Seu Jorge já alertava: “Morando em São Gonçalo, você sabe como é”, cantou em “São Gonça”, faixa do disco Cru (2004).. Esse é o pano de fundo do desenvolvimento do trio Anchietx, Leo Guima e Cupertino. Crescendo na cidade mais populosa da região metropolitana do Rio de Janeiro, eles encontraram o tempero certo na formação d’Os Garotin – e assim conquistar lugar de destaque no pop nacional.
Unindo influências da MPB, do soul e do hip-hop, em menos de dois anos de carreira conquistaram os troféus de “Álbum de Pop Contemporâneo” – por Os Garotin De São Gonçalo (2024) – e “Artista Revelação” no Grammy Latino. Em 2023, apresentaram o EP Session com cinco faixas que entram no álbum de estreia.
O repeteco da fórmula veio no início de setembro, ao apresentarem Os Garotin Session 2. “Time que tá ganhando não se mexe”, afirma Cupertino. O projeto inclui três faixas autorais, assinadas por cada um dos artistas, e mais duas em trio. Dando um gostinho do que vem por aí, as novidades mostram os caminhos do segundo álbum, ainda sem data de lançamento.
O trabalho vem coroar o bom momento da banda. No final de agosto, os músicos foram homenageados pela Prefeitura de São Gonçalo. A iniciativa Cidade Ilustrada, do curador e pintor Marcelo Eco, apresentou um mural com o rosto dos artistas.
“Só de ver meu filho me vendo ali, ainda sem ter noção ainda da importância daquilo, já é muito forte. Outras crianças vão crescer vendo aquilo. O painel uniu todo mundo: amigos, professores, gente que não víamos há anos. Só a arte faz isso”, refletiu Anchietx.
Para Cupertino, ser eternizado na rua da cidade onde cresceram representa uma conquista: “Olho para o painel e penso em quantas crianças ainda vamos botar para tocar violão”. Hoje, Os Garotin soma mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify e para os músicos, ainda há muita estrada pela frente.
O encontro deles surgiu da sugestão de Caetano Veloso e Paula Lavigne, que propuseram a união da boyband formada por três crias. Anchietx já lança suas músicas autorais desde 2019, Cupertino, desde 2017. Leo Guima, por sua vez, deu início a sua carreira solo em 2023. “A gente veio da igreja. A nossa experiência inicial não era gerar conteúdo, mas conseguir viver a música de forma introspectiva e profunda. Antes, era só violão e voz em casa, emocionando a gente mesmo e as pessoas”, lembra Cupertino.
“Isso virou produto, gravação e rede social. Mas o nosso vício é o ao vivo. Para mim, é o mais divertido. O Leo (Guima) prefere a criação, mas eu fico dividido: acho que o melhor é a troca, ver a reação das pessoas”.
Os Garotin compartilha as histórias por trás das músicas do novo trabalho:
“Calor e Arrepio”
“Uma faixa clássica do som d’Os Garotin” – Cupertino.
“Calor e Arrepio são as sensações de quando você está envolvido com alguém que te tira o ar – tem aquela pessoa que te toca num lugar especial e que antes dela chegar você já está ansioso, sabe?” – Anchietx
“Simples Assim”: “Com naturalidade, a gente segue fazendo o que a gente faz e fez, sendo que estamos aí também – vamos mostrar um bagulho diferente aí, que conversa cara, no fim conversa, né? É um lado de repente que vem mais brasileiro, com uma harmonia a mais” – Cupertino.
“Maldade”: “São as lembranças das minhas maldades. Teve uma vez que vi a bunda dela, tão linda, que falei baixinho: eu te amo” – Anchietx
“Coração De Lata”: “Eu ainda era inocente no amor, mas já tinha passado por muitas relações que deram errado. Sempre trato a tristeza com humor. Essa música é sobre isso: sofrimento, mas com ironia. E é a soul music brasileira pura” – Leo Guima
“Força Bruta”: “Ela mostra as contradições do amor. Já começa com: ‘calma, que pra te proteger eu entro em guerra’. É como Gilberto Gil disse: ‘só a guerra faz o nosso amor em paz’. O amor é cheio de extremos: ora machuca, ora cura. É difícil, mas é a maior oportunidade de autoconhecimento. No fim, ela mostra que o amor, apesar de tudo, é positivo. O amor é a cura” – Cupertino