Na próxima quarta-feira (1/10), Rachel Chinouriri desembarca no Brasil. A britânica fará apresentação única, em São Paulo (veja ingressos aqui). Em contagem regressiva para o show, a artista compartilhou com a Noize que está treinando o português para interagir com os fãs.
“Por enquanto, sei falar ‘Oi, tudo bem?’. Minha empresária é brasileira e está me ensinando, até eu chegar no Brasil, vou ter aprendido outras coisas também [risos]”, diz. A cantora, que já abriu shows para Sabrina Carpenter e Louis Tomlinson, se destaca no atual indie britânico.
Leia também: Britpop ontem e hoje: por dentro da música britânica que reverbera no Brasil
Queridinha da geração Z, mesmo com pouco tempo de carreira, Rachel construiu uma comunidade fiel — fruto de músicas que soam como páginas arrancadas do próprio diário, cheias de vulnerabilidade e identificação. Os fãs receberam o apelido carinhoso de “Darlings”, uma referência ao seu 1º single “So My Darling”, lançado em 2018.
Vale dar o play no álbum de estreia What a Devastating Turn of Events (2024) e nos EPs Mama’s Boy (2019) e Little House (2025). Seu indie pop é cheio de identidade, e ela bate de frente com a indústria racista que insiste em rotular seu trabalho R&B e soul.
Filha de imigrantes zimbabuanos, Rachel também se posicionou politicamente em diversas ocasiões. Recentemente, se apresentou no Together Palestine, show que reuniu nomes como Damon Albarn e Cat Burns, com valor 100% revertido para causa palestina.
O tom confessional, íntimo e autobiográfico é uma característica das novas divas pops, como Olivia Rodrigo, Chappell Roan e Gracie Abrams. Aos 26 anos, Rachel segue esse mesmo caminho, mas dos problemas de autoestima às questões familiares presentes no álbum de estreia, seus últimos lançamentos também passaram por uma pegada mais romântica.
Sua bio no Spotify não dá muitos detalhes. Apenas diz: “Eu canto canções que escrevo” e talvez seja isso que a torne tão especial. Em entrevista à Noize, Rachel falou sobre expectativas para o show no Brasil, saúde mental, artistas que não saem da sua playlist e ainda dá uma dica aos jovens. Leia na íntegra abaixo:
Rachel, você sabe que tem uma base de fãs aqui no Brasil. Já vimos, inclusive, você arriscando português lá no X. Quais são suas expectativas para o show aqui?
Tenho muitas expectativas, ao mesmo tempo que não tenho nenhuma [risos]. Porque sempre que eu vou esperando algo, algo diferente acontece. Acho que vai ser um show muito interativo. Pelo menos online, os fãs brasileiros interagem bastante.
Acho que o show vai ter muito barulho, muitas perguntas e também vai ter o meet and greet, que é sempre legal. Vai ser muito divertido. Aprendi algumas coisas em português, como “Tudo bem?”. Minha empresária é brasileira e está me ensinando, até eu chegar no Brasil, vou ter aprendido outras coisas também [risos].
Você já abriu shows para Sabrina Carpenter, Louis Tomlinson e Lewis Capaldi —este último, inclusive, veio de um vídeo muito engraçado que viralizou. Com quem desses podemos esperar um feat?
Todos eles! [risos]. Eu iria amar colaborar com todos eles. Eu estou em um momento bem menininha ultimamente e a Sabrina [Carpenter] está na mesma vibe, se ela quiser entrar no estúdio comigo, estou totalmente disponível! [risos].
Apesar da sua sonoridade claramente enraizada no rock alternativo e no indie pop, com fortes ecos do britpop, você ainda é frequentemente rotulada como uma artista de R&B ou soul. Como você enxerga essa categorização, especialmente considerando como artistas negros, e mulheres negras em particular, costumam ser associados automaticamente a certos gêneros musicais por conta de estereótipos?
Sinto que eu tenho uma boa experiência na indústria da música. Mas, no geral, não se trata de micro agressões, mas sim de racismo, puro e simplesmente. Quando lancei “So My Darling”, alguém me chamou de Lily Allen do hip-hop.
Se a Lily Allen cantasse “So My Darling” seria definido como hip-hop? Com certeza não, porque não é a mesma coisa. Me sinto sortuda por conseguir falar sobre esse assunto e ter pessoas me apoiando, isso me ajudou muito. Ainda assim, percebo que poucos artistas negros conseguem começar com uma base de apoio tão forte.
