Inspirado pelo cineasta Terrence Malick, Marcelo Segreto lança o álbum “De canção em canção”

18/09/2025

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação/Sofia Colucci

18/09/2025

Da paixão pelo filme Song to Song (2017), Marcelo Segreto lançou De canção em canção (2025), seu primeiro álbum solo. Com produção de Marcus Preto e Tó Brandileone, o disco é uma viagem pelos encontros e desencontros amorosos.

“De certa forma, as canções expressam a temática do filme ligada às constantes aproximações e distanciamentos amorosos e às mudanças sucessivas nos relacionamentos das personagens”, comenta Segreto, em entrevista à Noize.

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De canção em canção (2025) é um álbum solo, mas poderia, muito bem, ser em dupla. Das 11 faixas, seis são feats com Tiê. As canções bilíngues — cantadas em inglês e português — caminham com o conceito do disco. “Quando estava compondo, pensei em fazer uma relação metafórica entre a forma do álbum e essa oscilação entre conjunção e afastamento amoroso presente no filme”, explica ele.

“Pensei no idioma das faixas irem se transformando, de modo gradual, até chegar a canção principal – Song to Song – toda cantada em inglês”, finaliza. Outro grande parceiro de Marcelo foi Marcus Preto, que o incentivou a produzir um álbum solo lá em 2016.

“Na época, conversamos sobre o nosso encantamento por canções mais simples. Elas são bonitas por sua simplicidade e delicadeza, apenas pela relação entre uma letra, por vezes literal, sem figuras de linguagem, e uma melodia”, diz o artista.

“Essas canções escondem muitas camadas. A partir dessa conversa inicial com o Marcus, fui compondo e levando as canções para ele escutar e, a partir das suas sugestões, sempre muito sensíveis e inteligentes, fui fazendo as alterações”, finaliza ele.

Cantor e compositor, Segreto também é idealizador da Filarmônica de Pasárgada, com o grupo, lançou seis trabalhos – entre álbuns e EP’s – que são: O Hábito da Força (2012), Rádio Lixão (2014), Algorritmos (2016), América, América (2020), PSSP (2022) e Cinemúsicas (2024).

Como arranjador, Segreto trabalhou com Tom Zé em Tribunal do Feicibuqui (2013) e Vira Lata na Via Láctea (2024). Ainda traz um trabalho como acadêmico, pesquisando sobre canção popular na USP e na estruturação de um curso de composição nas escolas.

Com essa trajetória, não é exagero apontar: Marcelo Segreto respira música, e sua estreia não poderia ser diferente. Leia (e ouça) o faixa a faixa abaixo.

“Segredo”: a ideia de começar o álbum com a canção “Segredo”, além da brincadeira com o meu nome — coisa que acontece desde a 5ª série [risos] — é que ela sugere na letra uma relação amorosa que ainda não aconteceu, que está apenas nos pensamentos do eu-lírico. Para esse início do álbum — e pras suas três primeiras faixas -, pensei que seria legal escolher canções que tratassem desse momento inicial de encantamento com a chegada de um novo encontro amoroso.

“Te vou eu amar que sei”: também ligada a este encantamento surgido a partir de uma nova relação amorosa, faz uma relação com a canção “Eu sei que vou te amar”, do Tom Jobim e do Vinicius de Moraes. A letra, tratando do tema do acaso e da aleatoriedade do encontro, faz experimentações randômicas com as palavras do verso da letra do Vinicius: “Então tanto faz se eu sei que vou te amar / Então tanto faz se eu que sei vou te amar / Se faz tanto amar te que eu sei vou então”.

“De lá pra cá”: quando eu estava naquele processo, instigado pelo Marcus Preto, de compor as canções para este projeto, me veio a vontade de compor xotes. Senti que este gênero tinha tudo a ver com a nossa ideia inicial de criar canções de amor simples e delicadas, mas também um pouco mais rítmicas. Foi assim que surgiu essa canção.

