço nenhum lugar no mundo que seja igual”, fala Márcio Custódio, fundador da Locomotiva Discos.
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Rock, MPB, Hip-Hop e mais: a diversidade musical da Galeria Nova Barão
Mesmo antes da Locomotiva, a música sempre esteve presente na vida de Márcio. Ganhou seu primeiro disco aos 10 anos, Appetite for Destruction (1987) do Guns N’ Roses, depois foi DJ e produtor de festas, em Londres e em São Paulo. O gosto musical, que começou com metal e rock alternativo, hoje se expandiu, do jazz ao soul.
Em 2011, ele, ao lado do irmão, Gilberto, abriram a Locomotiva Discos. Na época, ficaram em dúvida entre a Nova Barão e a Galeria do Rock. As duas são muito importantes para a cena cultural da cidade, mas o lado eclético da Nova Barão agradou a dupla.
A paixão — por descobrir novos artistas — reverberou no acervo da loja que, desde o início, preza pela diversidade musical, dos clássicos aos grandes lançamentos. “Sempre tivemos a preocupação de trazer novidades para loja e, por conta disso, a Locomotiva criou uma conexão muito forte com a juventude”, fala Márcio.

Nos quase 15 anos de loja, a Locomotiva coleciona histórias. O disco mais vendido foi Nó da Orelha (2011), do Criolo, mais de 2.000 cópias saíram de lá. Dos clientes, já passaram celebridades, como Perry Farrell, e alguns excêntricos. “Temos um cliente que sempre compra duas cópias do mesmo disco. Um ele manuseia, outro ele guarda lacrado”.
Novos colecionistas
Depois de uma experiência de trabalho em uma loja de discos em Nova York, Eduardo Brechó decidiu abrir a Petróleo Music. DJ, músico e produtor musical, ele já estava inserido no mundo dos disqueiros antes de se tornar um lojista da Nova Barão.
Em maio de 2023, nasceu a Petróleo, com acervo variado, mas com identidade ligada à música afro-brasileira. Na loja, frequentam clientes de 20 a 80 anos. “Eu não sabia que existiam tantos novos consumidores de vinil. Tem uma grande parcela de pessoas que começaram a comprar discos recentemente”, diz ele.
De 2016 a 2023, as vendas de vinis saltaram de 13,1 milhões para 49,6 milhões, totalizando um crescimento de quase 300% nos últimos oito anos, de acordo com levantamento Music 360, da Luminate Insights. O número total de álbuns de vinil comprados, desde 2016, ultrapassa 200 milhões de álbuns.
Como próximos passos, Eduardo quer que a loja também vire um selo musical. Em negociação, ele não abriu detalhes sobre artistas desejados ou gêneros musicais que serão explorados na futura gravadora.
Para Márcio, o vinil se tornou um símbolo da música. Já Eduardo acredita que o vinil seja um case de sucesso. “É um objeto que implica um estilo de vida que, hoje, é cool”, afirma ele.
“A pessoa que inventou o vinil não tinha noção da mágica que estava contida naquele objeto”.
“Você pega um disco de cera e consegue gerar frequências eletromagnéticas que toquem o coração das pessoas. É mágico, mas não é mais mágico que o digital”, finaliza. Além da loja, a Petróleo Music se tornou um espaço para festas.
Disco de vinil: um case de sucesso
Quando a Locomotiva Discos e a Petróleo Music chegaram à galeria, algumas lojas já estavam lá: uma delas era a Disco7. Carlos Galdy Silveira, o Carlinhos, fundador da Disco7, pode acompanhar de perto as transformações da galeria.
“Nos últimos 10 anos, houve muitas mudanças. Quando abrimos a loja, a Galeria Nova Barão tinha outros estabelecimentos, como óticas, salões de beleza, e o Paulinho Drinks, que está por aqui desde os anos 70”, relembra ele.
Eduardo lembra que, no início da Nova Barão, ela não tinha tradição de lojas de vinil. Para ele, a Disco7 traz uma nova cara para o espaço: “Em uma época em que muitas lojas fecharam e/ou migraram, lá nos anos 2000, a Disco7 abre na Nova Barão e inaugura um momento para o vinil”, fala ele.
Mesmo antes da loja, Carlos já trabalhava com discos de vinil. Começou nos anos 80, no tempo livre, vendendo nas praças do centro de São Paulo. Quando perdeu o emprego, decidiu apostar e abrir a Disco7. Com foco em música brasileira, jazz e R&B.
A Galeria Nova Barão continua viva, com novas lojas de vinil chegando por lá toda hora. Uma das recém-chegadas é a Molotov Discos. A fundadora, Natália Gaio, inaugurou a loja dia 10 de maio no espaço, no número 13.
“A galeria me proporcionou a melhor experiência de venda e compra de discos que eu poderia ter, não só pela quantidade de discos num só lugar, mas pelo conhecimento que você ganha pelas histórias dos lojistas e clientes”, diz ela.
Mas, a paixão pelo vinil começou aos 16 anos. “Queria ter meus álbuns favoritos no formato físico e também gosto da experiência sonora que só o disco tem”, conta ela.
Aos 21, começou a vender discos, primeiro de forma online, depois em feiras — uma delas foi a Feira de Disco de Vinil de São Paulo, organizada por Márcio.
De Black Metal ao Bossa Jazz, a Molotov Discos tem planos em ampliar seu selo musical e se tornar um espaço para mulheres colecionadoras de vinil, de oficinas de discotecagem a clubes femininos. Para Nathália, além de cultura, o disco de vinil é resistência.
Para toda coleção: 10 discos essenciais
Os lojistas também compartilharam dicas de discos essenciais para se ter em vinil. As indicações mesclam os gostos musicais de cada um e também as belas capas dos LPs para a coleção.
Cheryl Lynn – Cheryl Lynn (1978)
Bikini Kill – The First Two Records (1994)
Sérgio Sampaio – Cruel (2006)
Criolo – Nó na Orelha (2011)
Milton Nascimento – Clube da Esquina (1972)
David Bowie – Aladdin Sane (1973)
Curtis Mayfield – Curtis (1970)
Paulinho da Viola – Nervos de Aço (1973)
Milton Nascimento – Minas (1975)
Milton Nascimento – Milagre dos Peixes (1973)