Abrindo a tour de Billy Idol, Supla reflete sobre o punk hoje e celebra 40 anos de carreira

05/11/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação/Victoria Brito, Reprodução/Instagram

05/11/2025

Há 40 anos, Supla se mantém como uma figura única na nossa cultura pop. Levando um punk-new wave para as rádios brasileiras com sua ex-banda, Tokyo — inspirado por figuras como Billy Idol e David Bowie na era Let’s Dance — ele também ficou conhecido no meio político por ser filho de Marta e Eduardo Suplicy. Na virada do milênio, continuou em pauta: fez sucesso entre adolescentes na MTV e arrebatou corações quando participou da Casa dos Artistas, do SBT (nem Silvio Santos passou imune ao charme do Papito). Até ator ele já foi: no filme Uma Escola Atrapalhada (1990), ao interpretar um aluno encrenqueiro que se envolvia com a mocinha (ninguém menos que Angélica). 

Imune a cancelamentos, Supla segue firme na mídia, ainda que com menos intensidade que antes. Aparece tomando café com Ana Maria Braga e falando sobre os projetos musicais que nunca deixou de fazer. O mais recente é Nada Foi em Vão, lançado este ano em parceria com sua banda, os Punks de Boutique.

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Esse nome, aliás, é uma provocação à alcunha que recebeu no início da carreira. Em vez de se sentir ofendido, Supla adotou o “punk de boutique” como parte da identidade — afinal, sempre foi um punk atento à moda e estética, em sintonia com as origens do movimento nas mãos de Vivienne Westwood e dos Sex Pistols.

Essa mistura de rebeldia e estilo já aparecia no primeiro clipe do Tokyo, “Humanos”, em que ele surge de cabelo descolorido (marca registrada até hoje) e um alinhado terno rosa. Quatro décadas depois, Supla volta a esse visual no clipe de “Nada Foi em Vão”.

Super-Supla

Tudo começou quando Supla assistiu a um show da turnê Let’s Dance, com um David Bowie loiro e vestido de terno. Ele tinha só 16 anos, mas já achou aquela postura no palco muito elegante. Quando estava na Tokyo, pensou que seria legal levar para o rock brasileiro essa performance, uma mistura de David Bowie com Billy Idol e Fred Astaire. Destoava um bocado dos colegas roqueiros, que se assemelhavam aos arquétipos do pós-punk britânico. Funcionou: o visual virou sua marca registrada.

No quesito figurino, ele ainda foi além: “Eu me vestia de Super Supla, que eu mesmo inventei pra mim — era tipo um Spider-Man. E eu ia no Chacrinha com essa roupa!”, lembra, em entrevista à Noize. “Eu até falei pro Andreas [Kisser] que tava no primeiro show que o Sepultura fez nos Estados Unidos… vestido de Superman [risos]. Mas eu estava tocando com minha banda, Psycho 69, e era Halloween!”.

Nada Foi em Vão reforça esse cuidado estético, mas também mostra um Supla ligado aos tópicos atuais: no disco, as letras abordam harmonização facial, inteligência artificial, tarô, fofoqueiros como Leo Dias e Choquei!, entre outras pautas que pipocam nas redes sociais todos os dias. Já o título tem um sentido mais poético, como ele mesmo explica:

Acho que, na minha trajetória, desde que comecei como profissional — e até antes disso —, tudo teve um sentido. Eu tocava bateria com uns 13, 14 anos, tinha uma banda que se chamava Os Impossíveis. Tocava em tudo quanto era bar em São Paulo, sabe? Tocava Beatles…

Aí, pensando na minha vida toda, na minha relação com a música, eu pensei: ‘Nada foi em vão.’ Achei que seria um ótimo nome pra um álbum. E não só por mim. Depois da morte do Ozzy, fiquei pensando: pô, na vida dele também, nada foi em vão. Ou na sua vida, ou na vida de qualquer pessoa. Eu não quero que minha vida passe assim, desapercebida. Quero fazer alguma coisa — nem que seja pra mim mesmo.

Nada foi em vão

O novo álbum é um olhar para a própria trajetória. Um dos destaques do disco, “Jovem Brasileiro”, parece uma continuação do hit “Charada Brasileiro”, do álbum homônimo de 2001. Mas, se na letra do passado, Supla mostrava uma típica atitude punk-combativa, se comparando ao vilão das histórias em quadrinhos, em 2025, a postura crítica ganha tom de reflexão e desesperança, como uma carta direcionada à atual geração. Ele não é mais o jovem brasileiro, mas entende os dilemas dessa fase: “Jovem brasileiro, mais um ninguém. Me diz se você lembra das Diretas Já, se está se preparando pra um futuro que não vai chegar”, canta ele, dessa vez, em terceira pessoa.

