O cineasta americano Quentin Tarantino começou a escrever o roteiro do filme Inglorious bastards há dez anos. No mundo do cinema, povoado de astros e fofocas e no qual as informações vazam como que por encanto, ele conseguiu manter durante todo esse tempo o mais absoluto segredo sobre o seu trabalho. Somente agora o misterioso Tarantino finalizou o seu texto. Frio e sem sinais de alegria ou cansaço, revelou então do que trata esse novo filme. É, digamos assim, uma refilmagem do clássico italiano Quel maledetto trenó blindato, de Enzo Castellari, que tem como tema a Segunda Guerra Mundial. É a primeira incursão de Tarantino num drama histórico.
Uma das grandes dificuldades por ele enfrentadas foi a de se fazer compreender pelos produtores, uma vez que não abre mão do humor cínico e irreverente nem dos embates sangrentos. Tudo isso empacou as negociações que só se resolveram em meados deste ano, quando Tarantino finalmente montou um elaborado roteiro de sua história. Esses obstáculos o levaram a interromper o projeto diversas vezes para assumir outras empreitadas, como as duas versões de Kill Bill, Jackie Brown e Sin city. Além disso, ele queria Mickey Rourke para o papel principal, mas o ator já estava envolvido em outro trabalho. Mais um motivo de demora na divulgação do filme foi o nascimento dos filhos de Brad Pitt, o que obrigou o ator a atrasar em dois meses a sua ida para os sets de filmagem – e Tarantino o queria de qualquer jeito. No roteiro há passagens irônicas e de muito humor “pesado”, as quais remetem o filme ao estilo sarcástico do clássico Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick, que faz uma grande e cruel “piada” da guerra fria.
O protagonista da atual trama de Tarantino é um oficial americano que lidera uma gangue de soldados e não se cansa de repetir aos subordinados, todos os dias, o seguinte lema: “Cada homem sob o meu comando deverá me trazer 100 escalpos de oficiais nazistas.” Numa história paralela, mas não menos importante no conjunto do enredo, está uma adolescente de uma aldeia francesa que perde toda a família na guerra e foge para Paris, onde começa a trabalhar em um teatro. Essa personagem é obrigada a ciceronear um grupo de oficiais alemães num concerto promovido por Joseph Goebbels, um dos grandes carrascos de Adolf Hitler. Ela encarna a poderosa figura feminina da trama – e dar poder e força às mulheres é fato recorrente nos filmes de Tarantino. Por enquanto essa personagem deverá ser interpretada por Diane Kruger, mas ainda há rumores de que ela poderá ser substituída por Uma Thurman, musa número 1 do diretor. Já trabalharam juntos nos dois filmes Kill Bill e em Pulp Fiction.