É muito difícil para mulheres negras entrarem na indústria; são muitos obstáculos. E ainda tem o obstáculo de falar para as pessoas que você não é uma cantora de R&B, é muito frustrante. Existe uma obrigação de cuidar para que, no futuro, nos próximos 10 ou 15 anos, seja fácil para mulheres negras entrarem nesses espaços sem esses estereótipos.
As letras dos seus álbuns e EP são muito confessionais, parece que estamos lendo seu diário. Pensando na sua experiência, e em como você dialoga com uma nova geração, qual conselho você daria aos jovens?
Saia desse celular! [risos] A internet não importa, com exceção de quem te conhece pessoal, o que os outros pensam de você não importa. Se querem te julgar pelo que encontram nas suas redes sociais, eles são idiotas. [risos]. Esse é meu conselho para os jovens. Lembrem-se de quem vocês são, não importa o que as pessoas digam, se você sabe quem você é, isso é tudo o que importa.
Tem algum lançamento vindo por aí? Quais são seus próximos passos?
Meu próximo single vai ser sobre meu namorado, ainda tenho mais coisas para dizer sobre ele [risos]. Esse lançamento finaliza o EP Little House (2025), venho retrabalhando essas músicas há um tempo. Como próximos passos, vêm por aí mais músicas sobre amor.
Meu álbum é bem depressivo, mas eu vivo minha vida de um jeito bem otimista, e eu me forço a viver desse jeito, porque é muito fácil, pelo menos para mim, cair em autossabotagem pelo bem da minha arte, e isso é errado.
Então estou conquistando espaço nesse mundo de otimismo e positividade, porque é algo bom, assim meus fãs também sabem que merecem isso. Meus “darlings” também passaram por momentos difíceis. Então, mais músicas amorosas enquanto escrevo um novo álbum.
Como vai ser o som desse próximo álbum? Como ele irá se diferenciar de What A Devastating Turn of Events (2024)?
Não posso te dizer, porque ele ainda não existe [risos]. Tenho muitas ideias, mas continuo entendendo como tudo vai se desenrolar. Sou como uma cientista maluca organizando e juntando essas ideias. Estou naquela fase que meu cérebro apita porque muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo, mas ainda não sei. Não sei! Acho que vai ficar ótimo, tenho algumas canções prontas, e vamos ver.
Em What A Devastating Turn of Events (2024) você fala sobre amor, relacionamentos e saúde mental, temas super pessoais. Como foi dar a vida a esse álbum e ver as pessoas se conectando com ele?
Fazer esse álbum foi muito terapêutico. Quando eu escrevo uma canção e canto ela, eu supero as coisas de forma mais simples, por isso escrevo sobre coisas tão profundas e pessoais. Falo sobre minha sobrinha, meus primos e muitas coisas sombrias que aconteceram na minha família, e, ao fazer isso, tirei um peso muito grande das minhas costas. São canções muito pessoais, mas, ainda assim, é lindo ver o que elas representam para outras pessoas. É curativo e fico feliz por ter me permitido ser tão vulnerável porque valeu a pena, de um jeito muito lindo.
Diversas vezes você já falou sobre sua saúde mental e o quanto a indústria da música gera ansiedade e outros sentimentos negativos. Como você vem lidando com o estresse nesse espaço?
É muito difícil. Algo que eu faço, que é um privilégio, é investir em terapia. Faço toda semana, é algo inegociável para mim, mesmo quando estou em turnê. Raramente perco uma sessão, mesmo quando sinto que não tenho nada para falar, faço de qualquer jeito.
A terapia mantém meus pés no chão e me dá paz de espírito. Eu gosto de escrever cartas para os meus fãs, esses presentes físicos são coisas muito valiosas para mim, minha linguagem do amor é “Atos de serviço”. Sou sortuda por fazer terapia e por ter uma base de fãs que me manda cartas, e que eu respondo, isso me ajuda bastante a manter a saúde mental em dia.
Para encerrar, quais são os artistas que não saem da sua playlist?
Tudo começa com Coldplay, Lady Smith, Black Mambaza e Daughter. Mas, recentemente, também tenho amado ouvir Alameda, também sou muito fã da The Marías, Fontaines D.C, Inhaler e minha rainha africana Ayra Starr. Gosto de tudo [risos].