The Town: 4 destaques do festival, do fenômeno trap ao discurso político

16/09/2025

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Por: Damy Coelho

Fotos: Divulgação/The Town

16/09/2025

O The Town rolou nos últimos finais de semana (6, 7 e 12,13 e 14/9) em São Paulo, consagrando-se como o maior festival da capital paulista. Estivemos por lá com o canal Cauê Entrevista acompanhando os shows, entrevistando as bandas e sentindo o clima geral do evento. Nos palcos, brilharam os headliners Travis Scott, Green Day, Backstreet Boys, Mariah Carey e Katy Perry, e uma variedade de atrações nacionais, incluindo Tasha & Tracie, Luísa Sonza, Jota.pê, entre muitos outros.

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O Autódromo de Interlagos recebeu um público bastante diverso, comprovando a variedade do line deste ano. Teve família de roqueiros, teve novinho fazendo roda mosh de trap, teve camisas de divas pop estilizadas, de Katy Perry a Mariah Carey

Em sua segunda edição — a primeira aconteceu em 2023 —, o The Town firmou seu conceito, mostrando que é possível amarrar diferentes estilos e grupos em um mesmo evento, assim como faz seu “irmão mais velho”, Rock In Rio (com a vantagem de não carregar um estilo musical no nome, podendo, assim, apelar para um line eclético sem maiores reclamações).

Ao longo dos dias, porém, alguns fenômenos se repetiam: por exemplo, a distância do palco The One com o principal, Skyline, pode ter impactado os shows. Atrações como Iggy Pop, Luísa Sonza e Ludmilla, que encerraram os trabalhos no The One, tocaram para um público mais enxuto, que provavelmente já se preparava para andar até o outro lado do Autódromo para ver os headliners do palco principal. 

De todo modo, o The Town entregou toda a experiência de um megafestival: atrações variadas, ativações de marca e o principal: novos artistas para o público ficar de olho e a vantagem de conhecer pessoas novas que gostam das mesmas coisas que você.

Ao longo desses dias, conversei com o Douglas Silva, que vendia cervejas no evento e me contou, orgulhoso, que conversou com a Lauryn Hill (a história até saiu na imprensa). Teve também a clássica conversa na fila do banheiro: numa delas, uma gerente de marketing me comprovou — com fotos! — já ter treinado em uma academia carioca com ninguém menos que Axl Rose.

A música é o grande motor de um festival, mas essas coisas nos fazem pensar que, para além dos shows, esses eventos são uma forma de conhecer pessoas incríveis e diversas, que talvez a gente não conheceria se não fosse pela possibilidade desse encontro coletivo. Essa é mais uma experiência do The Town que tem tudo a ver com São Paulo, cidade-sede e inspiração para o evento.

Confira 4 destaques desses dias de festival:

Trappers são os novos rockstars

No primeiro dia, os “Enzos e Valentinas” dominaram o evento. Por onde se olhava, vários grupinhos de jovens andavam entre os palcos The One e Skyline — os principais do evento, que homenageavam a arquitetura da capital paulista.

Esses jovens, que lotaram o Autódromo, foram ver atrações como Matuê, Travis Scott (o mais esperado da noite) e Don Toliver, cujo show precisou ser interrompido porque parte do público começou a pressionar a grade — quem esteve no famigerado SWU 2010, no show do Rage Against The Machine, pode imaginar o sentimento —. São coisas que só o furor da juventude e um show enérgico podem explicar. Por essas e outras, o trap é o novo rock.

Além do público jovem, o dia trap levou ao evento fãs assíduos desse som, mostrando que a escolha por tamanho destaque ao trap foi acertada.

Hoje é dia de rock (e da Independência)

No domingo, feriado da Independência, o público era bem diferente de sábado: a gen z deu lugar a turmas de millennials, casais acompanhados pelos filhos e muita — muita — gente usando camisas do Green Day, headliner do dia. Mais precisamente do álbum American Idiot (2004), provando que o disco fez um sucesso imenso por aqui, especialmente entre a geração MTV.

O cancelamento de última hora do Sex Pistols decepcionou, mas não por muito tempo, já que o festival tratou de compensar outra super atração, o Bad Religion. Entrevistamos a banda no pré-show, e o Cauê contou para eles sobre o motivo do feriado por aqui. E não é que, mais tarde, o vocalista Greg Gaffin, já no palco, saudou a nossa independência? Neste caso, não foi coincidência…

Dinho Ouro Preto, que se apresentou no cair da tarde com o Capital Inicial, fez até uma brincadeira com o troca-troca no line: disse que sua banda ensaiou um cover de Sex Pistols, mas, como eles furaram, resolveram mandar um The Clash “em protesto”. O público adorou.

O show do Capital, inclusive, mostrou que os cosmos estavam alinhados naquele dia: a banda mandou o hit “Independência” no dia da Independência, condenou a anistia e fez um show com arranjos voltados para o pós-punk dos primeiros discos, diferente da pegada acústica que eles seguiram neste 2025, ano em que o projeto da MTV celebrou 25 anos. A banda fez um show redondinho, que agradou ao público que chegou mais cedo no Autódromo. 

