Pela primeira vez, a dupla The Veronicas se apresenta no Brasil. As gêmeas australianas Lisa e Jessica Origliasso tocam no Cine Joia, em São Paulo, nesta terça-feira (26/8) e também integram o line-up da I Wanna Be Tour (30/8) (Saiba mais aqui).
Da estreia com The Secret Of The Veronicas (2005) a Gothic Summer (2024), as irmãs se tornaram ícones do pop rock para além das fronteiras da Oceania. O emo radiofônico dos anos 2000 não seria o mesmo sem os vocais carregados e as letras pessoais delas.
A discografia é composta por The Secret Of The Veronicas (2005), Hook Me Up (2007) — de onde saíram os hits “4ever” e “Untouched” — Revenge Is Sweeter Tour (2009), The Veronicas (2014), Godzilla (2021), Human (2021) e Gothic Summer (2024).
Autênticas, imprevisíveis e imperfeitas: é assim que Lisa e Jessica Origliasso definem seus modelos de infância e os ícones que querem se tornar para as novas gerações. Nem sempre foi fácil para elas, que sofreram com a especulação dos tabloides sobre suas vidas pessoais.
Especialmente Jessica, que teve a sexualidade exposta pela mídia aos 20 anos. “Enquanto ouvíamos que devíamos “deixar isso quieto”, fiz questão de ser o mais barulhenta e orgulhosa possível”, conta ela”. Em entrevista à Noize, elas falam sobre a estreia no país, empoderamento feminino e punk rock.
Meninas, essa vai ser a primeira vez de vocês no Brasil! Que lugares gostariam de conhecer em São Paulo?
JESSICA: Ai meu Deus! Nós somos “foodies”, estamos querendo conhecer a gastronomia local.
LISA: Sim, estamos precisando de recomendações [risos].
JESSICA: Sim! Se tiver alguma, compartilhe com a gente pela DM os melhores lugares para comer na cidade. E também lojas — adoramos brechós!
LISA: Olha, sou obcecada por pássaros, gosto de observar a vida dos pássaros em diversos lugares. Sei que no Brasil é incrível de ver, então, estou buscando recomendações!
Quais são as expectativas para os shows no Brasil e o que os fãs podem esperar dos shows por aqui?
JESSICA: Estaremos com energia lá em cima! Montamos uma setlist para os shows solos e outra para a I Wanna Be Tour. No solo, é dedicado para aqueles fãs mais “raiz” e na I Wanna Be Tour, vamos cantar a maior parte dos hits que temos.
Montamos shows muito divertidos, porque estamos há 20 anos esperando para ir para o Brasil. Sabemos que são os fãs mais apaixonados, todo mundo fala isso pra gente.
Estamos esperando toda a energia e paixão, e é isso que vamos entregar, também. Estamos muito animadas. Vocês têm fama de serem a plateia mais apaixonada — como artista, essa é a parte mais empolgante. Mal vejo a hora! Vamos viver nossa fantasia aí, com certeza.
Como surgiu a ideia de cantarem juntas e, ao longo dos anos, o que aprenderam sobre manter a sintonia criativa entre irmãs?
JESSICA: Começamos muito novas. Com cinco anos, já fazíamos shows para os nossos pais, com Michael Jackson e trilhas sonoras de musicais [risos]. A partir daí, começamos a compor juntas.
LISA: Foi tudo muito natural, porque crescemos juntas, passamos muito tempo juntas e dividimos a vida uma com a outra, então, começamos a escrever sobre nossas experiências e vivências. Lembro que Jessica ganhou uma guitarra de aniversário e começamos a compor.
The Secret Life of the Veronicas (2005),o álbum de estreia, foi o pontapé para uma trajetória que consolidou vocês como ícones do pop rock australiano. Nesses 20 anos de trajetória, a vida de vocês já não é mais “tão secreta”. Como é estar nos holofotes durante todo esse tempo? É mais fácil dividir esse momento com sua irmã?
JESSICA: É engraçado viver sua vida em público — isso falando fora das redes sociais, mais no sentido dos tabloides e da mídia. Pode ser algo que te isola, porque nem sempre o que está sendo mostrado reflete os fatos, sim o que estão querendo vender.
