A música ganha efeito sinestésico tendo um disco em mãos. Sabe aquele disco que você garimpa em um sebo e vem com algum desenho feito à caneta, uma anotação, uma dedicatória? São características que, a princípio, poderiam desvalorizar o vinil, mas acabam tornando-o único.
Pois a fotógrafa Dominique Russell e o pai, Kevan Russell, da loja de discos londrina Crazy Beat Records, decidiram reunir algumas dessas capas customizadas que chegavam no estoque da loja. O projeto virou o photobook Sleeve Notes, com 150 capas de discos personalizadas por fãs, produzidas entre 1950 a 2000, publicado pela editora CentreCentre.
Kevan trabalhava na loja, localizada na cidade de Essex, na Inglaterra. Comprando discos de segunda mão, percebeu os tesouros escondidos nas capas — colagens, ilustrações e pinturas de ouvintes que personalizam a parte interna do disco, tornando-as únicas. Passou a coletar esse material ao longo de 50 anos. Depois sua filha, Dominique, entrou para documentar.
Em entrevista a Vice, Dominque conta do projeto e de sua relação com a música: “Passei grande parte da minha infância sentado no chão de lojas de discos enquanto ele examinava cada caixa. Gradualmente, comecei a me interessar por música por meio dele”, diz ela.
Quando o pai trouxe para casa discos do Sex Pistols e T-Rex desenhadas à mão, Dominique se encantou pelo trabalho e passaram a juntar outras capas do tipo. “Havia um que tinha uma lista de compras escrita na capa, e outro em que alguém havia escrito “Acorde-me às 10 horas, por favor”. Eu gostava de imaginar as histórias por trás deles”, conta.
“Papai começou a colocar post-its neles antes de entregá-los a mim, com pequenas teorias sobre o que ele achava que poderia ser a história por trás deles. Se as pessoas quisessem esconder algo de alguém, uma capa de disco era um bom lugar para isso”, finaliza.
Nas redes sociais, alguns clipes do livro mostram os álbuns que entraram na coletânea, como Highway 61 (1965), de Bob Dylan; Glad I Waited Just For You (1975), de Rose Marie; Super Fly (1972), de Curtis Mayfield. Teve até um fã que desenhou o David Bowie na capa do icônico Aladdin Sane (1973).
Em Sleeve Notes, cada capa se torna uma obra única. O livro ainda não está disponível no Brasil, mas pode ser adquirido pelo site da editora, confira aqui.