Stefan Sagmeister é um dos designers mais importantes do mundo. Formado na Universidade de Artes Aplicadas de Viena, ele vive desde o final dos anos 80 em Nova York, onde mantém o seu próprio escritório. Uma de suas obras mais conhecidas – e até hoje uma das mais polêmicas – é o cartaz para uma palestra do American Institute for Graphic Arts, de 1999. No trabalho, todas as informações do evento foram entalhadas no seu próprio torso.
No campo da música, Stefan Sagmeister já criou capas para as bandas Talking Heads, Rolling Stones e para os cantores David Byrne e Lou Reed. E foi justamente para conversar sobre a relação do design com a música que conversamos com Sagmeister por e-mail, na última semana.
Vale lembrar que o cara estará em Porto Alegre no próximo dia 13 de junho, para dar a palestra “Design Can Make You Happy”. No evento, realizado pela Will Meeting School e pela Agência Matriz, ele vai mostrar os seus trabalhos mais recentes e conversar sobre o seu processo criativo, que já deram a ele dois prêmios Grammy. Os ingressos podem ser adquiridos pelo hotsite www.saginpoa.com.br.
De que forma a música está inserida no seu trabalho?
Para começar, eu preciso dizer que não trabalho mais com música. Eu parei de desenhar capas de discos em 2000, quando comecei a me interessar por outras coisas. Enfim, a música parou de ter o mesmo papel na minha vida quando me aproximei dos quarenta anos de idade. Ter feito a arte do projeto Byrne/Eno, em 2008 foi uma exceção, muito porque a música era formidável. David Byrne é uma pessoa maravilhosa e eu tinha vontade de conhecer o Brian Eno também.
Mas a verdade é que eu abri o meu estúdio de design para trabalhar especialmente para a indústria da música. Eu posso dizer que trabalhei para muitas das minhas bandas favoritas e, por essa proximidade, meio que a coisa perdeu a graça para mim. Então eu mudei. Nos últimos sete anos, passei um quarto do tempo desenhando para causas sociais, um quarto para projetos pessoais, um quarto para empresas e um quarto para instituições culturais.
Que tipo de relação é preciso estabelecer com a banda antes de desenhar a capada de um disco? É importante conhecê-la a fundo e ouvir todas as suas músicas?
Nós sempre falamos das bandas e das suas músicas. De onde eles vieram, quando gravaram os discos, como foram esses processos. Inspirações, lugares e pessoas. Mas nós nunca falamos das capas. Isso é o que eu chamo de visualizar a música. É esse o trabalho do designer.
- Brian Eno & David Byrne
- David Byrne
- Lou Reed
- OK GO
- The Rolling Stones
- Talking Heads
Muito se fala em design hoje em dia. Mas parece que o mercado, principalmente o de capa de discos, sofre uma espécie de crise criativa nos últimos tempos. A fórmula que se esgotou ou falta ousadia para apostar em novas ideias?
Cerca de dez anos atrás, eu decidi minimizar os projetos relacionados à música em um quarto da minha carga de trabalho. Não porque eu previ, inteligentemente, os problemas da indústria fonográfica, mas porque eu fiquei entediado com o dia a dia. Muitas vezes, eu tratava com três clientes ao mesmo tempo e o meu limite para lidar com essa dinâmica chegou ao limite. O trabalho passou a ser superficial, para mim e para todo mundo. Foi por isso que eu decidi não aceitar mais qualquer trabalho na área e me redirecionei para outras. Não há mais essa coisa de “visualizar a música”.
Qual é o grande valor do design hoje em dia?
Se você vive em um ambiente urbano, como qualquer lugar do mundo hoje, tudo o que rodeia você é resultado do design. As roupas que você veste, os móveis da sua casa, o seu apartamento, a casa do vizinho, o parque, a rua e a própria cidade. Tudo isso pode ser projetado de um jeito bom ou de um jeito ruim. É esse o valor do design hoje em dia.
A venda de música digital é cada vez maior e a venda de discos cada vez menor. De que forma o design poderá trabalhar com a música no futuro?
A situação de agora é ruim para os artistas. Como as músicas circulam em playlists, que são compartilhados pela internet, as pessoas sequer sabem como aquela banda se veste ou como ela é chamada. Então, eles veem um cartaz de um show e não sabem se é aquela banda que eles gostam e escutam em casa. De certa forma, os clipes têm substituído um pouco o disco, no sentido de poder conhecer a banda. Mas acho que eles nunca irão substituir o que a capa de um álbum representa.
(Fotos: John Madere e Sagmeister & Walsh)