Nos últimos 20 anos, surgiram as redes sociais e foi uma forma de nos conectar com nossos fãs e encontrar nossa comunidade. Nossa trajetória na música é uma benção, então sim: ter o apoio uma da outra nessa experiência estranha que é se tornar uma pessoa pública, é essencial.
LISA: Definitivamente ajuda [risos]. Faz com que a gente se sinta menos isolada.
Se pudesse dar uma conselho para a Jessica e a Lisa de 2004, que estavam começando a carreira, o que diriam a elas?
JUNTAS: Essa pergunta é muito boa!
JESSICA: Desde o início, nós sempre confiamos em nossos instintos e sempre fizemos o que queríamos [risos]. Não sei qual conselho dar…
LISA: Olhando para trás, como um todo, estou orgulhosa de nós mesmas. Nós sempre seguimos nossos corações, sempre nos defendemos e agimos com autenticidade. E é assim desde o começo. De novo: só é assim porque sempre tivemos uma a outra.
Deve ser mais difícil para artistas solo baterem de frente com as opiniões da indústria e dos negócios. Como estamos juntas, é como se tivéssemos em um time para combate. Bom, não necessariamente para briga, mas para nos mantermos firmes em nossa autenticidade.
JESSICA: Amo que, na época, eu descoloria meu próprio cabelo. No começo, uma vez por ano, eu descoloria meu cabelo, tudo caía e eu precisava pintar de preto de novo. Então meu conselho para mim mesma seria: “vá a um cabeleireiro profissional de vez em quando” [risos].
LISA: Ah, amo a era Jessie loira. Ela [JESSICA] decidiu descolorir o cabelo sozinha pela primeira vez um dia antes de a gente filmar o clipe de “Hook Me Up”, e esse clipe me deixa feliz porque foi algo tão punk rock para a The Veronicas.
JESSICA: Quando olho para trás, em todos os nossos erros, eu não tentaria corrigir nenhum deles. Definitivamente, temos as melhores histórias.
E falando dessas histórias do início dos 20 anos, alguma que podem compartilhar?
JUNTAS: Não! [risos].
LISA: Nenhuma é apropriada [risos]. Mas foi uma boa pergunta.
JESSICA: Moramos sozinhas antes de nos mudarmos para os Estados Unidos nesses anos de formação. Éramos livres pela primeira vez, e nos conectamos com artistas incríveis. Dávamos festas na casa em que morávamos com nossas seis melhores amigas, que conhecemos em Los Angeles. Era uma comunidade de músicos. Ninguém era muito famoso, estávamos apenas dividindo nossa música.
Foi uma das experiências mais incríveis como jovens artistas, de se conectar com uma comunidade igual, também apaixonada, dividir composições uns com os outros e se apoiar. Hoje em dia, um cenário parecido acontece nas redes sociais, mas, naquela época, não existia isso. Então, as conexões aconteciam na vida real. As festas ficaram muito loucas, não lembro delas, porque, provavelmente, estava muito bêbada [risos].
Em “Perfect”, de Gothic Summer (2024), vocês cantam: “Fuck designer, start a riot. Perfect’s goin’ out of style. I was never like them. I’d rather be a fuckin’ mess than stable”. É um hino inspirador sobre ser você mesmo, que se reflete na carreira de vocês como um todo. Como vocês se sentem sendo esses ícones para mulheres ao redor do mundo?
JESSICA: Ser um modelo para alguém e lembrá-los de serem autênticos é uma grande honra. Crescendo, tivemos diversos modelos que nos inspiravam: Courtney Love, Pat Benatar e Britney Spears, especialmente mulheres na música, que eram fortes e seguras de si.
LISA: Elas eram, ao seu modo, imperfeitas. Elas eram autênticas e imprevisíveis, com performances poderosas, e era algo legal, atraente e inspirador.
JESSICA: Pegamos essa energia para o The Veronicas também. Sempre falamos que Lisa e Jessie, as compositoras, são mais tímidas e vulneráveis, mas The Veronicas é o que criamos para sermos o mais forte que pudermos ser, é nossa fantasia de empoderamento feminino. Criamos essa personalidade que nos fez virar as mulheres fortes que somos hoje. E se isso serve de influência para as pessoas, é uma grande honra, porque também tivemos isso crescendo.
