Nesta sexta-feira (26/9) estreia One Take Show, no Canal Bis e na Globoplay. Dirigida por Diana Boccara e Leo Longo — que também assinaram A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes — a série apresenta uma novidade: todos os shows são gravados em plano sequência. O casal conta que se inspirou nos clássicos programas de música ao vivo.
Conhecidos pelos trabalhos de música e audiovisual, os diretores já gravaram clipes para Alceu Valença e Dona Onete, além de cinco séries autorais. One Take Show será a primeira série musical brasileira a ser gravada neste formato cinematográfico.
Cada artista canta seis canções ao vivo com o desafio de gravar em “uma só tomada”, sem cortes. Para a primeira temporada, oito artistas foram escolhidos: Rachel Reis, Melly, Bixarte, Sofia Freire, Luê, Josyara, Castello Branco e a estreia, com Jota.pê, gravado no Jardim Botânico de São Paulo. Um dos critérios para a escolha desses artistas foi o fato de também serem autores de suas canções, como nos explica o diretor, Leo Longo.
Leia o papo na íntegra abaixo:
Como foi feita a curadoria para a série? Há um ponto em comum entre os artistas participantes do projeto?
Toda série que filmamos tem curadoria nossa, e isso desde A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes. Antes de qualquer critério técnico que a gente estabeleça pra selecionar os nomes que farão parte dos nossos elencos, vem o critério afetivo, emocional, independente de estilo ou gênero musical.
Em One Take Show não foi diferente. O que queremos dizer com isso? Que seria uma heresia convidar artistas que não gostamos, que não admiramos, que não nos toca de alguma maneira, sabe?! Então, tudo começa com essa pergunta: “a gente gosta e quer trabalhar com tal artista?”.
Isso porque é também a nossa história ali na tela, criando e produzindo as filmagens. E tem que ser verdadeiro… não sabemos fingir admiração.
Foram três os critérios que nortearam a escolha do elenco de One Take Show: (1) apenas artistas solo; (2) as cantoras e cantores serem compositores de suas próprias canções, e não apenas intérpretes; (3) artistas audaciosos e destemidos que bancassem o desafio de transformar a performance de 6 canções ao vivo em um único plano sequência.
Desde o início, a concepção de nossa série foi a de ter o mínimo de intervenção possível na pós-produção. Isso significa não entrar em processos de finalização de áudio que transformassem vozes, catapultassem as camadas das performances com mais faixas e elementos… então, esse realismo e fidelidade ao que de fato aconteceu no momento das filmagens era o que deveria ser preservado.
E em nossa realidade tecnológica, onde tudo pode ser alterado na pós, não é qualquer artista que se sente confortável e seguro com isso. E os 8 nomes convidados entenderam e aceitaram fazer parte… por isso a gente fala sobre artistas audaciosos.
Vocês optaram por filmar em plano sequência. Como foi a experiência? Qual a maior dificuldade em filmar dessa forma?
Descobrimos a cinematografia em plano sequência em 2015, quando filmamos a série Around The World in 80 Music Videos. Ficamos um ano e meio viajando pelos cinco continentes em busca de bandas e cantores pra filmar videoclipes oficiais em um único take. Uma doideira. Tomamos gosto pela coisa e não deixamos mais de contar e filmar histórias desta maneira.
Com isso, a gente tá sempre tentando levar esta técnica narrativa pra outros gêneros e formatos audiovisuais.
Como somos apaixonados por programas de música ao vivo, e não tínhamos conhecimento de um programa filmado assim, decidimos criar “One Take Show”, ou seja, shows num take só. Mas diferente dos clipes, foi um processo de gravação completamente diferente.
Principalmente com relação à captação de áudio. Na gravação de videoclipes, não há gravação do som ambiente. Você solta a música em playback e filma quem canta, ou toca, dublando aquela canção. O que permite que a gente possa gravar em lugares com ruídos e barulho, que possa dirigir as cenas falando diretamente durante as filmagens, etc.
Na gravação de “One Take Show”, tudo isso muda. Foi necessário lugares onde tivéssemos controle total do som ambiente e cuidado extremo com os ruídos que as dezenas de pessoas presentes no backstage fazem. Inclusive eu, com a movimentação da câmera.
Então, ao filmar um show com cerca de 15 minutos de duração, todo o percurso que era feito com a câmera precisava ser cuidadosamente bem pensado. Imagina chegar no finalzinho de um take e um bip de um equipamento ou um cochichar de alguém da equipe vazar no microfone da cantora?
Tudo tem que recomeçar do zero. Não dá pra só refazer aquele pedaço de novo. Mas é essa tensão, esse preciosismo, essa adrenalina gerada pelo contexto das filmagens em plano sequência que a gente tanto ama. Todo mundo tem que estar presente, atento, focado… isso muda muito a experiência de um set de filmagem. Baita energia.
Entre os cenários, vocês destacaram o Jardim Botânico de São Paulo, um parque de diversão e um museu de antiguidades. Como se deu a escolha de locações? Quais foram as favoritas?
Essa resposta tem dois âmbitos: o conceitual e o técnico. Conceitualmente, a essência de One Take Show propõe transformar cada setlist em uma história. Ou seja, Diana e eu recebíamos dos artistas as seis músicas que eles queriam cantar e criávamos um roteiro com começo, meio e fim, balizado por uma ordem determinada destas músicas. Exatamente como acontece num musical, sabe?!
Cada canção vira uma cena ou um ato de uma história. Então, cada locação foi escolhida de acordo com a história criada. Pra dar um exemplo, o episódio de estreia com Jota.pê. As músicas escolhidas fazem menção à natureza de alguma forma: onda, mata, ouro, garoa, maré, sol.
Isso, por si só, já era um indício ou indicação de ambiente. Fora isso, essas músicas do setlist criado pelo Jota condensavam um espírito de grandeza, de evolução, de idealismo de um futuro otimista, próspero, melhor. E nas nossas pesquisas caímos na magnitude da estufa de plantas no Jardim Botânico de São Paulo. Natureza, amplitude, dimensão, proteção. As coisas se encaixaram tão perfeitamente.
E ali decidimos ambientar a história cantada pelo Jota.pê. Agora, do ponto de vista técnico ou logístico, como em cada episódio da série são seis as músicas performadas por cada artista, toda locação que buscamos para as filmagens deveria ter, no mínimo, seis ambientes distintos, um para cada música.
Porque isso gera uma renovação no olhar da audiência, uma curiosidade em querer saber o que vem depois e permite que a câmera passeie pelos lugares. Então, isso significa lugares amplos, que comportassem tanto a duração das nossas histórias como a estrutura técnica e de equipe que tínhamos.
O que inspirou a criação da série? E quais projetos de sessions musicais inspiraram o projeto?
“One Take Show” é fruto da nossa obsessão em criar formatos criativos que integrem o audiovisual com a música. A combinação entre elas é uma potência e tem o poder de mexer com muita coisa na vida da sociedade. Inspira, emociona, entretém.
Então, antes de qualquer coisa, ela nasce do nosso desejo de contribuir pra que esse casamento continue gerando frutos e novas interpretações. São essas criações que dão sentido pra nossa produção e pra nossa vida.
Quais foram as referências utilizadas na materizalização do projeto?
Durante as filmagens, logicamente, bebemos de muitas referências estéticas, principalmente, do cinema e das séries para inspirar roteiro, fotografia, composições de quadro, movimento, arte, etc. Não saberia apontar alguma predominante, já que tudo era fruto de um caldeirão de inspirações com temperos que vinham de tudo quanto é canto, inclusive das canções e contribuições de cada artista.