Supla ainda incluiu dois covers no disco — “Be my Baby”, do Runaways, e “Raindrops are Falling on my Head”, de Burt Bacharach. “Essa eu escutava nos Estados Unidos, ainda bem molequinho”, conta. Na releitura, a faixa ganha ares punk e um toque de Billy Idol, incluindo um riff de “Eyes Without a Face” antes do fade out. Nem isso foi em vão: hoje, Supla se prepara para abrir o show de Billy Idol em São Paulo, na turnê It’s a Nice Day To…Tour Again!, que rola no dia 08 de novembro. O britânico também passa por Curitiba (12/11) [veja ingressos aqui].

No final, Nada Foi em Vão é a celebração de uma carreira dedicada ao punk, nos mais diversos sentidos que a palavra possa abraçar. Como ele mesmo explica: “Punk, pra mim, é Punkanova. É não seguir a moda. É fazer o que você acredita e, acima de tudo, fazer para você. Os melhores trabalhos são aqueles em que o artista não se preocupa se o mercado vai abraçar ou não. Isso é o mais importante — tentar ser o mais honesto possível, dentro das condições de um sistema bem corrupto, que é o de music business.”

Leia (e ouça) Nada Foi em Vão faixa a faixa:

Lado A

“Amor kamikaze”: Clássico punk rock, refrão chiclete com um videoclipe bem divertido filmado no Japão e uma letra assinada com meu sobrinho, Teodoro Suplicy, descrevendo um amor kamikaze – você já sabe que o final vai ser um desastre!

“Fofoqueira“: Quase um rock experimental. Sem refrão, no qual faço duas vozes femininas que conversam entre si. Tem um clipe do qual aparecem os maiores fofoqueiros do Brasil como Leo Dias e Leão Lobo. É hilário!

“Você não vai me quebrar“: Música com um riff de guitarra que hipnotiza acompanhado de um baixo assombrado e uma batida pulsante e uma letra que fala sobre as pessoas que tentam te derrubar (mas não conseguem, podem até tentar, como diz a letra). Tem videoclipe em que ando a cavalo e a banda num cemitério gravado na Argentina quando a banda se apresentou por lá.

“If you Believe in Nosferatu” Música gravada em Los Angeles comigo no violão mandando sua bossa nova acompanhado por Jeff no baixo de pau e Marc, nas guitarras e teclados. Uma ‘gotha nova’, mistura de bossa nova com música gótica.

“Mama’s boy“: Rock limpo acelerado muito rápido! Com uma letra que critica um menino que só reclama da vida se colocando para baixo e gosta de se pagar de vitima.

“Queixo novo“: Um funk com uma forte crítica e sátira à inteligência artificial e harmonização artificial. Supla e a banda acreditam que você tem total liberdade de fazer o que quiser com seu corpo, mas cuidado para não exagerar.

“Valkrie“: Música meio gótica com citação ao grande compositor Wagner, clima épico!

“Médico monstro“: Som dedicado aos fãs de metal com uma letra pesada citando esses médicos criminosos que molestam suas pacientes enquanto estão anestesiadas! Um absurdo!

Lado B

“Be my baby“: Cover do clássico das Ronettes, banda que influenciou os Beatles e nesse ano nós fizemos para a revista Rolling Stone uma homenagem aos Beatles no evento “Rollingstone sessions“, que ao relembrar essas lindas canções resolvemos gravar este cover, no nosso estilo, meio parecido como fizemos no álbum anterior com a versão da música do Harry Styles “As it was”, estilo Supla e os Punks de Boutique: power punk pop! C mmon kids!

“Me encontro em você“: Um ska numa pegada anos 80 com direito a solo de saxofone e flautas voando sobre a canção. A letra é como se fosse uma sobreposição, um sentimento afetivo em cima do outro. É por isso que, no refrão, a voz tem um certo eco que traz esta sensação.

“Livre“: Música com uma clara influência nos vocais e backing vocals das Ronettes e um lindo começo de música deixando bem claro que os Punks de Boutique não estão de brincadeira! A letra é um grito de liberdade!

“Goth Girl From East LA“: Uma balada gravada em Los Angeles com sua banda americana de estúdio sobre uma garota gótica que vive na área hispânica de LA. Escutando a música dá uma sensação de estar numa bodega mexicana na California. Também tem um videoclipe (como um filme de ação filmado em East LA).

“Nada foi em vão“: Música que dá o título do álbum! Reencontra minha antiga parceira de letras Tatiana Prudencio (coautora de “Parça da Erva” e “Anarquia Life Style”). Gravada em solo americano, é uma balada que nos faz pensar muito sobre a nossa vida, os reencontros e se sentir seguro que nada foi em vão, seguindo seu coração e escutando a razão, a vida é uma inspiração!

“Rain Drops Keep Falling on my Head“: Esse é o segundo cover que fecha o álbum. Sempre me identifiquei com a linda melodia e alto astral desta canção. Vale destacar o guitarrista Henrique Cabreira, neste caso nos teclados, encerrando o vigésimo álbum.

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05/11/2025

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Damy Coelho