E quais eram suas principais referências, que vocês olhavam e falavam: “Também quero ser assim”?
LISA: Vamos começar com o rock australiano: Skyhooks, ícone dos anos 70, muito glam-rock da época, bem teatral. Nós crescemos com muito teatro.
JESSICA: Também INXS, outra banda australiana, cheia de composições incríveis. Nós amamos teatro musical, ícones queer e diferentes gêneros musicais, de k. d. lang, Chris Isaak a The B-52s. Estou tentando pensar em outros exemplos, mas, em resumo: tudo que é camp.
LISA: David Bowie. Prince.
JESSICA: Sim! Michael Jackson, acho que artistas pop do centro-esquerda nos atraem.
Vocês adoram musicais, certo? Qual o favorito?
JUNTAS: Jesus Christ Superstar!
JESSICA: De Andrew Lloyd Webber, é o nosso favorito, de longe.
LISA: Nós queremos escrever um musical um dia.
JESSICA: Seria bem dramático [risos].
LISA: Acho que não seria baseado na nossa história, mas escreveríamos músicas de um universo totalmente diferente para criar essa história nova, esse seria o sonho. Mas se quiserem escrever um musical sobre o The Veronicas, seria ótimo, ficaríamos muito felizes em atuar [risos].
Brincadeira! Ninguém precisa fazer isso.
De Fall Out Boy a Good Charlotte, o emo ainda é um gênero, como aponta o senso comum, majoritariamente masculino. Como foi ser uma das poucas bandas femininas no mainstream emo — e o que mudou nesse cenário hoje?
JESSICA: É loucura olhar para trás e perceber que não tinham muitas mulheres no gênero. É uma honra escrever sobre a perspectiva feminina e conseguir espaço na cena com nossas histórias e sentimentos, e também a perspectiva queer, que não era mainstream antes por causa da dominância masculina.
É muito especial e estamos orgulhosas disso, mas também é incrível ver, 20 anos depois, a influência dessa cena, das pessoas que cresceram com a gente e agora são artistas que se envolveram com esse espírito. Hoje é algo mais mainstream, como Gracie Abrams, Renné App e Chappell Roan que colocaram sua vivência nos espaços comerciais. Amamos acompanhar e celebrar essas mudanças.
“Untouched” se tornou um hino da comunidade queer. Jessica, como você é para você ser um ícone para a comunidade?
JESSICA: Desde o começo, queríamos que The Veronicas fosse um espaço seguro para as pessoas conseguirem se expressar. Nós crescemos na comunidade queer, e, comigo me assumindo, muito da nossa audiência também fez o mesmo. Criamos uma comunidade.
Fomos criadas pela comunidade queer, com teatro e não me assustou e nem pareceu desconectado com o caminho que estávamos seguindo como artistas. Sempre abraçamos essa identidade, da música à moda, sempre influenciadas pela comunidade. Foi apenas uma extensão do que nós somos. Sempre foi natural para mim, mesmo quando não era algo muito falado no mainstream.
Enquanto ouvíamos que devíamos “deixar isso quieto”, fiz questão de ser o mais barulhenta e orgulhosa possível [risos]. Na época [em que se assumiu], não percebi que era algo tão corajoso de se fazer, mas, agora, reconheço isso. Agradeço por todo suporte que tive, da minha família e dos fãs, foi isso que me fez ter confiança em ser eu mesma.
E nesse vigésimo aniversário da banda, quais são os próximos passos da The Veronicas?
JESSICA: Estamos trabalhando em músicas novas
LISA: Estamos no estúdio neste exato momento [risos].
JESSICA: Não vamos desacelerar [risos]. Fazemos pausas para nos inspirar, viajamos o mundo, amamos conhecer pessoas novas, sair das nossas próprias cabeças, mas também adoramos voltar e nos expressar pela nossa música.
Sempre vamos fazer a música que gostamos de fazer porque é a nossa linguagem, é como eu e a Lisa nos conectamos uma com a outra. Reunir os sentimentos uma das outras, escrever e depois ver aquilo se tornando uma música é uma das experiências mais emocionantes que poderíamos ter na vida. É como um vício, não acho que vamos abrir mão. É como criar um mundo mágico, nós amamos!