Destaque também para o show do Supla, que chamou os Inocentes no palco, em um show regrado da verdade atitude punk rock e combativa. Tudo a ver com a temática do dia.

Já o CPM 22 lotou o palco The One, ainda de tarde. Estava tão abarrotado que foi difícil chegar perto. A banda, que está comemorando 30 anos, botou geral para cantar seus hits, fenômeno parecido com o que aconteceu no show da Pitty no mesmo palco, horas mais tarde. Com som impecável, ela preencheu o setlist só com hits da sua carreira, mostrando que se mantém a diva rockstar de diferentes gerações.

Mas muita gente estava ali para ver o power trio de pop punk Green Day. Sem decepcionar os fãs, a banda entregou um showzão no The Town, com som impecável e mesmo formato que havia levado ao Coachella, com direito a chuva de hits.

A apresentação foi dividida em blocos com os principais discos da banda, começando pelo American Idiot. Nesse trecho mais “político”, o vocalista Billie Joe também dedicou a faixa-título à Independência do Brasil — um gesto simbólico, já que, do outro lado da cidade, manifestantes de extrema-direita protestavam com uma enorme bandeira dos Estados Unidos, evidenciando como o patriotismo pode ser seletivo. Billie Joe, Mike Dirnt e Tré Cool entenderam a cartilha direitinho, e mostraram por que se firmaram, ao longo desses anos, como uma das mais relevantes bandas de rock das últimas décadas.

Divas pop, daqui e de lá

Apesar de o domingo (14/9) ter se encerrado com o show de Katy Perry, uma das atrações mais aguardadas (ainda que ela tenha vindo ao Brasil há apenas dois anos), foi na sexta e no sábado que as divas pop ganharam maior destaque.

Na sexta, Luísa Sonza levou para o palco do The Town a estética do filme Kill Bill. O amarelo da cenografia criou a sensação de que ela estava anunciando uma nova era. Porém, o repertório foi parecido com a primeira edição do festival, em 2023. Ainda assim, entregou um show de diva pop, marcado pelo esmero que acompanha suas apresentações: gogó afinado mesmo nos tons mais altos — como na dramática “Penhasco” —, banda azeitada, um grande balé e efeitos visuais de tirar o fôlego. O set também reforçou sua habilidade em cruzar fronteiras musicais, costurando funk com pop, misturando bossa nova com “Musa do Verão”.

Mariah Carey tinha o público nas mãos no sábado. Hits de diferentes eras, fãs emocionados e trocas de figurino (de um vestido brilhante para outro) deram o tom da apresentação, mostrando por que a cantora ocupa há tanto tempo o posto de grande diva. Sua performance é mais contida do que a de outras artistas que apostam em performances acrobáticas e mirabolantes. Ainda assim, Mariah sabe como poucos manter a atenção da plateia, especialmente em hits do Emancipation Of Mimi (2005), que completa 20 anos, e Daydream (1995).

Botando geral pra dançar

O último dia de festival foi, curiosamente, um dos mais animados, mostrando que o público estava com energia de sobra para curtir o evento. Jota.pê e João Gomes abriram os trabalhos no palco The One, ainda no início da tarde, para uma plateia cheia — coisa rara entre as primeiras atrações de um festival. 

Era latente a sinergia dos amigos, que também são parceiros no Dominguinho – projeto em que eles, junto a Mestrinho, cantam versões de diferentes hits em forró. Os dois faziam brincadeiras entre si, sorriam, botaram o público pra dançar do início ao fim. Público esse que contou com presenças ilustres, como Taís Araújo, Lázaro Ramos e Paola Oliveira, que assistiram tudo da grade VIP.

Mesmo a fina garoa que caía no Autódromo não fez o público arredar o pé. João Gomes não perdeu a deixa: “Esse clima tá bom pra fazer neném”, brincou, antes de mandar o megahit “Dengo”. No fim, Jota.pê mandou “Quem é Joaum”, mostrando que a conexão entre ele e o xará que estava ao seu lado vai além das parcerias em comum. Neste dia, Jotapê contou para Cauê Paciornik que se apresentou para o maior público de sua carreira (com justiça).

Mais tarde, foi a vez de Joelma, Dona Onete, Zaynara e Gaby Amarantos assumirem a missão de botar geral para dançar. A união das duas acena para a Cop30, evento que ocorre em Belém e que também conta com apresentação das grandes estrelas locais. Não fosse isso, as divas mereceriam um espaço maior no line.

Quando a noite caía, foi a vez dos DJs tomarem conta. Dennis levantou o público que lotou o palco The One. As pessoas estavam entregues: cantavam, acendiam as lanternas e faziam até trenzinho, tudo sob o comando do mestre, direto de suas pick-ups.

A versatilidade musical, como visto, é a marca do festival — que já tem próxima edição confirmada. Seguiremos acompanhando tudo por aqui.

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16/09/2025

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Damy Coelho