Para Rosalía, a música é uma religião. Essa devoção fica clara em Lux (2025), seu novo álbum, lançado na última sexta-feira (7/11). Depois do frenético Motomamí (2022) — que lhe rendeu quatro estatuetas no Grammy Latino — ela apresenta, novamente, uma nova faceta.
Lux tem a pegada de uma ópera. A própria capa do álbum — com Rosalía vestindo um hábito — entrega: ela não poupou referências católicas. Nesta catedral sonora, o feminino surge como uma força mística e sagrada. É uma sensação parecida com visitar uma igreja antiga e viajar pelos altares com santas.
A produção é assinada por Elliott Kozel, Jake Miller, David Rodriguez, Isaac Diskin, Dylan Wiggins e Noah Goldstein. A lista de feats continua com Bjork e Yves Tumor — que, vale destacar, brilham na faixa “Berghain”, Estrella Morente, Sílvia Pérez Cruz, Carminho, e a banda mexicana Yahritza y Su Esencia.
Ame ou odeie, Lux é o assunto do momento. Mais contemplativo, mas nem por isso menos magnético. Rosalía sabe que está desafiando seu público — com canções em 13 idiomas e referências bíblicas, é justamente essa ousadia que torna a empreitada artística tão singular.
O próprio perfil da artista se mostra fiel a sua inventividade e sua pesquisa no campo musical. Sua discografia completa traz a estreia com Los Ángeles (2017), El Mal Querer (2018) — simplesmente o TCC que a cantora apresentou na Escola Superior de Música da Catalunha —, e Motomami.
Sonoramente, Rosalía já percorreu o flamenco, o reggaeton e os ritmos caribenhos, até por isso, poucos imaginavam que ela se aventuraria agora pela música clássica. Neste encontro fantástico entre ópera e pop, Rosalía funde a intensidade lírica ao profano e reafirma seu lugar como uma das artistas mais visionárias da música contemporânea.
A Noize listou seis curiosidades sobre Lux. Dê o play e confira abaixo:
Faixas exclusivas
Na versão digital, Lux conta com 15 faixas e 49 minutos de duração, mas os fãs de mídia física ganham um agrado: as versões em LP e CD contam com mais três faixas exclusivas: “Novia Robot”, “Focu’ranni” e “Jeanne”. Em entrevista à Dazed, Noah Gillion, fotógrafo responsável pela capa, revelou que o encarte traz 80 fotos que ajudam a amarrar o conceito do álbum. Recentemente, Rosalía deu um gostinho do seu vinil em um post do Instagram.
Liturgia pop
Desde a capa, Rosalía escancara referências católicas no disco. Para o processo de composição, a artista embarcou na Teologia e nas hagiografias (biografias de santos). “Me inspirei na história de mulheres devotas. É um disco sobre o misticismo feminino, estou há três anos focada nisso”, declarou em entrevista ao podcast do New York Times. A narrativa do álbum trabalha a dualidade entre sagrado/profano e a exaltação do feminino.
Canto lírico
Lux é a ponte para diferentes universos sonoros. A começar pela música clássica, que ela evoca com maestria com seu canto lírico e a contribuição da Orquestra Sinfônica de Londres, sob a regência de Daníel Bjarnason, em participação que permeia o disco.
“Lux é diferente de tudo em que já trabalhei. Rosalía se envolveu em todo o processo de gravação com a orquestra e realmente sentiu cada nota que estava sendo tocada. Ela tem uma forte intuição e senso do que quer, mas ao mesmo tempo é muito aberta a novas ideias e experimentações”, comentou o maestro, em entrevista a Dazed.
Além da música clássica, Lux também tem flamenco — estilo que ela estudou a fundo na faculdade de música — e eletrônico, num bem-amarrado álbum de art pop. “Minha irmã diz que minha música não é pop, mas eu sou”, declarou ao NYT.
Experimento poliglota
As letras trazem nada menos que 13 idiomas: espanhol, catalão, inglês, francês, latim, japonês, alemão, ucraiano, árabe, português, hebraico, italiano, siciliano e mandarim, frutos de um ano de estudo da cantora.
No mesmo podcast, ela contou que começava as traduções com o Google Tradutor e, em seguida, as confirmava com professores. Em “Porcelana”, por exemplo, Rosalía traz versos em inglês, espanhol, mandarim e latim.
A cantora Carminho canta em português na faixa “Memória” – “Ofereci uma canção, e ela gostou tanto que quis ficar pro disco dela”, disse Carminho a uma rádio em Lisboa. “Colaborar com quem a gente admira é uma benção”.
Aliança preciosa
Além de Carminho, há participações como a das espanholas Estrella Morente e Sílvia Pérez Cruz, o coro da Escolanía en la Abadía de Montserrat e os mexicanos Yahritza y Su Esencia. Destaque para participação de Björk e Yves Tumor no single “Berghain”.
Evocando Patti
Rosalía revelou que Björk e Patti Smith são suas grandes inspirações. Enquanto a primeira divide um feat, Patti foi homenageada com um sample em “La Yugular”. No trecho, retirado de uma entrevista de Patti Smith de 1976, ela diz:
“Sete céus? Grande coisa… Eu quero ver o oitavo céu. O décimo céu. O milésimo céu. Sabe… é como atravessar para o outro lado. É como passar por uma porta. Uma porta não é suficiente. Um milhão de portas não são suficientes”. “Conhecer Patti foi uma das coisas mais lindas que me aconteceram”, declarou Rosalía, em entrevista à BBC.