Ney Matogrosso nunca teve medo de experimentações. Em Bandido (1976), seu 2º disco solo, o artista reuniu no mesmo repertório: compositores clássicos, como Ary Kerner, com estrelas da MPB, como Chico Buarque e Rita Lee, além do ícone do brega Odair José.
Com a ajuda da banda Terceiro Mundo, formada por Roberto de Carvalho (guitarra), Jorge Olmar (violão), Berloque (bateria), Marcelo Salazar (percussão), Elias Mizrahi (teclas) e Jorge Carvalho (baixo), o artista passeou pelo rock progressivo, com riffs de guitarra e baterias agressivas, até o samba tradicional, tocado com cavaco e pandeiro. Tudo isso sem perder a coerência, da primeira à última faixa.
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Sobre o processo criativo dos arranjos, Roberto de Carvalho comenta, na entrevista à Revista Noize #165: “Quando entrei para o grupo, ainda fazíamos o show do primeiro disco solo do Ney [Água de Céu – Pássaro, 1975], e já começavam os ensaios para o que viria a ser o Bandido. Lembro que as músicas eram apresentadas e iam sendo tocadas pela banda até atingir o ponto certo. Tudo era muito leve e criativo”.
Selecionamos quatro estilos musicais centrais para a sonoridade de Bandido. Confira abaixo.

Rock’n’roll
Na onda do boom do rock nos anos 1970 e do pós-tropicalismo, o álbum traz faixas como “Aqui e Agora” – composição de Luhli, responsável por apresentar Ney aos Secos & Molhados. Grande parte dos arranjos das canções também flerta com o gênero, com a banda base com formação clássica de guitarra, baixo, bateria e teclados.
Bolero
Além da faixa-título “Bandido Corazón”, composta por Rita Lee especialmente para o disco, o estilo está representado em “Pa-ran-pan-pan”, de autoria do ator e compositor cubano Sergio de Karlo. O ritmo soma-se ao discurso de integração latino-americana do trabalho. Na versão não lançada de “Pra não morrer de tristeza”, a banda transforma o samba em bolero.
Samba
“Pra não morrer de tristeza” é um samba em estilo clássico, tocado com cavaquinho, composto pelo pernambucano João Silva – parceiro de composição de Luiz Gonzaga em clássicos como “Pagode Russo” – e pelo percussionista carioca K-Boclinho. Há também “Trepa no Coqueiro”, clássico de Ary Kerner, que na regravação de Ney soa com o rock progressivo que se popularizou na época.
MPB
O repertório conta com composições de nomes como Gilberto Gil (“A Gaivota”), Chico Buarque (“Mulheres de Atenas”) e Rosinha de Valença (“Usina de Prata), faixas em que os arranjos dão destaque ao violão tocado, na maioria das vezes, por Jorge Olmar, também responsável pelas violas.