“Oi e tchau”: é a primeira canção do álbum que começa a incluir versos em inglês e a contar com a voz da Tiê, que faz participação nas faixas centrais do disco. A letra retrata a temática dos encontros e desencontros a partir do diálogo entre duas vozes ou duas personagens que vivem um breve momento de conexão e, em seguida, vão se distanciando pouco a pouco: uma personagem passa pela outra e assume a melodia principal, seguindo solitária ao cantar a última estrofe da canção toda em inglês.

“Ok, ok, ok”: nessa canção, a segunda do álbum que inclui trechos em inglês, a ideia era brincar com esse mesmo tema do encontro e desencontro a partir do embate entre os dois idiomas (português e inglês), fazendo relações com as canções “She Loves You”, do John Lennon e do Paul McCartney e “It’s a long way”, do Caetano Veloso, gravada pelo compositor durante o seu exílio em Londres.

As conexões e desconexões entre as personagens são sugeridas pelos encontros entre as línguas (nas rimas ou nas repetições da palavra “ok”), pelos “quase encontros” linguísticos (“Yeah, yeah, yeah” e “Iê, iê, iê”) e pelos desencontros de dois cantores entoando letras em idiomas distintos ao mesmo tempo.

“Song to song”: essa canção, posicionada no meio do álbum, tem sua letra inteiramente em inglês, sugerindo esse maior distanciamento entre as personagens. Em referência mais direta ao filme Song to Song, também trata dessa oscilação constante entre a aproximação e o distanciamento e das sucessivas relações amorosas que nos colocam sempre no início e no fim das experiências, como num ciclo sem fim.

“London, Londres”: a partir dessa canção, o álbum passa a voltar, pouco a pouco, a ser cantando em português. O título, em referência à canção do Caetano, também gravada durante o seu período de exílio, brinca com essa ideia de retorno ou de uma distância que fica menos distante por meio da justaposição do nome da cidade em inglês (“London”) e, na sequência, em português (“Londres”).

E a participação da Tiê nessa faixa também sugere esse mesmo sentido de uma reaproximação gradual da personagem que vai chegando pouco a pouco na língua portuguesa e no espaço de um possível reencontro com a outra personagem.

“Eu e você”: essa canção também indica esse movimento de retorno representado pela passagem do inglês para o português na primeira estrofe da letra, mas um retorno não apenas da personagem… É o retorno ao começo desse ciclo infinito do encontro amoroso que sempre parte de uma aproximação inicial até o consequente distanciamento. Iniciado esse novo ciclo, é como se o álbum começasse novamente, com canções que voltam a tratar de um momento inicial de alumbramento por conta de um novo encontro.

“Sei lá”: quando eu estava organizando as canções do disco, e pensando em como reforçar a ideia de simetria do álbum, pensei em fazer uma relação entre a faixa 9 e a faixa 3, “De lá pra cá“, relação que fica mais explícita quando pensamos no refrão de “Sei lá” (“De você sei lá, lá longe, volta pra cá”).

Ambas possuem uma levada meio de xote e tratam do tema do encantamento amoroso, quase ingênuo, o que a letra de “Sei lá” explora mais ironicamente brincando com o ideal romântico por meio da referência às personagens do romance O Guarani de José de Alencar.

“Se você chegar”: da mesma maneira, pensei em fazer uma relação entre a faixa 2 e a faixa 10, com suas letras que trazem essa mesma temática de uma declaração de amor a princípio contida que, ao final, é revelada. Essa canção é dedicada ao Zeca Baleiro, fazendo uma brincadeira com a sua canção “Lenha”, e à Joana, meu primeiro amor. Comecei a compor por causa do Zeca Baleiro e talvez como forma de lidar com o sentimento que eu tinha em relação à Jô. Por isso essa singela dedicatória.

“Nunca mais”: essa canção tem um lance de talvez ser uma espécie de resumo do tema do álbum, pensando nos elementos de encontro e desencontro que há na letra. E como ela é a última do disco, ela meio que reproduz a forma simétrica do álbum na sua parte B, fazendo um eco dessa estrutura, do centro para as pontas…

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18/09/2025

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